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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Alemanha passo-a-passo: como usar o transporte público de Berlim e que tickets comprar para ônibus, metrô, S-Bahn e trem



Berlim é um destino cada vez mais popular entre os brasileiros e muita gente quer saber como se virar por aqui. Já viajei bastante na vida e entre todas as cidades grandes que conheci, diria que Berlim oferece o melhor sistema de transporte coletivo. É possível locomover-se por toda a cidade 24 horas por dia, em todos os dias da semana, sem muitos segredos. Mas é preciso ficar atento: ao mesmo tempo em que as opções são muitas, não existe uma regra única sobre como proceder. Um bilhete errado implica na mesma multa de andar sem a passagem: 60 euros, sem desculpas. Esse post, então, é um manual de como usar o transporte da cidade, com sugestões das melhores opções de tickets para quem está vindo passear por aqui e quer economizar.

Dicas importantes antes de começar: assim que souber onde vai se hospedar, verifique as opções de transporte em volta, incluindo o nome dos pontos de ônibus e não apenas das opções sobre trilhos. Faça o download de uma versão off-line do mapa de transporte de Berlim no celular. Na primeira estação grande que cruzar (Alexanderplatz, Hauptbahnhof, etc) ou centro de informações turísticas, vá ao serviço ao cliente e pegue um mapa impresso do transporte da cidade (nem sempre ele está disponível nas plataformas e, em algumas, foi vandalizado e está ilegível!). Se tiver acesso à internet durante a viagem, faça o download do aplicativo da empresa de transportes BVG (disponível também em inglês). Por fim, saiba que os preços informados aqui são da data da publicação do post e podem ter sofrido alterações. Todos os preços estão em Euros.

Quem oferece o quê:

Há duas grandes empresas que operam o transporte de Berlim: a BVG, que é a companhia municipal de transporte e mantém ônibus (Bus), metrô (U-Bahn), bondes (Straßenbahn) e balsas (Fährverkehr), e a Deutsche Bahn (DB), que é a empresa federal de trem e opera os trens rápidos (S-Bahn, que é Schnellbahn) e os trens regionais intermunicipais (Regio).  A cidade é dividida em três zonas tarifárias: A, B e C. É possível comprar tickets para a zona AB, ABC ou BC. A maioria dos pontos turísticos está na zona A, mas não existe ticket individual para ela: então é preciso comprar o AB.

Ticket só vale em um sentido:

Basicamente, quem vem fazer turismo em Berlim precisa comprar o ticket AB. Cada viagem custa 2,70 e o bilhete vale por 90 minutos em uma única direção. Ou seja, não dá para ir do ponto X para Y e depois voltar de Y para X mesmo que ainda esteja dentro do prazo de validade. Isso é sério: não tem desculpa. Você pode ir de X para Y para Z e para a Cochinchina dentro da zona de validade, desde que não retorne. O ticket ABC vale 120 minutos. O mesmo ticket, dentro da zona tarifária, vale para todos os transportes, não importa a combinação: você pode começar a viagem de balsa, pegar um ônibus, trocar para um bonde, seguir até o metrô e depois trocar por um S-Bahn. Se estiver indo sempre no mesmo sentido, o bilhete continua valendo e só e carimbado uma vez.

Onde comprar:

Para usar trem regional, S-Bahn e Metrô (U-Bahn) é preciso comprar o ticket nas máquinas das plataformas. Para tickets unitários, a máquina não aceita notas de 20 euros ou superiores. Para bilhetes mais caros, as notas de 20 são aceitas, mas as de 50 não. As máquinas também aceitam pagamento em cartão de débito (rede Maestro, etc), mas cartões internacionais geralmente dão problemas. Não conte com eles como opção e tenha sempre dinheiro trocado junto.

Os tickets (sejam eles semanais ou diários) devem ser carimbados ainda na plataforma. Não se pode esquecer o carimbo! Andar com um bilhete sem carimbar é o mesmo que andar sem bilhete. Atenção: os tickets diários e semanal são carimbados uma única vez. Você carimba para dar início a validade deles, guarda na carteira e só mostra se o fiscal pedir. Tickets carimbados mais de uma vez não são válidos.

