Há muito o
que se ver em Berlin e por isso, em vez de montar roteiros turísticos, resolvi
dividir a cidade por temas. Assim fica mais fácil escolher o que visitar a
partir de um assunto de interesse. E pra começar essa saga, não tinha como
fugir do óbvio: o muro. E antes de
qualquer dica turística ou explicação, que fique anotado um dado que pode ser
redundante para uns, mas ao mesmo tempo responde a dúvida de outros. O muro não
separava as duas Alemanhas, fora a fora. O muro separava a Berlin capitalista (West
Berlin) do restante da Alemanha comunista: ou seja, formava uma espécie de “ilha”
ocidental dentro da Alemanha oriental.
Berlin dividida: o muro formava uma "ilha" ocidental dentro da Alemanha comunista
Vale dizer
ainda que a parte que ficava para o lado de dentro do muro também era dividida,
com setores controlados pelos aliados. Assim, havia o setor americano (Kreuzberg,
Neukölln, Schöneberg, Steglitz, Tempelhof e Zehlendorf), o setor inglês (Charlottenburg
– onde eu moro! :), Spandau, Tiergarten e Wilmersdorf) e o setor francês (Reinickendorf,
Wedding). Já do lado de fora do muro, ou seja, na parte comunista (East Berlin)
– ou também chamado de setor soviético – ficavam os bairros de Friedrichshain, Köpenick,
Lichtenberg, Mitte, Pankow, Prenzlauer Berg, Treptow, Weissensee, Marzahn, Hellersdorf
e Hohenschönhausen. Uma curiosidade é
que, nessa época, cada setor tinha seu próprio aeroporto. Atualmente, são apenas dois em operação – Tegel e Schönefeld, sendo que o primeiro fecha suas
portas em junho e todas as operações serão feitas a partir do segundo, que vai
se chamar oficialmente Aeroporto Internacional Berlin-Brandenburg.
Voltando ao
muro. Logo depois do fim da guerra, as pessoas podiam ainda transitar de um
lado para o outro da cidade. Entre 1949 e 1961, estima-se que mais de 3 milhões
de pessoas migraram da Alemanha Oriental para a Ocidental, muitas usando Berlin
como ponto de partida. A fuga de mão-de-obra qualificada – muitos eram médicos,
engenheiros, professores – levou a DDR a endurecer seu controle de fronteiras
e, em Berlin, a barreira foi imposta do dia para a noite. Na madrugada de 13 de agosto de 1961, o
exercito comunista construiu cercas metálicas em volta de toda a área ocidental
e, a partir desse isolamento provisório, passou a erguer a barreira definitiva,
com dois muros de isolamento com cerca de 4 metros de altura – entre eles
ficava um espaço conhecido como “terra de ninguém” – e 111 quilômetros de
extensão.
Cerca de 80
pessoas morreram em tentativas de cruzar de um lado para o outro durante os 28
anos que o muro ficou de pé, até sua queda, em 9 de novembro de 1989. Esse
número é bem maior pelo registro de algumas ONGs e tem um texto da Deutsche Welle sobre o assunto aqui. Sobre a
queda, vale dizer que foi o momento mais marcante do processo de reunificação
das duas Alemanhas, oficilalizado em 3 de outubro de 1990. A data (3/10) é
feriado nacional e cada ano uma cidade é sede das festividades. Na breve pesquisa, encontrei esse documentário
da época da divisão. Esta em inglês e é bem triste, mas mostra com clareza e
imagens originais como foi a divisão de Berlin em duas.
Feita a
introdução, que deixou o post mais longo do que eu esperava, é melhor falar
logo do que esse texto inicialmente propunha.
Visitar Berlin é encontrar viva a história do muro e das duas Alemanhas
pelas ruas da cidade e em museus. Então, para saber mais sobre o muro, anote ai
o que visitar:
Gedenkstätte
und Dokumentationszentrum Berliner Mauer – Em português, Memorial e Centro de
Documentação do Muro de Berlin (site oficial). Fica na Bernauer Straße, um ponto
onde muitas pessoas tentaram atravessar o muro e onde ficava a Versöhnungskirche
(Igreja da Reconciliação, por ironia!). Na divisão de Berlin, a igreja ficou na
terra de ninguém e foi destruída em 1989 por atrapalhar a vigilância. Em seu lugar
hoje existe uma capela. No local, uma parte do muro foi reconstruída apenas com
barras metálicas, recriando o trajeto. Marcações no chão indicam a trajetória
de túneis escavados para a fuga e as histórias de sucesso e os mortos são
lembrados. Há também totens explicativos, com fotos, textos e vídeos com
imagens da época. Junto ao centro de documentação há uma torre metálica (entrada
gratuita) de onde se pode ver uma parte do muro preservada: os dois muros, uma
torre de vigilância e um pedaço inacessível do que já foi, um dia, a terra de
ninguém. Para chegar lá, vá de metrô até
a Bernauer Straße (U8).
