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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Hummus: E viva a influência internacional na Alemanha

Doner Kebap é uma das comidas mais populares da Alemanha (falei sobre isso aqui), mas eu preciso confessar que me apaixonei por outra coisa. Eu já tinha comido hummus antes, mas não dei muita bola pra coisa. Vale dizer que hummus é uma pasta de grão-de-bico bem temperadinha que combina com um montão de coisas.

Então, eis que a Luiza e o Pedro, recém-chegados da Turquia, passaram uns dias aqui e resolveram trazer pra casa uma entradinha de hummus com pão sírio. Ai lascou. Virei cliente fiel do mercadinho que fica na porta do meu prédio e vende o tal do hummus e acabei ficando amiga do dono. Ai o cara - que até hoje eu não sei o nome e que fala um alemão ainda pior que o meu – é uma simpatia em pessoa e disse que bom mesmo era fazer a receita em casa.



O vizinho do mercado me explicou como fazia o treco todo... mas por via das dúvidas dei uma espiada nas receitas da internet e acabei escolhendo essa aqui. A função toda começa no dia anterior. Você precisa colocar o grão de bico de molho, como a gente faz com feijão, para cozinhar no dia seguinte.
A receita é mais ou menos essa:

Ingredientes:
1 xícara de grão de bico cozido (ou uma lata pequena, sem o líquido)
2 colheres sopa de Tahini (pasta de gergelim)
2 dentes médios de alho ou um grande picado bem pequeno
Sal, pimenta, páprica doce, cominho, suco de limão e salsinha a gosto
Azeite de oliva

Preparo:

Depois de ter deixado o grão de bico de molho na noite anterior, cozinhe as bolinhas por um hora ou até ficarem macias. Os grãos tem uma casquinha: aviso pra quem, como eu, nunca tinha preparado em casa. Você pode tirar todas elas (eu fiz isso!!!) ou não. Para quem vai usar o grão-de-bico em lata, é só escorrer. Depois de ter os grãos cozidos e macios, o preparo é bem simples. Basta colocar tudo no processador – ou no liquidificador – e ir temperando de acordo como gosto de cada um. Se a pasta ficar muito dura de bater, pode acrescentar um pouco de água (algumas colheres) ou ainda iogurte natural, como é tradição em alguns países do Oriente Médio, para chegar a uma textura de patê. Depois de pronto, acrescente a salsinha bem picada. Há quem prefira bater a salsinha junto, mas eu acho o efeito das folhinhas picadas mais bonito.

Fiz o meu bem durinho. Espia ai como ficou bonito:


Eu gosto de comer o hummus com pão sírio, aquele bem chatinho, fino, que parece uma tortilha. Mas fica bom até com pãozinho francês.

Ah, e só pra lembrar de uma passagem engraçada... no filme You don´t mess with the Zohan, uma das cenas finais (não chega a ser um spoiler! Eheeh), o personagem do Adam Sandler usa Humus pra apagar um incêndio e selar a paz entre palestinos e judeus.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sobre comida de passarinho e costumes: alguém já pensou isso antes



Quando a gente muda de país, o choque cultural é inevitável e leva um tempo até entender como tudo funciona. Se você for pra Portugal, vai sentir o choque, mesmo que a língua seja a mesma e que os costumes, muitas vezes, sejam similares ao Brasil: vai se dar conta, em um primeiro momento, das diferenças, para depois perceber as semelhanças e descobrir que por lá também se vende coxinha em qualquer padaria da esquina. Na Alemanha essa sensação de desassossego é maior, mais intensa eu diria e, mesmo pra quem come chucrute desde criancinha, o choque cultural é grande. E o que todo esse bla-bla-blá tem a ver com comida de passarinho? Eu já explico.