Nos bondes (Straßenbahn), que são os veículos leves sobre trilhos e cobrem boa parte da área que foi a Berlim Oriental, os tickets são vendidos dentro do transporte. As máquinas dão troco, mas a maioria só aceita moedas. Nesse caso, você compra o bilhete e não precisa carimbar. Os motoristas de ônibus também vendem tickets, mas as opções são limitadas. Os bilhetes comprados diretamente com o motorista não precisam ser carimbados. O embarque dos ônibus é, por regra, sempre pela porta da frente (embora muita gente não respeite isso!) e é obrigação do passageiro, caso já tenha o ticket, mostra-lo ao motorista. Geralmente o motorista nem olha, mas isso não significa que não exista controle randômico. Existe sim!



Que bilhete comprar:

A escolha do melhor bilhete depende de onde a pessoa vai se hospedar, quantas pessoas estão viajando juntas e quantos dias vão ficar e o que planejam visitar na cidade. Mas basicamente é assim: existem bilhetes unitários por 2,70; bilhetes vendidos em quatro unidades (recebe-se os 4 e carimba-se um cada vez que for utilizar) por 9,00. Há ainda bilhetes válidos para o dia (com direito a transporte ilimitado, em todas as direções, válido até as 3:00 do dia seguinte) por 7,00 (unitários) ou por 17,30 (para até 5 pessoas), bilhetes semanais (30,00), mensais válidos para o dia todo (81,00) e mensais válidos a partir das 10:00  (59,10) durante a semana e durante o dia todo nos finais de semana e feriados.  Os tickets mensais podem ser comprados valendo para o mês todo conforme o calendário (mesmo que o mês tenha 31 dias!) ou por 30 dias.

Para uma pessoa: Para quem for ficar até 4 dias na cidade, o negócio é comprar um ticket diário (Tageskarte) por dia. Para 5 a 7 dias, vale o da semana e por aí vai.

Para duas pessoas: A opção mais barata é comprar os tickets individuais para cada pessoa.

Para três ou mais pessoas: Caso o grupo tenha certeza de que vai fazer todos os passeios juntos, vale a pena comprar os bilhetes diários de grupo. Uma pessoa fica com o bilhete, mostra caso o fiscal pedir e informa quem está viajando com o tal ticket.

Bilhete de turista vale a pena?

Existem cartões para turistas válidos por 48h, 72h, 4, 5 ou 6 dias. Esses tickets dão desconto em algumas das principais atrações de Berlim, mas observando a lista, minha opinião sincera é de que não vale a pena, já que a maioria das atrações com desconto são secundarias e o principal de Berlim esta nas ruas ou é de graça. Eu, particularmente, não compraria, a não ser que estivesse planejando uma maratona de museus e atrações: nesse caso, vale colocar o valor do ingresso de cada uma na ponta do lápis, o valor com o desconto e ver se a coisa se paga.

Para quem é estudante e tem carteirinha internacional, o cartão de turista vale menos a pena ainda. Existe um cartão de museus de Berlim que custa 24 euros e vale para todos os museus mantidos pelo estado por três dias. Estudante paga 12 euros no cartão. Então, se somar os 12 euros mais três tickets diários, são 33 euros: o cartão de “descontos” custa 42 pelo mesmo período e vale apenas para entrar nas atrações da Ilha dos Museus.

Transporte noturno:

Nos dias de semana os transportes sobre trilhos encerram a meia-noite e meia e só voltam a funcionar depois das 4:30. Durante esses horários, a cidade é servida por uma extensa malha de linhas noturnas de ônibus, identificadas pela letra N e o número da rota. Esses ônibus seguem uma linha próxima as linhas regulares, mas atendem mais lugares. Por isso é importante saber também o nome das paradas de ônibus próximas ao local para onde se quer ir: como o ônibus para mais que os trens, é possível que exista um ponto na porta de casa. Além disso, as conexões podem ser um pouco diferentes. Vale a pena pesquisar a melhor opção na página da BVG.

