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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Manual da visita legal: como curtir as férias na Europa sem chatear o amigo que está te hospedando


A coisa toda parte de um princípio básico: receber visita aqui não é o mesmo do que receber no Brasil. Quem vem para se hospedar na casa de amigos é, geralmente, jovem – como os amigos que vão receber! – e em busca de fazer uma viagem mais barata. Quem mora aqui está, na maioria das vezes, estudando ou em início de carreira: ou seja, também tem as despesas mais apertadas. E mais, quarto de visita na Europa é um luxo imenso que mesmo famílias já estruturadas não costumam ter. Por isso, que fique claro: fazer um mochilão barato pela Europa não significa transferir uma parte das suas despesas para quem está te hospedando.

Mas não me entenda mal. Eu adoro receber visita. Vamos partir desse pressuposto. É sempre um prazer ter amigos queridos por perto, compartilhar refeições, colocar a conversa em dia. E quando recebo gente em casa é porque realmente quero receber a pessoa: se não, nem teria feito o convite. No geral, nunca tive problemas recebendo ninguém aqui (se você já se hospedou na minha casa, pode dar um suspiro aliviado!), mas ouvi muitas histórias ao longo desses anos aqui na Alemanha e por isso resolvi escrever esse post com algumas regrinhas básicas:

Não peça hospedagem para mais do que duas pessoas - As pessoas moram em espaços menores aqui e, por isso, se for pedir hospedagem, pense que o espaço é limitado. Você e seu parceiro podem dormir juntos. Mas se for um amigo, já são dois espaços. Pedir hospedagem para três pessoas? Nem pensar. Para muitos, isso seria ter colchões espalhados até pela cozinha. Isso pode até ser uma prática válida para o Réveillon na praia na casa da tia, quando todos estão de férias, mas não no meio da rotina de quem vive aqui.

Pequeno significa pequeno - Ainda sobre o espaço: não tente argumentar que “qualquer cantinho ta bom”, sem frescura, “é só jogar um colchãozinho no chão”. Eu já morei em um apartamento tão pequeno que, se eu colocasse um colchão no chão, não dava para abrir porta de saída da casa. Se o seu amigo disser que mora em um apartamento pequeno, acredite e não imagine o “pequeno” de acordo com a sua experiência brasileira.

Aceite um não como resposta – Muitos amigos gostariam de te hospedar mas podem não estar aptos a fazer isso. Além da falta de espaço há quem viva em moradas estudantis que tem políticas bem restritivas quanto a visitantes. Ou ainda dividem apartamento com outras pessoas e o acordo da casa é não receber visitas que não sejam familiares próximos ou parceiros. Pode soar estranho para os brasileiros que tem a hospitalidade como característica, mas é mais corriqueiro por aqui do que se possa imaginar. Visitas sempre implicam em gastos maiores para a casa e tem gente que não está disposta em arcar com o banho alheio.

Arrume sua cama – Isso parece óbvio, mas sei de muita gente que “esqueceu”. A ação tem que ser imediata: pulou da cama, arrume tudo o quanto antes. Se possível, levante o colchão e coloque encostado na parede para ocupar menos espaço. Feche o sofá cama. Faça o que for preciso para deixar a casa do seu anfitrião o mais próximo possível de quando você não está lá.

Não deixe suas coisas espalhadas – Claro que pode deixar uma bolsa com cosméticos no banheiro, casacos na porta, sapatos na entrada. A casa funciona assim. Mas deixar malas abertas e coisas voando por todas os lados do apartamento não tem o menor cabimento.

Siga as regras da casa – Em Roma, faça como os romanos, claro! Você está vendo os donos da casa comerem biscoitos na cama? Se não, não faça! Está vendo alguém fumar na janela? Não? Vá fumar na rua. Todo mundo tira o sapato quando chega? Tire também. Observe o ritmo das coisas e se inclua nele o mais rápido possível.

Não ocupe o banheiro por muito tempo – Isso vale para tudo, mas especialmente para o banho (a água e a energia são bem caras no Velho Mundo). Pense que os banhos diários dos brasileiros já são uma excentricidade para qualquer europeu. Dois banhos por dia? A não ser que esteja um calor infernal (coisa rara!) são um disparate que vai enlouquecer seus anfitriões, já acostumados ao estilo de vida europeu. As residências por aqui têm, geralmente, um banheiro só. Então em vez de secar o cabelo por lá, vale perguntar pra dona da casa se não é melhor fazer isso em outro cômodo para deixar o banheiro liberado logo – especialmente para quem divide apartamento com outras pessoas.

