No ano em que cheguei aqui, no comecinho do outono, fiquei impressionada com o colorido ouro-avermelhado as árvores. Olhava em volta encantada e perdi a conta de quantas fotos fiz para mostrar as folhas de plátanos e carvalhos pelo chão. Agora, no meu terceiro outono em terras alemãs, troquei a visão romântica por uma certa angústia: as folhas despencando e pintando o chão em novas paletas de cores significam tão somente que os dias ficam cada vez mais curtos e o frio mais intenso. É lindo ainda, mas agora dói.
As cores das folhas fizeram com que eu elegesse o outono a minha estação favorita, logo que cheguei. Então veio o inverno longo – quase infinito -, os dias de pouca luz e nenhum sol. Às vezes, a neve como recompensa: branca e linda em sua chegada, lamacenta, úmida e escorregadia nos dias que seguem. Certamente mudei minha predileção: agora, favorito mesmo é só o sol, tão raro neste quase fim da Alemanha.
O outono traz ainda o fim do horário de verão, que deixa de fazer sentido a um certo ponto, mas divide o ano entre dias longos e alegres e os meses melancólicos e depressivos. Faz menos de uma semana que isso aconteceu e sinto uma espécie de peso: é como se as nuvens cinzentas e carregadas se transformassem em um volume a ser carregado pelos próximos seis meses. E o dia curto me deixa com a sensação de ter sido roubada. Nesta época do ano, não há luz antes das 8h30 e às 17h, a noite cai sem piedade. Logo vai ficar pior: o amanhecer fica adiado para depois das 9h e a escuridão insiste em chegar antes que o relógio marque 16h. E assim vai, até que a primavera, tão esperada, devolva o verde à paisagem.
Antes disso, porém, as folhas ainda precisam terminar de cair e muitas manhãs terão o zunido dos varredores de folhas. Não é preciso nem olhar pra fora pra saber que é outono. Assim como não é preciso ver pra saber que, no inverno, os pequenos tratores vão roncar nas manhãs mais branquinhas para abrir caminho por entre a neve nas calçadas. Pra quem mora por aqui, o varrer das folhas é parte da rotina. Pra quem esta longe, pode ser curioso e por isso mesmo fiz o videozinho ai de cima (gravado de dentro da minha janela, claro, porque mesmo o outono exige casacos e sapatos fechados nem que seja só para dar uma espiadinha...).
O inverno e a falta de sol não são os culpados pela melancolia. Eu diria que em geral a melancolia vem de outros motivos e o inverno só intensifica.
ResponderExcluirEu já passei por 8 ou 9 invernos europeus ou canadenses, e ainda assim adoro o outono e não fico depressivo. Principalmente aqui em que o cair das folhas nada mais é do que o aviso de que a temporada de esqui vem aí!!
[]s
Thiago