Os tickets diários valem até as 3:00 do dia seguinte e isso vale para a hora que você vai desembarcar e não para a hora que está embarcando no destino inicial: ou seja, o ticket tem que valer durante todo o período que você estará dentro do transporte. Então, caso já tenha passado das 3:00, é preciso usar um novo bilhete. O esquema é o mesmo: embarque pela frente, mostrando o ticket ao motorista. Esses ônibus costumam ter as conexões asseguradas: ou seja, um espera pelo outro para que você não fique meia-hora plantado no ponto do meio da noite. O transporte é confortável, climatizado e seguro.

Bilhetes para ir do aeroporto ao Centro

Tegel (TXL): O aeroporto Tegel, que era para ter sido desativado em 2012 em função do novo aeroporto BER (que não se sabe se um dia vai ficar mesmo pronto!) funciona ativamente. Fica bem próximo ao centro da cidade e só é atendido por ônibus. Para usar esses ônibus é preciso comprar o ticket AB.

Na porta de saída do aeroporto há um guichê de informação da empresa de ônibus e as filas são 
sempre enormes. Caso você já saiba que bilhete quer comprar, há maquinas do lado de fora, sem filas. Funcionários da empresa ajudam a comprar o ticket caso tenha dúvidas. A regra de entrar pela frente nos ônibus e mostrar o ticket ao motorista vigora nessas linhas, mas 99% das pessoas não segue. Com malas, é mais cômodo entrar pelas portas central e traseira e ninguém reclama.

Schönefeld (SXF): Fica mais ou menos no fim do mundo. Bom, não é verdade, exatamente. Fica na zona C e por isso é preciso comprar o ticket ABC. Muita gente é multada por não ter o ticket da zona C, fique atento. E mais que isso: não esqueça, em hipótese alguma, de carimbar o ticket antes de entrar no trem ou no S-Bahn! As máquinas que carimbam ficam nas plataformas. Entrar sem o ticket carimbado da multa e os fiscais da linha do Schönefeld não são nada compreensivos com quem não entende o funcionamento dos transportes da cidade.

Para ir do aeroporto ao centro, as melhores opções são o trem regional (para pouco e chega rapidinho) e o S-Bahn. Consulte a tabela de horários para saber qual é a linha que vai chegar primeiro. Para os dois trens, o ticket é o mesmo ABC. Há ainda opções de ônibus para o Schönefeld, que podem ser úteis especialmente para quem precisa se deslocar durante a madrugada. O ticket também é o mesmo: ABC.

Partícula complementar da zona C:

Caso você tenha comprado o ticket do dia ou da semana para a zona AB e precise ir para algum lugar fora dessa área, basta comprar um complemento (Anschlussfahrschein) por 1,60. É preciso carimbar esse complemento antes de entrar no transporte e, caso o fiscal apareça em algum ponto já fora da zona AB, mostra-se os dois tickets (o AB e o complemento). O complemento também só vale em uma direção e só vale acompanhado do ticket principal.

Há dois destinos turísticos bem comuns na zona C: a cidade de Potsdam, capital do estado de Brandemburgo, onde fica o famoso castelo Sanssouci e o campo de concentração de Sachsenhausen. Eu recomendo as duas visitas para quem for ficar mais do que quatro dias em Berlim. Nos dois casos é preciso ter o ticket ABC ou AB + complemento do C para chegar lá. Mas atenção: esse ticket não vale para rodar dentro das cidades (as duas já não são mais Berlim) e é preciso comprar um ticket local com o motorista de ônibus para chegar até as atrações.

Bicicleta paga passagem:

Caso você esteja passeando de bicicleta e resolva levar a magrela dentro do trem para percorrer uma distância maior, saiba que ela paga uma passagem extra. Você precisa ter o seu ticket como as regras já explicadas e ainda comprar uma passagem para a bicicleta. O bilhete unitário, também válido somente em uma direção (Einzelfahrschein Fahrrad), custa 1,90. Para carregar a bicicleta no trem o dia todo, de forma ilimitada, são 4,80. Esses tickets da bicicleta também precisam ser carimbados. Há vagões para bicicletas nos trens e espaço para elas em muitos ônibus.

Ônibus turístico drop-on drop-off vale a pena?