Quando vim pra cá com o meu marido (que na época era namorado), ele já havia morado por três anos na Alemanha e me veio com uma frase de efeito: “Aqui na Alemanha, você não precisa pensar. Alguém já pensou por você.” Na hora eu achei uma bobagem, mas descobri em pouco tempo que ele tinha toda a razão. O país inteiro é organizado de um jeito para que você não precise pensar em como fazer ou qual a melhor maneira. É só ler o manual, seguir a risca e tudo vai dar certo. Como prepara a salsicha X, Y ou Z: faz como manda a embalagem. Pão pré-cozido, deixa quanto tempo no forno? Faz exatamente igual a figurinha que funciona. E isso serve pra tudo: pra transporte, plano de saúde, pra burocracias da prefeitura, pra conta no banco, pra comida de passarinho. Viu? Cheguei ao ponto!

Eu não sou bióloga – e menos ainda “passarinhóloga” – mas não é difícil perceber que, no outono, as aves escapam da Alemanha em debandada em busca de lugares mais quentes. Como eu não posso fazer isso todos os anos, me contento com os poucos passarinhos corajosos que sobram por aqui e é costume alemão alimentar os tais bichinhos. Acho que a coisa toda é um mea-culpa! “Derrubamos as suas árvores, colhemos as suas frutas, mas agora oferecemos comidinha”. Isso é especulação minha: no geral, a Alemanha é um país bem verde!!!

Meisenknödel: comida pronta para pássaros selvagens

Assim, nessa época do ano, os supermercados ficam abarrotados de comidinhas prontas para passarinhos selvagens. Como essas bolotas feias ai da foto de cima, que se chamam Meisenknödel. O rótulo diz: Alimento complementar para pássaros selvagens: aveia, trigo, cereais, girassol, gordura e óleo de soja. A maçaroca é dura e vem dentro dessas redinhas plásticas que permitem que os passarinhos comam por entre os espaços. Uma caixinha com seis bolotas custa entre 70 centavos e 1 euro. Baratinho mesmo! Não é raro encontrar essas redinhas penduradas pelas árvores pela cidade. Além disso, é costume dar restos de pão (desde que tenha mais de uma semana, para que o fermento não esteja mais ativo). E este ano eu resolvi entrar na modinha.

Alimento para pássaros: seis bolinhas por um euro ou menos

Estamos morando agora em Berlin, já contei isso por aqui. O apartamento é no térreo e tem um terracinho particular. As paredes da casa que dão para o jardim são todas de vidro: janelões imensos, que servem também como porta para o terraço. E é por lá que eu ponho a comidinha. Improvisei um galho para pendurar as bolotas e jogo o pãozinho no chão mesmo. Assim, bye-bye solidão (o marido passa quase o dia todo fora de casa!): tenho a visita constante dos passarinhos, que ficam de estripulia no terraço. Brincam, comem e me fazem companhia. Tudo isso por 75 centavos!

Ps.: Esse post vai especialmente pra Luciane Bemfica, amiga de muitos anos, especial e amada... Afinal, "a gente se paga", pra sempre :)

sábado, 19 de novembro de 2011

Berlin tem gosto de Döner Kebab, Currywurst e macarrão chinês

Paixão berlinense: O urso, símbolo da cidade, segura uma currywurst. Quer mais típico que isso?

Se eu precisasse definir comida alemã em apenas um prato, eu diria, sem pestanejar, que o país inteiro come porco com batata. Pode ser batata cozida, frita, assada, em forma de bolinho, croquete ou do jeito que a imaginação mandar. E porco também: bife, bisteca, moído, em forma de hambúrguer ou mesmo como recheio de salsicha. Mas como no Brasil, onde feijão com arroz aparece no prato de Norte a Sul, por aqui também existem variações regionais. E neste caso, Berlin é um capítulo a parte.

A capital da Alemanha é a mais internacional de suas cidades. É também um estado: Berlin, Bremen e Hamburg são as três cidade-estados alemãs. Por aqui, tudo funciona de um jeito um pouco diferente: em uma dinâmica mais efervescente por assim dizer. E isso se reflete na comida. Passear pelas ruas de Berlin é um convite aos aromas: dos que excitam o apetite e dos que reviram o estômago.