Preservado: do alto da pra ver os dois muros, a torre de vigilância e a terra de ninguém
Informação: totens contam a história do local como a demolição da Versöhnungskirche
Berlin
Nordbahnhof – Fica ao lado do Memorial do Muro e, na entrada mais próxima a
Bernauer Straße mostra as marcas da divisão.
Dentro da estação estão murais (um pouco deteriorados, mas não menos
interessantes) sobre a as estações fantasma: estações que foram desativadas com
a separação de Berlin por onde os trens do lado ocidental seguiam passando, mas
sem autorização de parar. Os motoristas, no entanto, eram orientados a cruzar
essas áreas em baixa velocidade para que pudessem parar e socorrer qualquer
cidadão que - apesar das entradas
lacradas e da forte vigilância subterrânea – tentasse fugir para o lado
ocidental.
Fechadas: murais contam a história de estações fantasma
Sem uso: trens passavam pelas estações fechadas, mas não podiam parar
East Side Galery
– Trata-se do maior trecho preservado do muro. Em algumas partes é possível ver
até mesmo os dois muros e caminhar pelo que já foi a terra de ninguém. As pinturas foram feitas originalmente depois
da queda do muro, em 1990, e estão do lado comunista, em uma área onde, na
época da divisão, não era permitido sequer caminhar. As pinturas foram
restauradas alguns anos depois, mas vândalos insistem em assinar ou mesmo
pichar as obras. É um daqueles locais imperdíveis de Berlin. Não se pode deixar
a cidade sem caminhar ao longo dos 1300 metros da Mühlenstraße. Para chegar lá,
vá até a Warschauer Straße ou até a Ostbahnhof. O site
oficial da East Side Galery é este. De lá, olhando em direção à Warschauer Straße, da pra ver duas torres: trata-se da Oberbaumbrücke, onde foram
gravadas algumas cenas do filme Corra Lola, corra (Lola Rennt). Quando for
visitar essa parte do muro, não deixe de provar o delicioso faláfel que é
servido nas redondezas. A dica do restaurante está aqui.
Galeria: pinturas marcantes como o beijo dos líderes soviéticos Leonid Brezhnev e Erich Honecker pintado por Dmitri Vrubel
Não se pode deixar de ver: são 1300 metros de muro preservados, cobertos com pinturas de diferentes artistas
Símbolo: a Oberbaumbrücke se tornou um símbolo da reunificação e foi cenário de filme
Mauerpark –
Parque do Muro, em uma tradução literal. Fica bem perto do memorial da Bernauer
Straße, mais precisamente, na esquina da Bernauer com a Eberswalder Straße.
Era uma parte da terra de ninguém que, depois da queda do muro foi transformada
em parque. Hoje é um dos endereços preferidos dos jovens descolados e hipsters
da região, que se reúnem por lá nos dias ensolarados para treinar malabares,
fazer piqueniques ou mesmo brincar com as crianças ou passear com os cachorros.
Aos fins de semana, o local abriga um dos mais famosos mercados de pulga
(Flohmarket) da cidade. O mercado acontece aos domingos pela manhã e início da tarde, mas o parque
pode ser visitado a qualquer hora.
Check Point Charlie - Haviam diversos pontos de passagem entre os dois lados do muro de Berlin, os check points. O mais conhecido, representado pela letra C (Charlie, de acordo com o Alfabetofonético da OTAN) ficava na Friedrichstraße com a Zimmerstraße e Mauerstraße (U6 – desça na Kochstraße). Ao longo dos anos em que a cidade foi dividida, várias guaritas foram construídas no espaço e a que se tornou um dos mais famosos pontos turísticos de Berlin, nada mais é do que uma cópia inspirada nas primeiras estruturas, da década de 60. Dois “guardas” fazem plantão no local e cobram 2 Euros por pessoa para que se tire uma foto ao lado deles: mico total. Ao lado, foi colocada uma cópia da placa que marcava a fronteira, anunciando o fim do setor americano. Junto ao Check Point Charlie há ainda um museu privado que conta a história do que se passou por lá. Apesar de se tratar de uma visita daquelas obrigatórias nos roteiros pela cidade, acho o mais decepcionante dos pontos turísticos. A única coisa bacana é um mural construído ao longo da Friedrichstraße e da Zimmerstraße e que fala das tentativas de fuga e da vigilância acirrada da época.