Há duas linhas de ônibus em Berlim que percorrem praticamente o mesmo trajeto do ônibus turístico: a 100 e a 200. Eu, particularmente, detesto esses ônibus turísticos em qualquer lugar do planeta e em uma cidade com a malha de transporte tão boa como Berlim, acho um desperdício de dinheiro. Só recomendo caso alguém tenha dificuldade de locomoção ou muita preguiça de explorar.

O que pode e o que não pode

Sem ticket: Não pense em bancar o espertinho e andar sem bilhete porque o controle é apenas randômico. Se um amigo veio, não comprou bilhete e nada aconteceu, ele não foi experto: foi mau caráter. O sistema de transporte funciona com o controle randômico porque as pessoas sabem que tem um papel a cumprir. Se você não vê quase ninguém comprando bilhetes, não é porque estão viajando sem: a maioria dos moradores de Berlim tem tickets mensais ou mesmo anuais, ou seja, nem passam perto das máquinas de venda.

Bebidas alcóolicas: Nos transportes operados pela BVG é proibido beber. Nos S-Bahn e trens regionais, não. Ninguém respeita isso, mas se bater a fiscalização, pode render multa.

Comida: Comer nos transportes também não pode, mas essa é mais uma daquelas regras que berlinense nenhum respeita. No entanto, há poucos dias, um motorista expulsou um passageiro que estava comendo um Dönner Kebab e a coisa virou caso de polícia.

Idosos: Os trens e ônibus têm bancos especiais para idosos e a boa educação recomenda oferecer lugar aos mais velhos. No entanto, na Alemanha não existe preço diferenciado ou tarifa livre para os mais velhos.

Outros espaços: Há ainda espaço para bicicletas, cadeirantes e carrinhos de bebê, com bancos retráteis. Obviamente é preciso liberar essas áreas sempre que necessário.

Passe de estudante: Estudantes universitários aqui pagam um ticket semestral direto na universidade e por isso não há desconto de passagens para quem é estudante e está apenas de visita. A carteirinha internacional não é válida para comprar tickets de transporte com desconto, mas vale para museus e muitas atrações.

Segurança e riscos:

O transporte de Berlim é relativamente seguro, mas como em toda a cidade grande, existem problemas. Nas madrugadas, evite vagões muito vazios. Há casos (raros, mas existem) de violência randômica: grupos escolhem uma vítima aleatória e atacam. O problema mais comum são batedores de carteira e ladrões de celular. Há muitos casos em que a pessoa está usando o celular distraída, sentada perto da porta e que o bandido aproveita os últimos segundos em que as portas estão abertas para roubar o celular e sair correndo pela estação. Nas estações, evite ainda subir escadas rolantes com objetos de valor na mochila. Ah, e por fim, nunca compre tickets de terceiros nas plataformas: há uma grande chance de serem falsos. No mais, aproveite Berlim!!!


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Roubos, perdas e furtos na Alemanha: o que fazer


A Alemanha é um país relativamente seguro, mas isso não significa que se possa baixar a guarda. Os assaltos a mão armada são raros, mas Berlim já registra crimes dessa natureza no metro. O mais comum, no entanto, são furtos: os famosos batedores de carteira ou aquela bolsa deixada fora da vista por 30 segundos e que se vai.

Tive uma experiência bem chata este ano. Coloquei a carteira no bolso da jaqueta – coisa que não se deve fazer!!! – e até agora não sei se perdi ou se foi sorrateiramente subtraída do meu bolso. Foram poucos minutos entre eu entrar em um supermercado – e usar uma moeda para pegar um carrinho, como contei aqui – e me dar conta que estava sem ela. Perguntei para todo mundo do mercado se alguém tinha visto, incluindo funcionários e clientes, e nada. Sumiu como um raio.

Nessas horas o negócio é não perder tempo com lamentos e partir para a ação. A primeira coisa a fazer é telefonar para o banco e bloquear os cartões. Para isso, fica uma dica que vale para viagens e até para o dia-a-dia. Mande um e-mail para si mesmo com os telefones de contato dos bancos para bloqueio dos cartões. Tenha em casa os dados como número da conta, número do cartão e afins para facilitar o contato.