Mas é preciso dizer que três tipos de restaurantes – em vários níveis de sofisticação e preço – estão em cada esquina. E não se trata de uma expressão: literalmente em cada quadra das zonas comerciais da cidade é possível encontrar um turco vendendo Döner Kebab, uma lojinha de salsichas cortadas em rodelas e servidas com catchup e curry (o patrimônio gastronômico de Berlin!) e algum comerciante de olhos puxados servindo macarrão frito com legumes e todas as suas variações. Nessa ordem, mesmo. Depois de quase um mês por aqui posso garantir que se vende (e se come!) mais Döner do que Currywurst em Berlin.

Currywurst: o patrimônio gastronômico de Berlin (foto de Reiner Senz, tirada daqui)

Bom, vale explicar um pouco mais sobre o tal do Döner. Trata-se do tal de churrasquinho grego, que já existe para vender em algumas cidades do Brasil. Um rolo de carne (de ovelha ou de frango) assado na vertical e fatiado finamente em lascas. A carne é servida de diversas maneiras: em um prato com arroz, cuscuz e salada; em uma caixinha com batatas fritas; em um pão sírio (aquele bem chatinho) enrolada com saladas e molhos; ou do jeito mais tradicional, em um pão redondo e meio chato (salgado como o pãozinho francês, mas geralmente com formato de pão de hambúrguer), com molho de iogurte, molho de pimenta, salada de alface, pepino, tomate, repolho branco e roxo. É tão (ou mais) tradicional que o X-salada no Brasil. E muito melhor, na minha opinião!

Döner Kebab: carne de ovelha ou frango e muita salada. Bom demais!(foto de Jonathan Groß, tirada daqui)

Em Berlin, além dos sabores tradicionais, já vi restaurantes vendendo Döner de frango com legumes: o legume é colocado entremeando a carne na hora de formar o rolo. E a forma de preparar o tal do churrascão é assunto sério por aqui. Tem até lei que regulamenta o percentual de carne moída aceito na formulação da receita. Eu ri quando encontrei isso. Mas ao menos todo mundo sabe que vai comer, no máximo, 60% de carne moída no seu sanduíche.

Döner Kebap: tem um em cada esquina, até mesmo no subterrâneo. Este ai fica em uma estação de metrô aqui perto de casa

Legislação à parte, encontramos por aqui um restaurante (bom e barato - para o padrão comida de rua!) que parece surreal: um chinês turco ou um turco chinês, se preferir (se chama Yuppis e fica aqui). Você entra e o balcão tem duas metades. Em uma ponta, um staff com traços turcos serve Döner de todas as maneiras possíveis. Na outra metade, um quarteto de asiáticos comanda os Woks. Tudo em harmonia. A única heresia está no cardápio, mas não tive coragem de pedir nem pra fazer a foto. Por 4,50 euros é possível provar um prato bem servido de macarrão chinês com legumes acompanhado de carne de Döner. É o que eu chamo de fim dos tempos gastronômico. Ou globalização. Só falta um puxadinho no lugar pra vender currywurst.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sabores da Alemanha: Suco de chucrute em caixinha

Esse é um post curtinho. Mas nem por isso merece desprezo. Pelo contrário. O assunto é tão sério que precisa de um post só pra ele. Primeiro preciso dizer que sou aberta a provar novos sabores. Não tenho quase nenhuma frescura alimentar. Dou uma chance a quase tudo e gosto de algumas coisas que muita gente tem nojinho. Gosto de dobradinha, de língua com ervilha. Já comi carne de canguru, de gambá e rã e não gostei de nenhuma delas. Comi caracol em Portugal (espia o maridão saboreando a iguaria!): esses de jardim mesmo, mas não tem muita graça. Das coisas da Alemanha, virei fã de Grünkohl (tem uma notinha sobre a couve amarga aqui), como Leberkäse, e até Silze agora desce. Também adoro Sauerkraut ou Chucrute, como o tal do repolho azedo é chamado ai no Brasil.