Leve um presentinho – Quem está conhecendo a Europa de mochila sabe o quanto pesa cada quilo a mais na bagagem. Quem mora do lado de cá também. Por isso, não precisa trazer um caminhão de encomendas para quem vai te receber, ainda mais se for no fim da viagem. Mas um agradinho “made in Brazil” pode fazer toda a diferença. Pode ser uma bijuteria, pode ser um pacotinho com cubos de caldo para feijoada, pode ser um imã de geladeira. Não precisa ser caro, mas é bacana mostrar que você pensou em quem está te recebendo. E pergunte antes de colocar cachaça, farinha, leite condensado, pão de queijo, feijão e afins na mala: hoje em dia tudo isso pode ser comprado aqui mesmo, sem problemas.

Vá ao supermercado, mas pergunte antes o que pode comprar – Vocês já viram as geladeiras das casas aqui na Alemanha? Em muitas, mesmo quando mora uma família, são um frigobar. Algumas sequer tem congelador. Ou seja, sua ideia de trazer sorvete como sobremesa do jantar pode ser muito errada. Também não compre coisas sem perguntar aos donos da casa o que pode comprar: muitas vezes não há espaço para os alimentos e as coisas podem estragar. Mas de qualquer forma, vá ao mercado e ajude nas despesas. Pão, leite de caixinha, chocolate, biscoitos: são coisas que todo mundo come e não estragam.

Se ofereça para cozinhar – Levar seus anfitriões para jantar pode sair do orçamento, mas cozinhar para eles pode ser uma forma muito divertida de agradecer. Não precisa preparar um jantar com três pratos, mas faça sua especialidade. Vai ser divertido encontrar os ingredientes em um mercado que não fala sua língua, cozinhar em um espaço completamente diferente. Nem precisa ficar delicioso: todos vão gostar do mesmo jeito.

Ajude com a louça – Seu anfitrião cozinhou? Se ofereça para lavar os pratos. Ele prefere lavar? Se ofereça para secar. Tem máquina? Ajude a recolher a mesa e a colocar a louça suja no lugar certo. Não espere que ele te peça ajuda. Ninguém por aqui tem empregada e toda a ajuda é sempre bem-vinda.

Participe da limpeza da casa – Claro que ninguém vai sair fazendo faxina na casa alheia se a estada for de umas noites. Mas se for ficar a semana toda é bom ficar atento no funcionamento da casa e dar uma forcinha na hora de varrer o chão. Muito provavelmente seus anfitriões vão fazer isso enquanto estiver fora de casa, mas se chegar no meio da função, nunca deixe de oferecer ajuda. Além disso, fique atento ao lixo que produz. Sacos, saquinhos, sacolas, pacotes de lojas de souvenires: tudo precisa ser separado e colocado no contêiner adequado.

Tenha uma agenda independente – Você já parou para pensar em quantas pessoas além de você seu anfitrião já recebeu naquela cidade. E quantas vezes ele foi ao Brandenbuger Tor, à Torre Eiffel ou a qualquer outro ponto turístico obrigatório?! Não o obrigue a fazer isso de novo. Faça seu próprio roteiro, participe de Free Tours, use APPs que te guiem pela cidade e pense que, enquanto está passeando, seu anfitrião – que muito provavelmente não está de férias – tem uma rotina a seguir. Tenha um roteiro pro dia sempre programado, mas aceite sugestões e dicas de quem vive na cidade. Elas podem transformar seu passeio em algo muito mais especial.

Inclua seus anfitriões em seus programas – Ser independente não significa excluir os anfitriões da agenda e usar a casa deles como hotel. Isso chateia qualquer pessoa. O importante é equilibrar as coisas: faça os passeios turísticos sozinhos, marque um happy hour com o amigo que está te hospedando.

Deixe um agrado na saída – Não se trata de pagar a hospedagem. Ninguém espera isso. Mas é sempre bom se sentir reconhecido e isso pode ser feito com um bilhete e meia dúzia de palavras gentis escritas a mão. Pode ser um bombom. Pode ser uma flor que custa um euro na lojinha da estação de trem. O importante é não esquecer de deixar claro o quão grato ficou por ter sido hospedado de graça pelo seu amigo.

Não esqueça de nada – Verifique dez vezes se está levando tudo. Veja no banheiro, embaixo da cama, pendurado atrás da porta. Veja na cozinha, na geladeira, atrás do sofá. Depois, veja outra vez. Não deixe para trás para que seu amigo não tenha a responsabilidade de guardar alguma coisa por dois anos, até vocês se reencontrarem, e nem que colocar nada no correio.

