Como falei, estou escrevendo uma coluna para o suplemento Oktoberzeitung, publicado durante a Oktoberfest de Blumenau, no Jornal de Santa Catarina. Vou publicar as colunas por aqui. Esta é a primeira. O texto original esta aqui e você também pode espiar a edição impressa (a coluna está na página 7) em um aplicativo flash aqui.
Ai vai:
Herzlich willkommen!
Blumenau é a cidade mais alemã do mundo, costumo dizer, em tom de brincadeira, para os amigos com quem convivo na Alemanha há três anos. A cidade é uma espécie de releitura do que existe no Velho Mundo. O enxaimel raras vezes é autêntico, as salsichas “alemãs” são exclusividade regional e as tiaras de flores uma interpretação bem própria do que se encontra na Alemanha: e isso faz de Blumenau e de todo o Vale um lugar tão especial. E esse espaço vai falar exatamente sobre essas “germanidades” – preservadas, copiadas ou criadas e um pouco do que existe por lá, onde Blumenau teve suas origens, e onde vivo agora.
Essa coluna nasce de uma combinação feliz: uma escapada das terras alemãs agendada cuidadosamente para outubro, a oportunidade de voltar à redação do Santa, onde escrevi as primeiras linhas como jornalista há 17 anos a vontade de falar um pouco mais dessa relação entre Blumenau e da Alemanha, minhas duas casas, e dividir isso por aqui.
Combustível da festa
A palavra chope, embora tenha ares de importada, só existe no Brasil. Na Alemanha, a Oktoberfest é movida a cerveja e tem até uma receita especial. Trata-se de um tipo de Lager chamado Märzenbier, em uma referência ao mês de março, época em que os últimos blocos de gelo estavam disponíveis para assegurar o tradicional processo de fabricação da bebida. A cerveja era estocada em cavernas, junto com blocos de gelo, para completar seu processo de fermentação. Trata-se de um tipo de cerveja tradicionalmente produzido na região da Francônia, na Bavária e até mesmo na Áustria. Oficialmente, porém, apenas a bebida produzida nos arredores de Munique pode levar o título de Oktoberfestbier.
Ein Prosit
Para os alemães, brindar é quase tão importante quanto a qualidade da cerveja. E na hora do brinde, não vale apenas tocar os copos: é preciso percorrer e cruzar o olhar com cada membro do grupo. O costume é antigo e remonta a diferentes culturas. Inicialmente, representava uma saudação aos deuses como gratidão pela bebida. Já na conflituosa Idade Média, onde envenenamentos eram artifício de conspirações, o brinde assegurava que o líquido de um copo entrasse em contato com o outro, em um gesto que traduzia confiança. Embora a razão do brinde tenha mudado, os canecos reforçados usados na Alemanha não fazem feio na hora do tim-tim: de vidro reforçado, sobrevivem às saudações mais entusiasmadas…
Cerveja quente
E tem o mito de que alemão toma cerveja quente. “Jein”, por assim dizer: Ja (sim) e Nein (não). É verdade que em boa parte do ano os termômetros não passam mesmo dos 5°C, especialmente à noite. Só isso já justificaria beber em temperatura ambiente! Mas de um modo geral, as cervejas são servidas entre zero e 6°C, dependendo do tipo, como forma de acentuar seu sabor. Ainda assim, não vai ser difícil encontrar jovens empolgados saindo do supermercado com uma caixa de cerveja e abrindo a primeira logo ainda na porta.
Água no chope
Água não, mas refrigerante sim! Na Alemanha não é raro ver alguém bebendo uma mistura de cerveja e refrigerante de limão. No norte do país, o drink é chamado de Alster ou Alsterwasser – água do Alster, literalmente, em uma referência ao rio que corta a cidade de Hamburgo. Em direção ao sul, o drink muda de nome, mas não de composição: Radler. Várias marcas já vendem a bebida pronta, engarrafada e a popularidade é grande entre as mulheres. Mas é fácil fazer em casa: basta misturar 60% de cerveja com 40% de refrigerante.
Quem pode beber?
Maioridade na Alemanha é só aos 18, mas com 16 já se pode comprar e beber cervejas. Para os vinhos e destilados – e pasme, isso inclui bombons de licor! – só apresentando a identidade para comprovar que já passou dos 18.
Diz o ditado:
“Wasser trinkt der Vierbeiner, der Mensch, der findet Bier feiner!”
Os quadrúpedes bebem água, pessoas preferem cerveja!
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