Mas tem uma coisa que eu já havia visto no mercado algumas vezes, embora nunca tenha tido coragem de comprar por só ter encontrado em caixinhas de um litro: suco de chucrute. Isso mesmo! Suco de caixinha assim como de maça, laranja ou abacaxi, mas sabor Sauerkraut. Desta vez achei uma embalagem mais modesta, com meio litro e resolvi investir um eurinho na brincadeira. Bom, pra quem não sabe, Sauerkraut é repolho azedo. Minha vó costumava fazer em casa: corta o repolho bem fininho, salga e coloca em um pote de barro pra coisa toda azedar e criar aquele caldinho fermentado. Então, depois de bem “podrinho”, é só comer. E é uma delícia, juro!!!! Mas ai a pegar o tal do caldinho, espremer e colocar em uma caixinha pra beber... Isso não se faz! Espia a foto ai da caixinha...


No rótulo diz que o suco é de chucrute com maçã, mas eu juro que não senti sabor de nada parecido com maçã na hora que eu provei. E só consegui tomar um golinho. A coisa é salgada, azeda e tem cheiro de peido. Sem exageros... De tudo o que eu provei na Alemanha, essa foi a experiência menos prazerosa. Fica a dica. Mas se quiser provar, assino embaixo. Tem coisas que a gente só acredita que existem (e que gosto pavoroso elas tem!) depois do primeiro copo... Prosit!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Lá e cá: impressões sobre um Brasil que poderia ser melhor

Já estou instalada em Berlin e até já recebi visita. De certa forma, isso significa estar em casa e adiciona mais uma linha ao meu repertório de não saber mais onde é meu lugar. Considerando apenas as primeiras impressões, diria que meu lugar é nesta cidade grande e cinzenta, mas ao mesmo tempo acolhedora. Mas as primeiras impressões são perigosas e esse post é pra falar exatamente disso: das primeiras impressões que tive, mas não aqui e sim quando cheguei no Brasil.

Já falei aqui das diferenças entre um e outro país e as vantagens de cada um deles. Mas preciso adicionar alguns itens que ficaram de fora da lista, esquecidos na época pelos três anos que fiquei longe dos trópicos ou pelo romantismo que nos invade com a distância. Vamos a eles, então. E depois disso, prometo que não falo mais de Brasil e volto a dedicar esse espaço às aventuras pela Nave Mãe.

Em primeiro lugar é preciso que seja dito: o Brasil é um país extremamente barulhento. Nos meus primeiros dias achei que ia ficar maluca e, volta e meia, precisava correr para o quarto, fechar a porta e ficar cinco minutos em silêncio. A regra brasileira é: você chega em casa e liga a televisão, de preferência em um volume ensurdecedor e então começa a conversar com as pessoas que estão em volta em um volume ainda mais alto. Some isso a mães aos berros com crianças, carros buzinando, ônibus com motores a diesel que parecem turbinas de avião e os malditos carros de som com propaganda até mesmo nas ruas mais pacatas e longe do centro da cidade.


Vamos somar a essa lista o problema dos brasileiros com o relógio: alô, pontualidade mandou lembranças! Eu entendo que tem trânsito, que o ônibus não funciona direito... mas eu não entendo você marcar as 10 e a pessoa chegar as 10h45 achando que está tudo perfeitamente em ordem. SMS, telefone? Oi! Ou marca mais tarde de uma vez... Meu tempo vale tanto quanto o seu! E nesse item tem ainda algo pior: a pessoa telefona, marca o compromisso – que pode ser o de ir na sua casa, sair ou uma festa –, confirma e não aparece. Alo???

Tem também quem aparece demais. Aparece sem avisar. E pode me chamar de chata a essa altura do post: se estiver sem paciência, agradeço a leitura até esse ponto e convido para voltar no próximo post, já que vou reclamar mais um pouco por aqui. Neste período de férias eu trabalhei em um jornal de Blumenau, o Santa, como colunista, durante a Oktoberfest (você pode ler as colunas aqui), mas produzia meu material de casa. Assim, mesmo em casa, eu estava trabalhando (como sempre fiz aqui na Alemanha) e, para a grande maioria do mundo, estar em casa é folga: a pessoa chega na sua casa para fazer uma visitinha espontânea e não se dá ao trabalho de perguntar se você pode recebê-la naquele momento. Quer me visitar de surpresa? Hmmmm... tá, ok. Mas liga 10 minutos antes e pergunta se eu tô de saída ou com rolos na cabeça. Juro que vou fazer o possível pra receber quem eu gosto e ainda passar um café fresco pra tomar com o visitante.

