Eu moro na Alemanha, mas às vezes, é como se eu morasse em uma espécie de embaixada da ONU, onde gente de todo o mundo se encontra e o que menos se escuta é alemão. Isso acontece, especialmente, quando tenho aula. Na minha turma de projeto – aqui, além da tese, você participa de um projeto coletivo de um ano - éramos, originalmente em 13 pessoas: três brasileiros, dois alemães, dois indianos e um representante da Indonésia, China, Jordânia, Bolívia, Irã e Palestina. Uns ficaram pelo caminho mas, mesmo assim, a pluralidade permaneceu. E as diferenças.
O que no primeiro mês parecia mágico e divertido, com o tempo, se transformou em um pesadelo. Assim como não se pode julgar um livro pela capa (embora eu pense que bons autores tem verba o bastante pra contratar designers competentes!), não dá pra fazer um tratado sociológico sobre o país baseado em seus representantes únicos. Entretanto, fora as particularidades de cada um – mais esperto, esforçado ou mesmo preguiçoso, briguento – dá pra arriscar algumas generalizações.
Então, se minha classe fosse “abduzida” para estudos, as conclusões dos “pesquisadores” poderia ser mais ou menos (loucas ou certas) assim:
Brasileiros: migram muito para a Alemanha e já são em maioria. Mais que os próprios alemães. São brancos. De um modo geral, as mulheres (duas na amostragem) são engajadas, ativas e participativas, mas os homens desse país parecem apresentar um certo atraso.
Alemães: são todos do sexo masculino e loiros. Tem olhos azuis, mas não possuem um padrão de comportamento. Ou são hiperativos ou simplesmente desaparecem no meio do barulho. De modo geral, amam música eletrônica e computadores brancos.
Índia: todos homens também, mas é difícil entender o que dizem, mesmo quando afirmam que se trata de inglês. Fumam muito e desaparecem com freqüência. Costumam ter problemas com avarias de produtos tecnológicos provocadas por quedas ou mau uso de eletrônicos.
Jordânia e Palestina – grupo masculino que pode ser agrupado por questões político-religiosas. São sensíveis e sempre se colocam na postura de minoria prejudicada. Por conta disso, todos os demais ajustam seus horários para respeitar suas necessidades religiosas, mesmo que eles peçam um tempo para rezar e depois não apareçam no horário combinado sem qualquer justificativa.
Indonésia e China – agrupados por questões geográficas, apresentam olhos puxados e são do sexo feminino. Não sabem dizer não, mas pior que isso: tem verdadeiro problema em aceitar não ou qualquer tipo de crítica, não importa o quão construtiva. Se agrupados com outros indivíduos, alguns podem ser brilhantes e produtivos. Em especial o grupo Indonésia tem forte relação cultural com o Brasil: tanto em palavras comuns em seu idioma, como nos ingredientes de sua cozinha tropica. Os dois grupos se julgam os inventores mundiais do “brigadeiro”.
Bolívia – indivíduo do sexo feminino já em fase reprodutiva. Acompanha um filhote, também do sexo feminino. Gentis e amigáveis, os indivíduos desse grupo mantém uma postura discreta, porém colaborativa e evitam conflitos.
Irã – curioso grupo formado por um representante do sexo feminino. Bastante fechado no início, mas colaborativo quando estimulado. Fecha-se ao defender-se, mas tem histórias curiosas pra contar quando encontra espaço.
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