Adaptação
intercultural é assunto de pesquisas bastante sérias. Os processos são tão
comuns entre quem decide viver em outro país que podem ser praticamente medidos
e existe um gráfico para representar esse processo. É um erro pensar que isso
não vai acontecer com você: vai. E dói. Mas dá pra sobreviver. Importante é
saber que esse é um processo natural e não se desesperar.
Claro que
esse choque não é o mesmo em todos os países. Quanto mais diferente for a
cultura originária da cultura da nova casa, maior vai ser o impacto. Vale até
observar essa tabela que cria algumas referências para perceber um pouco do que
distancia uma cultura da outra e assim prever o choque.
Tipos culturais: o modelo de Lewis, publicada originalmente aqui
Brasil e Alemanha
estão em vértices opostos do triângulo, o que deixa claro que as diferenças são
marcantes. Mas na chegada a Alemanha tudo parece perfeito. A primeira fase da
vida por aqui é de lua-de-mel. Uma mistura da euforia da viagem, uma nova casa,
uma nova vida, tudo colabora para criar uma aura mágica. A burocracia
toda da chegada – fazer o registro na prefeitura, abrir conta em banco,
contratar plano de saúde, fazer a matrícula da faculdade, dar entrada no visto
– afetam o bom humor. Mas a aventura de ir ao mercado, de andar por ruas novas,
conhecer pessoas supera.
É comum
nessa hora nascer uma paixonite pelo novo país e um questionamento da própria
cultura. É um período de deslumbramento com o novo. Já vi muito brasileiro
recém-chegado com um discurso chato de negação das raízes, mas isso logo passa.
Como a maioria chega por aqui para começar as aulas entre setembro e outubro,
no chamado semestre de inverno, depois dos primeiros dois meses vem o frio e
com ele a escuridão. Esse período de tempo coincide justamente com a queda da
curva do choque-cultural e para quem vem do calor, os sentimentos acabam
potencializados.
Essa fase
tem sintomas de depressão. São aquelas noites em que a saudade aperta e a gente
deita no travesseiro se perguntando porque saiu de casa. É comum se sentir
bastante sonolento (ainda mais pelas poucas horas de luz), cansado. O esforço
mental para viver a vida em um outro idioma é bem maior e até enviar um simples
e-mail parece uma tarefa complicada. Conheço gente que entrou em períodos de
hibernação, dormindo doze horas por dia e só saindo pra comprar comida. É
preciso ficar atento e lutar contra esses sintomas. Claro que a adaptação
requer energia extra, mas não vale se trancar em casa e achar que o mundo lá
fora vai voltar a ser como na casa da mamãe.
Tempo x satisfação: a adaptação a nova cultura, publicada originalmente aqui
Essa
reclusão é mais ou menos o fundo do poço: é quando tudo no novo país irrita e
quando tentamos provar (para nós mesmos!) que a nossa cultura originária é
melhor. Embora os especialistas digam que faz parte do processo, acho que muita
gente reage (eternamente) às diferenças assim: achando que o mundo inteiro tem
que se adaptar à forma como está acostumado a fazer.
Dos três
aos seis, sete meses de Alemanha é a fase em que nada presta. Nessa hora o
importante é evitar a tentação de se juntar com outros estrangeiros para falar
mal o tempo todo dos alemães e da Alemanha. A tentação é grande, mas é preciso
lembrar que ninguém chegou aqui amarrado: todo mundo veio porque quis e pode
voltar se quiser.
Mas passada
a inquietação maior – que geralmente coincide com a chegada da Primavera,
inicia a outra fase: a dos ajustes culturais. Nessa hora, vale descobrir como
fazer feijoada sem importar nenhum ingrediente. Vale adaptar receitas locais a
um paladar mais abrasileirado, mas é importante aceitar que o mundo não vai
mudar por sua causa.
E por fim,
depois dos ajustes, vem a calmaria: a adaptação. Nessa hora – depois de um ano,
mais ou menos – as regras do novo país passam a fazer um pouco mais de sentido.
O idioma estrangeiro deixa de ser um problema maior e os dias entram em sua
rotina: o restaurante favorito, os amigos que ajudaram nas horas duras, o
parque florido, os planos para a próxima viagem...
Muito bom! Mostra quais são as fases pelas quais se passará, e que isso é normal. Com paciência e perseverança, logo a gente acha o jeito de se ajustar às situações. Obrigada pelas dicas preciosas.
ResponderExcluirIvana, adoro seu blog, cheio de informações e curiosidades.
ResponderExcluirEsse post é motivador, pois percebemos que não é somente com nós que isso acontece, mas com a grande maioria dos imigrantes e dá animo para continuar e não desistir.
Obrigada, bjs
Ivana, seu blog é muito precioso!
ResponderExcluirAcabei de tropeçar no seu delicioso post sobre feijoada (Couve de Kohrabi eu já conhecia, o resto é novidade!) e vi que tem post super didático sobre ALDI, com fotos! Vou ler tudo com calma.
Sobre choque cultural: gostei principalmente do seu estilo sóbrio de texto, sem maniqueísmo e achismo, mas com opinião, muito bem temperado..
Vou ler os outros posts!
Abraço aqui de Lüneburgo
Parabéns pelo post! Muito útil! Obrigado por compartilhar essas experiências :)
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