E tem a última reclamação. O Brasil é um país caro, caríssimo. Alguém pode me explicar a barbaridade que são os preços de tudo e qualquer coisa nas lojas e no supermercado? Fora as frutas (hmmm, que delícia) e a carne bovina, tudo é muito mais barato na Alemanha, mesmo em tempos de Euro carinho. Produtos da cesta básica, material de limpeza, leite, queijo, enfim... tudo. Fiquei chocada com os preços.

Além disso, paga-se muito caro e a qualidade é pouca. A diferença maior entre qualquer coisa que encontro aqui na Alemanha e no Brasil está na qualidade. E isso vale para bens duráveis ou de consumo. Vale também para os serviços, as obras, a educação. Os dois mundos não são tão diferentes, mas o diabo mora nos detalhes. Não se trata de falar mal do Brasil o post inteiro (tá, eu acho que fiz isso!), mas de mencionar as sutilezas e as lapidadas que fariam dessa terra rica, linda e cheia de alegria um lugar ainda melhor pra se viver.

E que fique claro: estou feliz e empolgada com essa Berlin cheia de encantos, mas já estou morrendo de saudades do Brasil.

Ps.: A foto que ilustra o post foi "emprestada" daqui.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pequenos detalhes que poderiam fazer Blumenau mais interessante para o turista


A saída de Blumenau foi corrida, assim como são todas as viagens... ainda mais aquelas em que se parte para vários anos. Mas enfim, aqui estou em Berlin (com n, como é o nome da cidade em alemão), como já falei no post anterior. Este, então, é o post derradeiro sobre Blumenau: fiquei devendo as impressões sobre visitar a cidade como turista. Recapitulando: Recebi uma amiga muito querida – a Rebecca – que mora em Hamburg e está fazendo um intercâmbio na USP. Saímos com a missão de conhecer a cidade. Empunhei a máquina fotográfica em plena Oktoberfest e parti. Ai vão algumas impressões, seguindo o nosso roteiro de visita.

No Museu da Família Colonial o atendimento foi muito simpático, mas a visita guiada pelo museu é uma decoreba bem chata. A explicação começa com algo do tipo: essa era a casa de fulana de tal, parente não sei das quantas do Dr. Blumenau. Ok, eu sei quem é o Dr. Blumenau (o fundador da cidade, pra quem não sabe): mas acredito que a maioria dos visitantes não faz a menor ideia de quem seja. Tem que falar isso: dizer quem era, como a cidade começou e por ai vai. Falta essa introdução. A segunda casa, recém agregada ao patrimônio, se parece muito com o que já foi visto na primeira. A terceira casa da visitação – com elementos da cultura local – é a pior: seria interessante que fossem montadas exposições temporárias um pouco mais criativas ou mesmo que o espaço fosse remodelado para abrigar o já tão discutido Museu dos Clubes de Caça e Tiro.

Várias coisas poderiam ser melhores neste museu: a entrada poderia até ser mais cara, mas o visitante deveria receber um impresso bonito sobre o museu e sobre a história da cidade, com sugestões para continuar a visita. Além disso, acho que o Vapor Blumenau deveria ser colocado no lugar onde foi a casa do Dr. Blumenau, completando o espaço. Também seria muito bacana se a cidade fizesse uma parceria com os museus da imigração de Hamburg e Bremerhaven (já dei essa sugestão pra um monte de político, mas parece que as agendas de visita à Alemanha são sempre muito ocupadas!) e agregasse ao Museu da Família Colonial as bases de dados sobre a imigração alemã. Seria bem bacana visitar o espaço e poder pesquisar sobre a história de sua própria família: um chamariz para os próprios blumenauenses.