Avise que chegou bem em seu próximo destino – A não ser que esteja indo para um destino inóspito e sem internet, escreva para dizer que chegou bem. Seu roteiro de viagem foi, provavelmente, um assunto bastante comum na sua estada e seu amigo certamente vai querer saber se chegou bem ao próximo destino e tudo correu conforme o planejado.


Escreva quando estiver em casa e envie as fotos – Depois das férias, já de volta ao lar doce lar, não esqueça de enviar as fotos que prometeu! Escreva ainda um e-mail bacana, contando como foi o resto da viagem e agradecendo mais uma vez pela companhia e pelos dias que passaram juntos. Isso certamente vai deixar as portas abertas para sua próxima estada. Ah, e retribua a gentileza! Não esqueça de deixar sua casa – ou sua casa de praia! – a disposição do seu anfitrião na próxima vez que ele for ao Brasil. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Faculdade na Alemanha: passo-a-passo para cursar o bacharelado (graduação) em uma universidade no país

Universidade de Bremen: uma das melhores no Norte da Alemanha

A Alemanha oferece ensino superior gratuito e isso tem atraído cada vez mais estudantes estrangeiros interessados em estudar no país. Mas entrar em uma universidade alemã exige dedicação e boas notas. E não só: para quem é estrangeiro, o desafio já começa no aprendizado do idioma.

A maioria dos cursos de bacharelado é em alemão. Ou seja, sem um conhecimento intermediário/avançado da língua as chances são poucas. Quanto tempo leva para aprender alemão? Depende de cada um. Mas considerando o que as escolas de línguas geralmente oferecem – quatro a cinco semanas por nível – é só fazer as contas: A1.1, A1.2, A2.1, A2.2 e por ai vai até o B2.2 ou C1, conforme a exigência da universidade.

Para quem quer economizar nessa hora, uma boa opção são os cursos oferecidos pela Volkshochschule, subsidiados pelo governo. Em Berlim, cada nível custa a partir de 100 euros, o que é muito menos do que escolas de idiomas privadas ou institutos como o Goethe cobram. E o ensino é de qualidade. A maioria dos estudantes é imigrante e tem pressa em aprender. Por isso as aulas fluem bem e todo mundo está interessado.

Mas falar alemão não é o suficiente. É preciso conseguir uma vaga na universidade o que significa concorrer de igual para igual com os alemães e candidatos de outros países. Para isso existe um curso preparatório e de nivelamento que dura um ano: o Studienkolleg. O curso é oferecido tanto por instituições públicas (onde se paga apenas uma taxa semestral que dá direito ao transporte na cidade e região) ou privadas. 

Além disso, é preciso saber de antemão qual curso se pretende cursar como bacharelado, já que a estrutura educacional na Alemanha é diferente. Existem por aqui as faculdades técnicas (Fachhoschule / Hochschule, com cursos mais voltados à prática, como mídia, informática, administração e negócios, etc) e as universidades (Universität, com engenharias, medicina e outros cursos que envolvem mais pesquisa).

Para entrar em qualquer uma das duas é preciso fazer um teste (tipo o Enem!). Para as Fachhochschulen o exame se chama Fachhochschulreife, ou Fachabitur, como é conhecido popularmente. Esse exame é aceito excepcionalmente também para alguns cursos em Universidade. 

No entanto, quem pretende entrar em alguma universidade precisa fazer o Abitur. Com a nota dessa prova pode-se então participar do processo de seleção de cada universidade do país.
É importante observar que o nível de alemão exigido pelas universidades é maior do que o exigido pelo Studienkolleg, então, muitas vezes, é preciso estudar um pouco mais a língua para passar em um exame de proficiência como o DSH2 ou DSH3, ou TestDaf.

Quem já cursou um ano de universidade no Brasil pode tentar pedir transferência. As regras, nesse caso, dependem da universidade pretendida, que vai definir o que pode ou não ser aproveitado e que documentos serão necessários para o aceite. No entanto, a exigência de passar no teste de proficiência de alemão permanece.

Algumas – raras ainda! – universidades oferecem cursos de bacharelado em inglês, mas são quase sempre faculdades privadas e com mensalidades que ultrapassam os 500 euros. Pode parecer pouco se comparado aos preços praticados no Brasil, mas a conta aumenta com os cerca de 700 euros necessários para viver no país (incluindo casa, plano de saúde, comida, etc). E lembre-se, para pedir o visto de estudante é preciso ter o dinheiro para o ano todo (660 euros por mês) depositado em uma conta-poupança bloqueada na Alemanha.

Se você quer fazer o mestrado, tem muita informação aqui. Já esse post explica como tentar o doutorado na Alemanha.

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