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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Confissão



Eu já fui uma usuária, confesso. Mas nada de muito grave. Só mesmo em casa, no inverno, naqueles dias em não se sabe o que fazer para espantar o frio e o tédio. Mas eu ultrapassei o limite da vergonha. Cai no mundo e vim confessar isso aqui, neste blog.

Eu queria saber quem inventou os Crocs. Juro.  Mas não vou me dar ao trabalho de pesquisar sobre isso. Queria saber só para entender o que a pessoa estava pensando na hora que desenhou aquela coisa. Além disso, queria agradecer. Isso mesmo. Obrigada, de coração... :D

Sim... esse post só esta na categoria nonsense por ser exatamente isso: nonsense. É um desabafo de pés que desbravaram a Bélgica em três dias e terminaram em um estado semelhante ao de quem faz o caminho de Santiago de Compostela. Ou ao que eu imagino disso. No dia um, lindos tênis pretinhos, anatômicos e com palminhas XPTo para caminhadas: saldo de três bolhas. No dia seguinte, Havianas! E viva o Brasil, o verão e os novos calos, desta vez entre os dedos.

No dia três, eu confesso: já não podia por o pé no chão, nem usar chinelos e menos ainda qualquer sapato fechado. Desesperei. Me rendi e me tornei uma usuária. Três euros por uma imitação fedorenta (literalmente cheirava a químico com sabor artificial de tuti-fruti) de Crocs comprados na periferia de Bruxelas e a chance (até então inconcebível) de poder andar mais um dia inteiro. Ainda não vi as fotos, mas meu marido prometeu cortar meus pés em todas elas para não me incriminar no futuro.

Mas sou corajosa. Eu andei um dia inteirinho de Crocs em público e vim aqui confessar antes que alguém me denuncie. Prometo não repetir isso na rua. Mas já que os tais sapatos são cidadãos do mundo – da China para a Bélgica, comprados por uma brasileira que vive na Alemanha – vou ter que conceder um asilo. Mas juro, solenemente, mantê-los a salvo dos olhares do mundo e restringir seu uso aos limites da minha casa e só se for mais frio que -10. Promessa! Espero que os outros usuários do mundo me sigam nessa campanha. 

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terça-feira, 22 de maio de 2012

Na Alemanha também existe verão e faz calor, muito calor!

De longe: este é um "blog familiar" e a foto é de uma praia de nudismo

O verão chegou na Alemanha e, definitivamente, a Alemanha não sabe lidar com o verão. São seis, oito meses às vezes em que não se pode sair com apenas uma camada de roupa. Braços e pernas de fora? Esses mais raros ainda: confirmadas, com a benevolência do sol, umas quatro ou cinco semanas, sem passar muito disso. Não fica difícil imaginar, então, o quão esperados são esses dias em que a temperatura arranca vertiginosamente para além dos 25ºC. Bem isso: 25, com picos de 30 em três ou quatro dias. Se passar disso, preparem os hospitais.

Mas depois de um inverno intenso (apesar de curto) em que a temperatura bateu os -23ºC com sensação térmica de -28ºC em Berlin, não fica difícil imaginar que qualquer coisa acima dos 10ºC positivos é praia! Ok, to exagerando. Mas só depois de passar o inverno por aqui é possível entender a relação desse povo loiro e de olhos azuis com o sol.

Primeiro é preciso que se diga que dias bonitos não são regra. O clima por aqui não chega a ser cinzento como o do Reino Unido, mas eu diria que não passa de uns 10% melhor. Ao menos no Norte, onde vivi a maior parte desses quase quatro anos na terra da batata. Então, ao primeiro raio de sol, a cena se repete: pernas brancas, brancas, mas muito brancas emergem de calças dobradas e casacos viram travesseiros para uma lagarteada no primeiro gramado que se apresentar. Pode ser na universidade, no parque ou mesmo naquele gramadinho que fica ao lado do local de trabalho na pausa do almoço.

O sol por aqui é venerado e todos querem ficar ao ar livre de todas as maneiras. Andar de bicicleta? Mais do que o de costume. Mas também vale jogar freesbee, peteca, vôlei ou fazer malabares no jardim. É também a temporada dos churrasquinhos (cheios de regras) e das praias (sim! A Alemanha tem praia!) ficarem cheias.  Em Bremen eu lembro de uma regra das escolas, mas não sei se outros estados adotam: nos dias em que a temperatura passava dos 30ºC, as aulas eram suspensas. Não porque as crianças precisam aproveitar o sol ao ar livre: mas porque as salas de aula não oferecem conforto térmico adequado para temperaturas tão elevadas.

Já da pra imaginar que as escolas não são as únicas e com o calor vem também alguns probleminhas, digamos assim. Verão é sinônimo de férias e com isso de trens lotados e toda a pontualidade do serviço ferroviário germânico, imprescindível para conexões de quatro ou cinco minutos, desaparece e se transforma em um pesadelo de estações lotadas. Mas fica pior: os velozes e eficazes trens da Alemanha são super confortáveis. No inverno. No verão, prepare-se para uma sauna patrocinada pela DB: o ar condicionado não da conta de tanta gente que, além de lotar os bancos, fica empilhada nos corredores e escadas de cada vagão com malas gigantescas e fiapos de suor a correr da nuca. Pagando por isso um preço bem salgado!

E vai além. O transporte coletivo urbano na grande maioria das cidades sofre do mesmo mal. Os ônibus, principalmente. Raros têm refrigeração e, diferente do Brasil, onde um janelão ameniza o sofrimento (quando não chove!) por aqui as aberturas são minúsculas. Apenas basculantes ajudam a refrescar: isso quando abrem!

Mas a coisa toda continua. E agora vem a parte pior. Por favor, não me entenda mal nas próximas linhas: não sou anti-alemães e menos ainda uma reclamona. É uma observação cultural apenas. É que nós, brasileiros, crescidos em temperaturas próximas aos 40ºC, somos afeitos a banhos diários. Mais de um, três até e por aqui, esse último número é, em alguns casos, a média semanal de chuveiradas. Já fui xingada por tomar muito banho, juro. Então some essa prática (que no inverno não é tão perceptível) a falta de costume de usar desodorante. Coloque tudo isso dentro de um trem lotado e boa viagem. Bem vindo às férias de verão na Alemanha.

Quem pode, foge. Os próprios alemães saem correndo em direção a Palma de Mallorca. A piada aqui é que Mallorca é o 17º estado alemão: é quase como os argentinos a invadir Florianópolis ou os ingleses que tomam conta do Algarve. Já fui abordada diretamente em alemão por uma atendente de uma companhia aérea em uma escala na ilha espanhola. Por lá, senhores de papetes e meias, bermudas curtas e caras muito vermelhas desfilam com suas esposas igualmente coradas (muitas vezes com a alaranjada ajuda das câmaras de bronzeamento), usando calças brancas até as canelas: uma espécie de uniforme oficial das férias.

E para fechar, pense que tudo isso inspira uma sensação tropical, muita caipirinha (feita com açúcar mascavo, claro!) e uma força caribenha emerge da alma alemã na hora de embalar o ritmo da temporada. Este ano, Michel Teló deve tocar até furar o disco, mas em anos anteriores, já aconteceu coisa muito pior. Deixo todos vocês com o vídeo que prova isso e me despeço, pedindo desculpas antecipadas. :) 

de volta à nave mãe - desde 2008 © Ivana Ebel