Depois de bloquear as contas é preciso ir até uma estação da polícia fazer um boletim de ocorrência: Anzeige. Minha experiência na delegacia do bairro Moabit foi bastante positiva. Fui atendida na hora por uma policial muito bem treinada e simpática. Ela anotou todos as informações possíveis sobre os documentos roubados e me passou um comprovante de que eu estive lá. Não se trata de uma cópia do BO como ocorre no Brasil, mas sim um código pelo qual se pode pedir informações sobre o registro. Além do BO a polícia faz um segundo bloqueio do cartão, que passa a emitir um alerta no sistema caso alguém tente usar.

Com esse documento da Polícia em mãos é possível pedir um novo cartão do banco. Algumas semanas depois recebi em casa uma carta da polícia dando satisfações da investigação do meu caso e dizendo que, infelizmente, nada foi encontrado.

Uma coisa que serviu de consolo durante a ida a delegacia foi a conversa com a policial. Ela disse que, embora seja necessário bloquear os cartões imediatamente, dificilmente os ladrões estão interessados nele. O que querem é mesmo dinheiro em espécie e assim que limpam a carteira, jogam tudo fora.

Vale ainda, depois de uns dois ou três dias, dar uma espiada nos sites de achados e perdidos da cidade. Muita coisa pode ser consultada on-line. Em Berlim, procure no site da empresa de transportes e nos achados e perdidos da cidade. Mas ir até os postos pode dar uma certeza maior de identificar o objeto perdido.

Para os brasileiros que tiveram seu passaporte roubado/extraviado, a Embaixada disponibiliza um documento de autorização de viagem com o qual é possível retornar ao Brasil. 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Viver fora: 10 coisas que eu amo e 10 coisas que eu odeio na Alemanha:

Nem amor nem ódio: só achei a cara "azeda" da Merkel-espremedor engraçada

Depois de vários anos morando fora, fica fácil descobrir o que a gente ama ou odeia em outro país. Nos primeiros anos o deslumbramento borra a avaliação, mas quando chega a fase da rotina e da calmaria, fica mais fácil separar as coisas. Eu já fiz minha lista:

Amor, amor!

1 – Dias longos de verão
Acho que essa é uma das coisas que eu mais gosto por aqui. Me sinto vingada pelo inverno longo e escuro. No verão, as 5 da manhã o dia já está claro e a noite chega para valer depois das 22:00. Quer época melhor do que essa para fazer churrascos na rua, conhecer outras cidades e ter luz para fotografar até tarde? O verão na Alemanha é mágico.

2 – Flohmarket
Os mercados de pulgas são fascinantes. Vendem tudo o que a gente precisa e melhor, tudo o que a gente não precisa. Uma coleção de quinquilharias para todos os gostos, objetos usados e, no meio do caos, tendas de jovens artistas de designers vendendo suas peças diretamente para o público. Esses mercados são o único lugar da Alemanha onde se pode barganhar preços. Aliás, a pechincha é uma regra nesses casos.

3 – Jardins e parques por todos os lados
Nunca conheci outro país no mundo com tanto espaço para as pessoas. E olha que já viajei bastante. Por aqui qualquer esquina vira um parque e mesmo as áreas de maior urbanização são cheias de árvores e com banquinhos para sentar uns minutos ao sol. Em volta da minha casa em Berlim são ao menos sete parques: do gigante Tiergarten aos menorzinhos. Isso sem contar as pracinhas com brinquedos para as crianças. Em todos os lugares que morei na Alemanha, nunca estive a mais de um quilômetro de uma área verde: elas estão por todos os cantos.

4 – Transporte coletivo
Nunca precisei de carro aqui e não tenho o menor desejo de comprar um, mesmo que eles custem muito, muito menos que no Brasil. Eu simplesmente não preciso. O transporte coletivo é variado e em Berlim é especialmente eficiente. É o melhor que já usei no mundo, sem puxa-saquismo. Nunca corro para pegar um metrô: o próximo leva menos de cinco minutos. Além disso, o transporte é 24 horas todos os dias: o metrô fecha, mas os ônibus circulam a noite toda.