Check Point Charlie - Haviam diversos pontos de passagem entre os dois lados do muro de Berlin, os check points. O mais conhecido, representado pela letra C (Charlie, de acordo com o Alfabetofonético da OTAN) ficava na Friedrichstraße com a Zimmerstraße e Mauerstraße (U6 – desça na Kochstraße). Ao longo dos anos em que a cidade foi dividida, várias guaritas foram construídas no espaço e a que se tornou um dos mais famosos pontos turísticos de Berlin, nada mais é do que uma cópia inspirada nas primeiras estruturas, da década de 60. Dois “guardas” fazem plantão no local e cobram 2 Euros por pessoa para que se tire uma foto ao lado deles: mico total. Ao lado, foi colocada uma cópia da placa que marcava a fronteira, anunciando o fim do setor americano. Junto ao Check Point Charlie há ainda um museu privado que conta a história do que se passou por lá. Apesar de se tratar de uma visita daquelas obrigatórias nos roteiros pela cidade, acho o mais decepcionante dos pontos turísticos. A única coisa bacana é um mural construído ao longo da Friedrichstraße e da Zimmerstraße e que fala das tentativas de fuga e da vigilância acirrada da época.
Réplica: o Check Point Charlie decepciona se comparado às outras atrações
Marienfelde
Refugee Center Museum – O Museu doCentro de Refugiados Marienfelde reúne documentos, fotos, vídeos e objetos
relacionados aos alemães que fugiram da DDR para a Alemanha ocidental. O museu
funciona onde antes eram acolhidos os refugiados: cerca de 1, 35 milhão de
pessoas passaram por lá e receberam assistência para fazer sua documentação e
vistos de permição para residir em West Berlin ou em outras partes da Alemanha.
A entrada é gratuita. O museu fica na Marienfelder Allee 66/80. A estação de metrô tem o mesmo nome.
Muro
virtual – Para fechar a experiência sobre o muro, valem algumas indicações
on-line também. Primeiro, vale conhecer o projeto Memorial Landscape BelinWall. Trata-se de uma pesquisa detalhada que mostra o que ainda existe do muro
na cidade, com imagens atuais, remontando
o trajeto e revelando que muitas paredes ou muros existentes hoje em dia
eram, na verdade, parte da antiga divisão das Alemanhas. Outra dica bacana é
baixar um aplicativo com detalhes sobre a localização e pontos de interesse do muro (disponível pra Android e iPhone). Para quem gosta de realidade aumentada, este outro aplicativo “reconstrói” o muro. Baseado em geolocalização, o aplicativo mostra, pela
tela do celular, onde ficava o muro, tornando possível ver a cidade dividida em
tempo real (o vídeo abaixo ta em alemão, mas da pra entender facilmente pelas imagens). Por fim, a visita fica completa com as informações do site Crônicado Muro de Berlin (em inglês e alemão), que narra todos os fatos marcantes dos
28 anos de história da divisão alemã, com imagens e um detalhamento único.
Estou adorando este posts sobre Berlin...não perco um!!!
ResponderExcluirbeijãooo
Oi!
ResponderExcluirAdoro seu blog e estou usando ele pra montar meu roteiro em Berlin!
Você sabe me dizer se teria como fazer esse roteiro do muro, o mais simples, sem o parque tal. Mas o muro mesmo, com o east side gallery e essa torre que dá pra ver os dois muros pela manhã, e ir ao parlamento as 14h (ja reservei)?
Pois não tenho dias suficientes pra tudo :(
Obrigada!
Oi Ju...
ResponderExcluirÉ apertado, mas se vc sair cedinho talvez consiga. A melhor forma de fazer isso é: vai de S ou de U-Bahn até a Warschauer Str. e caminha pela East Side Gallery em direção a Ostbahnhof. Va bem, bemmm agasalhada, pq acho que esse é um dos lugares mais gelados de Berlim! Da pra fazer em 1h, 1h30min, dependendo de qto tempo vai ficar fazendo fotos. Lá na Ostbahnhof pega o S-Bahn até a S+U Jannowitzbrücke e troca pelo U8 que vai até a Bernauer Str. São uns 15 minutos entre a East Side Galery e a Bernauer Str. Por lá calcule mais 1h ou 1h30, dependendo do quanto você ficar vendo cada detalhe... Leva um sanduiche pra comer no metro no caminho da Bernauer Str até a estação do Brandenburger Tor! Assim não perde tempo com isso e consegue ver tudo! :) Só não esqueça que tem que chegar a Bundestag 30 minutos antes da hora que está marcada a visita! Bjao e bom passeio!!! :)