O fim da visita é no Cemitério dos Gatos: fofo, mas confesso que fiquei com medo de ser assaltada lá no meio do mato, onde não há qualquer tipo de vigilância ou proteção. Deveria ser cercado. De lá, por “acidente”, saímos nos fundos da Fundação Cultural de Blumenau: não havia qualquer placa indicando isso e nem sugerindo as exposições do local. Encontramos uma porta aberta com a Rede Feminina de Combate ao Câncer mostrando seu trabalho: ponto para as mulheres de rosa.

Cemitério dos gatos: Bonitinho, mas a sensação é de insegurança

Do outro lado da rua visitamos o (decepcionante) museu da Cerveja. Sou completamente a favor da cobrança de ingressos que contribua com a profissionalização do espaço. Neste caso, tecnologia daria conta: separar as áreas com divisórias, oferecer um guia em áudio e terminar a visita em uma lojinha com as cervejas locais, camisetas, bonés, porta-copos e todas as tralhas que turista ama e não acha em lugar algum. Há um mini auditório por lá, com uma televisão mostrando qualquer coisa que ninguém tem paciência pra ver: por que não montar a loja nesse lugar? E, durante as festas, para quem paga uns reais a mais, por que não uma degustação de algumas bebidas locais? Eu pagaria feliz e sairia recomendando aos amigos. Do jeito que está agora, não tem qualquer razão de ser.

Museu da Cerveja: Falta profissionalizar a visita, oferecer degustação e vender produtos locais

O Mausoléu Dr. Blumenau nem merece a visita. É um espaço morto. Entramos e saímos sem nem merecer o olhar do responsável, entretido com um jogo de futebol em uma tevê sob a mesa. Quem são as pessoas que estão lá? Quando o espaço foi construído? Mais uma fez faltou um folheto bacana contando tudo isso. Além do mais, por que não aproveitar o espaço para uma exposição de fotos antigas/atuais de Blumenau? Ou como existem em várias prefeituras da Alemanha, que tal algumas maquetes bem bacanas da cidade em diferentes épocas? Aposto que o curso de Arquitetura da Furb seria parceiro em uma empreitada dessas.


Mausoléu Dr. Blumenau: maquetes, como as que as prefeituras alemãs possuem, seriam uma forma interessante de atrair mais público ao espaço

Seguindo pela rua XV, pouca informação está disponível. E ai, vale mais uma vez copiar a Alemanha – esta proposta cheguei a mandar por escrito para um montão de gente... e nada, mais uma vez. Poderia ser como Hannover: por lá, foi pintada uma linha vermelha no chão (literalmente), com números em cada ponto de interesse. Nos centros de informação turística vende-se um livreto, em várias línguas, com a mesma numeração da rua, explicando o que é cada coisa. É tão simples que parece bobo: mas funciona perfeitamente bem e funcionaria também para Blumenau. Com isso, todas as fachadas de casas históricas que estão cuidadosamente espelhadas no leito da Rua XV seriam notadas.

Linha vermelha: Em Hannover, uma linha guia os visitantes, que acompanham o trajeto com um livreto

Nesse passeio turístico, fui contando o que sabia e no fim foi bem divertido. Mas se fossemos realmente duas turistas, o pouco que levaríamos da cidade seriam fotos de suas fachadas e a farra etílica pelo centro. Nada mais. Blumenau é um destino turístico interessante, mas completamente despreparado para se exibir aos seus visitantes. Uma pena. Com investimentos pequenos – que dependem mais da boa vontade do que de dinheiro – poderia se tornar mais acolhedora e mais Rebeccas sairiam bem impressionadas e felizes depois de percorrer os poucos metros tão cheios de história (negligenciada)...

domingo, 6 de novembro de 2011

Berlin, Berlin, wir fahren nach Berlin!

Faz pouco mais de uma semana que cheguei em Berlin e, de certa forma, me sinto como se vivesse aqui há muitos anos. Chegar a uma cidade diferente, mas já conhecendo as regras do país, ajuda muito, claro. Mas Berlin – enorme e sem a beleza de contos de fada que se espera de uma cidade tipicamente alemã – conquista pela diversidade e pela forma prática que se dispõe. É uma cidade viva! Não é preciso andar muito para se encontrar o que precisa. E se precisar ir longe, o sistema de transporte coletivo é eficiente, rápido, limpo e bem organizado. Não falemos dos ônibus, pois... Já descobri que por aqui os tais não costumam ter a pontualidade de outras cidades menores.