5 – Mercados de Natal
Sou apaixonada pelo Natal na Alemanha. É lindo demais. E quem nunca viu, não sabe o que é sentir o clima de Natal de verdade. Todas as cidades do país têm seus mercados. Em muitas, mais de um. As barraquinhas oferecem presentes, enfeites e, sobretudo, comidas típicas dessa época do ano. No ar, reina um cheiro devinho quente com especiarias e amêndoas carameladas. Nos dias de neve a coisa toda parece um conto de fadas.

6 – Segurança
Existe criminalidade na Alemanhas sim e as bicicletas que o digam. Roubo de bicicletas é muito, muito comum. Existem batedores de carteira também. Em Berlim, um crime frequente são as surras aleatórias: um grupo escolhe uma pessoa qualquer na madrugada e bate, bate muito, levando a vítima (que geralmente não tem qualquer relação com o agressor) ao hospital. Mas apesar disso tudo eu me sinto segura por aqui. Eu não preciso ficar olhando para trás a noite quando ando na rua. Posso sacar dinheiro no caixa eletrônico sem me preocupar. Uso meu celular no transporte coletivo, leio em uma tablet e não vou ser assaltada por isso na próxima esquina. Também não vou sofrer um sequestro relâmpago e ninguém vai me prender no banheiro enquanto rouba a minha casa. Essa sensação de segurança não tem preço.

7 – Correios
O Correio aqui também é um banco. Por acaso, o meu banco. Mas não é por isso que gosto. O que me deixa feliz é saber que existem concorrentes e posso escolher como enviar minhas coisas pra lá e pra cá. O serviço aqui funciona muito rápido: uma caixa de uma cidade A para B chega no dia seguinte e custa muito pouco. O sistema de entrega também é bacana: se você não está em casa, deixam a encomenda com um vizinho e um bilhete na sua caixa do correio avisando quem está com a encomenda. Além disso, você pode escolher por receber em uma estação de pacotes: recebe em casa um código e vai até a estação – que tem um monte de armários como aqueles de rodoviária –, digita os números em um computador e a porta do compartimento da sua encomenda se abre: 24 horas por dia.

8 – Ciclovias
Mesmo com o transporte coletivo impecável, ninguém precisa usar os serviços. Uma rede de ciclovia se espalha pelo país inteiro, com rotas intermunicipais e espaços para ciclistas em todas as ruas de todas as cidades. Você tem preferência quando está pedalando: os carros param para você passar. Existem normas de como pedalar, equipamentos de segurança obrigatórios e um número relativamente baixo de acidentes se comparado com o volume de ciclistas em todo o país. Uma bicicleta é um objeto fundamental na vida de quem mora nesse país e as crianças aprendem sua importância desde o momento que começam a andar. Primeiro, com bicicletas sem pedal, só para treinar o equilíbrio. E ai, com menos de três anos já estão pedalando pelas ruas também.

9 – Horários
Pontualidade é uma coisa que me comove. Eu odeio esperar, odeio gente atrasada e a Alemanha me faz feliz nesse aspecto. Eu acho que cumprir horários é uma questão de respeito: é como dizer que eu sei que seu tempo vale tanto quanto o meu. Isso por aqui é lei: todo mundo chega na hora e, quando não, avisa imediatamente que vai se atrasar cinco ou dez minutos. Mais do que isso ninguém se atrasa. Isso vale também para o horário de trabalho. É lenda dizer que os alemães trabalham muito: na verdade eles trabalham menos horas que os brasileiros, mas são muito mais focados – e por isso mais eficazes – do que nós. Quando estão no trabalho estão realmente fazendo o que tem que fazer, sem distrações e, por isso, quando termina o expediente, levantam e vão embora. Fazer horas a mais – com raras exceções – significa que você não foi eficaz o suficiente para fazer tudo o que deveria nas horas previstas.

10 – Ordnung
Esse é meu caso de amor e ódio. Falo aqui das coisas boas e depois dos aspectos negativos. Para tudo aqui existe uma regra e para viver em harmonia basta seguir o que está planejado previamente. Isso me comove e torna a vida muito mais fácil. Meu marido sempre brinca e diz que na Alemanha não se precisa pensar: é só ler o manual, porque alguém já previu a situação e pensou em uma saída pra ela. Concordo plenamente e essa organização me da uma sensação de controle muito grande sobre a vida.

