Esta é a última coluna publicada no Santa e tem um sabor especial: de satisfação pelo resultado, pelo retorno e de saudade antecipada por essa rotina bacana de escrever para jornal. Fiquei feliz demais com o processo, com o trabalho e com a chance de falar um pouco mais sobre esses dois mundos que agora são minha casa. Espero que os leitores do jornal e desse blog tenham gostado também e convido a todos para acompanharem os próximos passos dessa viagam aqui neste canal!!! Obrigada pela leitura e volte sempre!
Mais e menos
Blumenau encerra sua festa com sentimentos divergentes. Por um lado, respira aliviada o esvaziamento das ruas e a partida de uma horda de foliões movidos a chope. Nesse ínterim até 2012, vêm as promessas e a certeza de que a próxima Oktoberfest será ainda melhor.
E pode ser: se houver mais limpeza nos pavilhões, mais espaço para tendas ao ar livre, mais brinquedos para crianças, mais diversidade nos repertórios de música alemã, mais transporte coletivo nas madrugadas, mais controle na venda de bebidas pra menores, mais opções de comidas típicas nas barraquinhas, mais espaço para as cervejarias locais, mais diversidades nas lojas de souvenires que parecem todas iguais, mais placas de sinalização e mais preparo para receber bem o turista. Melhor se tiver menos filas, menos superlotação, menos exploração no preço dos táxis na madrugada e nos estacionamentos, menos figurantes nos desfiles oficiais, menos sertanejo e funk, menos promessas e mais ações.
Ordnung
A tradução literal de Ordnung é ordem, mas na Alemanha a palavra representa um resumo de como se vive em sociedade. Por lá todas as coisas são feitas de acordo com as regras e por isso funcionam melhor. Isso vale para todos os aspectos da vida diária.
Para cada coisa existe uma norma e cumpri-la integralmente torna a vida mais previsível. A diferença entre o Brasil e a Alemanha não é a ausência do “jeitinho”, mas a convicção de que as regras são feitas para todos e para uma sociedade melhor. E se cada um fizer a sua parte e ajudar a fiscalizar, todos vivem bem.
Mito do Trabalho
Seguir o Ordnung é o que torna a sociedade alemã eficaz. O discurso de que o blumenauense é um povo trabalhador porque herdou isso dos alemães é equivocado. Brasileiros são trabalhadores, muito mais do que a maioria dos povos europeus: aqui se trabalha mais horas, mais horas extras, mais dias e se ganha muito menos por isso. Alemães não são afeitos a tantas horas de expediente, mas as cumprem de forma eficaz.
As férias por lá são maiores também. No geral, dois dias úteis para cada mês trabalhado. E já se pode tirar férias no fim do primeiro mês. Na hora de marcar as datas, feriados e fins de semana são descontados, o que pode garantir até cinco semanas de descanso. Alemães são eficientes na execução de suas tarefas. Mas nem de longe são criativos ou têm o jogo de cintura dos brasileiros.
Espaço coletivo
Depois de um mês em Blumenau, as comparações com a Alemanha são inevitáveis, embora não tenha qualquer conclusão sobre onde é melhor viver. O povo brasileiro é mais alegre, mais espontâneo e isso torna a convivência mais agradável. Alemães são mais reservados. Comida por aqui é muito melhor: frutas em profusão e sabores marcantes. Ainda mais em Blumenau, onde é possível encontrar o melhor dos dois mundos.
No quesito estrutura, o Velho Mundo sai na frente e, além do transporte de qualidade, a sensação de segurança é o que conta mais pontos. Além disso, vive-se melhor com menos dinheiro na maioria das cidades da Alemanha do que no Brasil. Mas há um valor que deveria ser importado por Blumenau o quanto antes: a visão do espaço coletivo. Por aqui, espaços públicos são áreas que não pertencem a ninguém ou que pertencem ao governo, que tem obrigação de cuidar. Por lá, espaço público é entendido como um bem comum, por isso deve ser preservado por todos. Se mudar só isso, a diferença já vai ser grande.
Tchüss
É hora da despedida, de agradecer pela companhia aqui no Oktoberzeitung, nos dias de festa, nos desfiles pela Rua XV. Participei desde a primeira festa, sem falhar uma, por 24 edições (a menina no centro da foto ao lado sou eu aos 9 anos) e só deixei de ir à Vila Germânica nos três anos que fiquei fora. Voltar a Blumenau foi reencontrar minhas raízes. Revi amigos, fiz novos, cantei muito “Ein Prosit”, bebi chope mas, agora, o gosto que fica é de uma saudade antecipada. É hora de voltar para a Alemanha. Convido pra seguir essa aventura entre dois países pelo devoltaanavemae.blogspot.com, ou no Twitter, no @ivanaebel. Danke und auf Wiedersehen!
Diz o ditado:
Alles hat ein Ende, nur die Wurst hat zwei
Tudo tem um fim, só a salsicha tem dois
Para fechar, uma foto pela qual tenho um carinho especial. A menininha ai sou eu, em 1984, na primeira Oktoberfest, desfilando como "dama de companhia" da Rainha Hellen Budag - em uma época em que não haviam as princesas. A foto é do Mario Barbeta e faz parte do acervo do Jornal de Santa Catarina.
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