Mas quem se importa com ônibus quando tem um livro de história de páginas abertas a cada vez que coloca o nariz para a rua? A beleza das casinhas enxaimel se torna, de certa forma, naive, com o significado das simples pedras encrustadas no chão e que redesenham a trajetória do muro. Aliás, cabe aqui uma explicação que eu sempre achei redundante, mas depois de descobrir que muita gente achava que o Muro de Berlin separava a fronteira das duas Alemanhas, prefiro pecar pelo excesso do que pela falta. O Muro de Berlin separava as metades socialista (DDR) e capitalista da cidade de Berlin na época da Alemanha dividida. As fronteiras dos então dois países não eram muradas: havia postos e controle, mas não um muro cortando o leste e oeste. O Muro cercava uma ilha capitalista encravada no coração da DDR e fazia de Berlin uma cidade recortada. Além disso, no pós-guerra, a parte capitalista era subdividida em setores que eram comandados pelos aliados: França, Inglaterra e Estados Unidos. Charlottenburg, onde vivo hoje, era a parte inglesa de Berlin.

No centro, um museu conta a história da DDR e nos supermercados da cidade, ainda estão a venda tradicionais produtos e marcas dos tempos de socialismo. Já viu o filme Adeus, Lenin? Se não, vale correr pra locadora (ou pro the Pirate Bay!) e resolver isso. Nas áreas circunvizinhas à Alexanderplatz (ou Alex, simplesmente, como chamam os berlinenses) algumas lojas se encarregam de manter viva a nostalgia do Leste: oferecem de artigos de limpeza à brinquedos, o famoso espumante Rotkäppchen (chapeuzinho vermelho!) ou mesmo a versão comunista da Nutella: Nudossi, que usa como propaganda o fato de ter 36% de avelã – disponível com muito mais facilidade nos anos de separação do que o cacau, que precisava ser importado a duras penas, por conta dos embargos econômicos.

Voltando à divisão, vale dizer que Charlottenburg é enorme e, como em toda Berlin, tudo aqui é superlativo: era o centro da antiga Berlin Ocidental. O bairro é tão grande que cabe, dentro dele, uma ilha. E logo eu, apaixonada por Florianópolis e casada com um manezinho, voltei a viver cercada de água por todos os lados. Claro que neste caso chamar a região de Mierendorffplatz de ilha é uma licença poética bem grande: são quatro braços de rio que, de certa forma, cortam a região e formam essa ilha de algumas quadras. Mas não deixa de ter seu charme.

Passear por Berlin é se sentir convidado a ficar: e é isso que fazem cerca de 30 mil novos moradores que se instalam por aqui todos os anos. É uma grande cidade meio feiosa, com 16 distritos que funcionam quase como cidades independentes e que oferecem estilos e personalidades distintas. Ainda não sei qual deles combina comigo: se Charlottenburg ou algum outro. Faz muito pouco tempo que cheguei aqui pra responder isso, mas de certa forma, já sei que não quero ir embora...

E, só pra constar, três observações:

- Berlin, em alemão é com n e prefiro usar dessa forma, embora em Português o correto seja Berlim, com m.

- Berlin, Berlin, wir Fahren nach Berlin! O título desse post é um grito de guerra das torcidas de futebol por aqui. A final da Copa da Alemanha é disputada sempre em Berlin e, dessa forma, para incentivar o time, os torcedores gritam: Berlin, Berlon, nos vamos para Berlin!!!

- A foto que ilustra esse post é do Siegessäule, uma estátua de bronze de cinco metros e cerca de 35 toneladas, erguida em 1873 para celebrar as conquistas militares da Prússia. Mas também da pra imaginar que se trata de um anjo da guarda, de olho nessa feia simpática...


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