11 – (Bonus track!) Silêncio
Eu nunca me dei conta do quanto aprecio o silêncio até conhece-lo de verdade. O Brasil é muito, muito barulhento: tem sempre alguém berrando, um carro buzinando, um vizinho ouvindo uma música horrorosa em um volume que perturba o bairro inteiro. Por aqui, barulho é sinônimo de agressão e todo mundo tenta ser o mais silencioso possível. Eu moro no centro de Berlim e cada vez que abro a minha janela, a única coisa que escuto são passarinhos. E isso acontece pelas ruas também: o canto dos passarinhos na primavera é mais alto que o som dos carros. E mais: nas casas, a televisão não fica ligada o dia inteiro, como se fosse o membro mais importante da família. Aliás, muita gente sequer tem televisão em casa e poder conversar sem disputar o volume com o aparelho já traz uma tranquilidade sem tamanho.

Ai que ódio!

1 – Tudo fecha aos domingos
Todo o sábado os supermercados se transformam em uma praça de guerra. Quem deixa pra ir depois do almoço já sabe que pode ficar sem muitos dos produtos, uma vez que não existe o padrão de repor mercadorias o tempo todo nos mercados. No domingo, nada abre. Em Berlim, a maior cidade da Alemanha, é possível contar em uma mão os mercados que trabalham. Já no interior, nenhum. Se esqueceu de um dos ingredientes da receita, o negócio é mudar o cardápio, por que não se acha.

2 – Cinema dublado
Todo o filme que passa no cinema alemão é dublado. No Brasil esse costume horroroso tem avançado e sinto uma pena imensa. Metade da atuação de alguém - ou mais!- está na voz e juro que até o Brad Pitt fica feio quando abre a boca e sai alemão. Eu amo cinema, mas vou pouco por aqui por conta da falta de opção de títulos com som original. Em Berlim a coisa é menos pior, mas no interior do país, nunca se acha.

3 – Sistema bancário
O sistema bancário alemão vive no século passado. É lerdo, muito lerdo. Depósitos não entram imediatamente na conta, transferências levam dias, pagamentos feitos com cartão de débito não caem na hora. Os serviços não são tão caros, os juros não chegam nem perto dos brasileiros, mas a lentidão me chateia. A única coisa boa é que quase todos os serviços podem ser feitos pela internet e assim nunca preciso enfrentar as filas da agência.

4 – Furadores de fila
Falando em filas... Acho que furar fila é o esporte nacional favorito dos alemães. Nunca vi nada assim no mundo. Eles têm uma cara de pau sem paralelos. Chegam pela lateral e vão se enfiando até que alguém berre reclamando. Se não berrar, eles ficam. E a prática começa cedo! Outro dia estava em uma loja de rede, em um sábado (nunca faça isso!) esperando para provar umas roupas. Uma adolescente veio pelo lado e foi se enfiando, entrando pelo corredor para “ver se todos os provadores estavam mesmo ocupados”. Soltei a brasileira que vive comportada dentro de mim e mandei a fulana para o fim da fila perguntando se a mãe dela não tinha dado educação. Depois pensei que a mãe dela deveria estar, naquele momento, tentando furar a fila de um caixa de supermercado.

5 – Gema
Leia Guêma. É o Ecad da Alemanha e eles aparecem na sua vida a todo o momento. Sabe porquê? Por que cada vídeo do Youtube precisa ser liberado por eles através de um acordo com a gravadora. Então, 80% de todos os vídeos que meus amigos compartilham nas redes sociais... tchã! Não consigo ver. Claro que sempre tem como dar um jeitinho, mas vai que alguém conta para Gema.

6- Inverno longo e escuro
O inverno aqui é quase infinito. Em setembro se começa a usar uma blusinha e a blusinha só sai do corpo depois da metade de maio. Ou seja, são pelo menos oito meses por ano com uma camada a mais de roupa. Camiseta e braços de fora, em poucos dias e raras noites. Mesmo no verão é melhor levar a tal da blusinha. Mas isso não é o pior. Que tal dias em que o sol nasce só perto das 9:00 e as 15:00 está se despedindo? Bem-vindo a Alemanha. A escuridão me deixa com a sensação de ter tido o meu dia roubado e isso me deixa mais pra baixo do que as temperaturas negativas.

7 – Televisão
Nunca fui a pessoa mais aficionada por televisão na vida, mas a tv aberta na Alemanha não é ruim: é pior. As primeiras vezes que eu liguei achei que estava vendo algum especial dos anos 80, mas depois me acostumei que a estética é assim, digamos, peculiar. Filmes antigos estão em todos os canais (dublados, claro!), seguidos de documentários mais velhos ainda, sempre sobre a guerra. Os jogos de futebol são o maior sonífero: o narrador fala duas palavras a cada cinco minutos e você acha que o som da televisão estragou. E tudo isso custa caro. Não ia me importar com a qualidade se eu não tivesse que pagar um imposto pelo serviço, mesmo que eu nunca – ou raramente! – use. São quase 18 euros por mês, obrigatórios e debitados em conta a cada três meses. E quem não paga pode ser fiscalizado e multado.

8 – Egoísmo
No Brasil tudo se partilha. Você ganha um chocolate, tem que oferecer para quem está por perto. Você compra um pacote de chiclete? Pega um e esquece do resto. Por aqui não. Ninguém oferece nada, nunca. E quando você oferece as pessoas não sabem muito o que fazer. Essa coisa do egoísmo é, na verdade, individualismo. Já vi casais (felizes e bem casados) em que cada um lava a sua própria roupa: eu acho que a tarefa é responsabilidade dos dois, mas seria menos complicado revezar de quem é a vez de lavar tudo, não acham? Outra coisa comum por aqui é a pessoa sentar no banco do trem ou do ônibus e colocar qualquer coisa para ocupar o banco do lado: uma mochila, um casaco, o que estiver à mão. Assim, quem quiser sentar tem que pedir para que o ser humano em questão remova seus pertences e vai ganhar uma olhada feia em resposta quase sempre. É normal o trem estar razoavelmente cheio e ninguém se dar ao trabalho de abordar o “dono do espaço”. Eu peço e ainda dou um sorrisinho pra cara feia.

9 – Erdnuss flips e Rumkugel     
E aí você vai na festinha dos seus amigos estudantes e quando chega lá encontra aquela bacia cheia de chips, aqueles amarelos, que passou a infância comendo. É um momento de felicidade, sempre. Um reencontro com a infância. Até encher a mão e levar os primeiros a boca. Difícil mesmo é não ter nenhum lugar por perto para cuspir. Os tais salgadinhos amarelinhos, tão iguaizinhos aos nossos, são uma fraude! Eles têm sabor artificial de amendoim. Um viva (SQN!) para quem inventou essa porcaria. E outro viva para quem teve o dom de avacalhar com a sagrada receita do brigadeiro. Por aqui existem as tais das Rumkugeln, ou seja, bolinhas de rum. Elas são exatamente iguais aos nossos brigadeiros, mas vem em caixinhas ou saquinhos, sem as forminhas. Tudo lindo até o momento de pôr na boca e sentir aquele sabor forte de álcool e um doce que nem doce sabe ser. A propósito, nesse caso existe o outro lado da moeda. Os alemães olham nossos brigadeiros e pensam: oba, Rumkugel! Gosto não se discute... E aí colocam na boca e tem uma crise diabética: a maioria detesta porque acha doce, doce, mas doce demais.

10 – Ordnung

Meu caso de amor e ódio com a Alemanha está aqui na lista também. Se por um lado é muito bom que existam regras para tudo, por outro a margem de manobra para a criatividade é muito pequena. Espontaneidade é quase proibida por aqui, já que fazer qualquer coisa sem pedir a autorização meses antes, sem avisar, sem convidar é fora da lei. E nem pense em bater na casa de alguém dizendo que estava passando pela rua e resolveu visitar. Está fora do Ordnung. Sabe aquele parque lindo do lado da sua casa, perfeito para um piquenique e um churrasquinho? Não pode, o Ordnung não permite. Essa palavrinha significa muito mais do que regras, é o status quo de um país que não sabe o que fazer quando a vida cria situações que não estão nos manuais.
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