segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Desabafo: nenhum jeito é melhor do que o alemão (aham...)


Eu estava aqui, bem feliz, começando a fazer um post sobre cerveja, quando chega a administradora do condomínio, atendendo a um chamado meu, para ver os probleminhas do meu apartamento. Estragou de vez o dia que já tinha começado do avesso: perdi aula porque o despertador não tocou, meu computador ta embrulhado pra viagem – já que vai pra assistência técnica – mas ninguém da UPS apareceu pra buscar, conforme o prometido pela Toshiba.

Vamos aos fatos: eu moro no térreo e faz meses que resolveu chover todos os dias em Berlin. Todo o santo dia, mesmo quando faz sol. Logo, começou a entrar umidade e uma parte do piso do meu quarto resolveu se posicionar como uma ponte levadiça. Uma bola vindo do nada, fazendo um arco gigante que, com o passar dos dias, implodiu em um buraco de um meio metro no chão. No ato do inchaço, já tinha chamado uma coleguinha da administradora do prédio para ver e ela me disse: é falta de ventilação, abra a janela todos os dias que vai voltar para o lugar.

Desde esse dia o quarto tem sido um espaço inutilizado durante o dia: com a janela aberta (e uma temperatura entre 3 e 8 graus na rua), o ambiente fica de gelar os ossos. De fato a tal da bola encolheu, mas muito longe de voltar ao normal: andar pelo quarto é como pisar em um chão “crocante”. Enfim, veio hoje a tal da administradora oficial ver o estrago e começou já dizendo que é culpa minha porque não abro a janela. Falei, educadamente que abria a janela.

Então veio ela me dizer que eu não abro corretamente... que eu devo abrir não só em cima (quem mora aqui na Alemanha sabe bem esses dois jeitos de abrir a janela) e sim toda, por meia hora, de manhã quando eu acordo e a noite, antes de dormir. Isso mesmo, abrir tuuudo antes de dormir porque, segundo ela, em menos de dez minutos, fica tudo quentinho novamente. Aham Cláudia, senta lá.

Escutei o discurso todo (em um tom agressivo do gênero: você é uma idiota que não sabe nem ventilar a sua casa e vai ter que pagar a conta) e disse que toda essa umidade era culpa do prédio. Se ela sabia disso, que fornecesse um desumidificador junto (o AP é temporário e 100% mobiliado, estilo flat pra quem ta em business pela cidade). Ela riu, debochada. Fiquei puta. Então ela repetiu mais umas 3 ou 7 vezes como se abre a janela na Alemanha e eu falei que a janela ficava o dia inteiro aberta já e que mais que isso não podia ser feito. Disse a ela que eu venho de um país quente e que se deixasse a janela aberta, acabaria doente. Já espumando de ódio, pergunto se posso mandar a conta do meu plano de saúde pra administração do prédio. Ela me olha fuzilando...

Ela insistia. Eu repetia. Ela falava. Eu respondia. E o diálogo foi tomando uma proporção cada vez mais agressiva. Argumentei que não havia qualquer problema na sala, onde passamos o tempo todo. Então ela argumentou que a culpa era minha porque eu cozinhava demais em casa. Hallo!?!?!?!? Respondi: Sim, às vezes duas vezes ao dia. Eu moro aqui, sabe. Então ela olhou para o chuveiro e disse que a umidade acontecia por que a gente tomava banho. Ah???? Essa eu pedi pra repetir, porque achei que a lógica e o bom senso tinham se perdido no meu alemão torto. Sei que os nativos desse pais que me abriga acham o banho diário um certo exagero, mas não estou disposta a assimilar a cultura de forma tão completa, neste caso.

Então ela me disse que tem muitos asiáticos no prédio que também tem problemas com mofo, especialmente no banheiro. Falei pra ela que eu costumava limpar o meu banheiro e que não tinha mofo algum, caso ela quisesse ver: que o problema era mesmo o piso do quarto. Falei pra ela ainda que, moro no térreo, como ela pode ver, e o portão do condomínio sequer tem tranca e perguntei se tinha algum seguro caso eu deixasse a janela (que é uma porta também) aberta e alguém me assaltasse, já que volta e meia vejo umas pessoas aleatórias desfilando pela minha janela. Falei pra ela que não me sentia segura em deixar tudo aberto e ficar em um outro cômodo e que também não ficaria com tudo aberto e plantada no frio, congelando.

A conversa foi indo a um ponto tão bizarro que ela argumentou que os apartamentos eram feitos para quem vive como os alemães: ou seja, os alemães. A essa hora eu queria estrangular a mulher, mas só saiu um: “os alemães estão sempre certos em tudo”, com toda a ironia que uma conversa multicultural pode conter.
De saco cheio da palhaçada, lembrei a ela que o meu interfone não está funcionando (de novo). Por conta disso, os simpáticos carteiros nunca me acham e eu passo mais tempo na fila do correio do que gastaria indo na loja comprar as coisas que decidi pedir pela internet. Enfim... A administradora faz uma cara de fuinha e diz... Já fizemos de tudo, mas não resolve. Cada vez que chove para de funcionar...  Eu olhei pra ela,  sorri ironicamente e disse: Que coisa essa chuva toda... tá fora do Ordnung.

Anote ai uma dica de ouro e que certamente não escreveria em outras circunstâncias: se você está vindo morar na Alemanha, acostume-se ao fato de que “alemão sempre tem a razão” e que nenhum jeito de fazer as coisas pode ser melhor do que o jeito alemão. E desista de argumentar. Eles te ganham no cansaço. Pronto, falei. Eu amo viver aqui e sempre falo das vantagens que a Alemanha me proporciona. Mas em dias como hoje eu queria mesmo era dominar o idioma em todas as suas entrelinhas e subjetividades... ou ao menos queria fugir daqui.

10 comentários:

  1. Ai como eu te entendo. Ainda mais na necessidade de dominar a língua de todos os jeitos possíveis e imagináveis pra desdobrar tudo que a mulher falou na cara dela!
    e, ó, esse jeito é bem berlinense, viu?

    fica assim não! quarta a gente vai se ver. hehehehe

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  2. Toca aqui, manola!!

    E me dê cá um abraço. Alles wird besser, xuxu.

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  3. Nossa... já passei muito por isso também... Dá nos nervos... E quase sempre consegui me segurar.

    Só uma vez, depois da noite inteira com 4 alemães me dizendo esse tipo de coisa, um deles foi dizer que eu não lavava a louça direito porque eu passo sabão, esfrego e enxaguo (em vez de encher a pia de sabão e só enfiar o prato, tirar e secar, como eles fazem). Eu argumentei, e ouvi um "ah, eu sei mais sobre isso, né, eu sou alemão." Aí não aguentei e falei que higiene era um assunto que alemão nenhum podia discutir com brasileiro, já que eles tomam menos banho e usam o mesmo casaco durante o inverno inteiro, sem lavar nenhuma vez, deixando o ar irrespirável nos vagões de trem e nos ônibus (todos fechados, um horror). E ainda falei que, no Brasil, os europeus têm fama de serem fedorentos.

    Mas, justiça seja feita, sempre dei a maior sorte com vermieterin... Todos problemas dos apartamentos foram resolvidos tranquilamente... Imagino como deve estar sendo mesmo bizarro pra vocês... :(

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  4. DEculpa mas eu chamava de vaca bem baixinho em PT.

    O chao esta para a casa e nao a casa para o chao. Se um apartamento ficar fechado um ano quer dizer que o chão vai explodir?

    Ai fiquei com raiva só de ouvir (ler)!

    bjobjo

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  5. Alemão nem é teimoso, teimoso mesmo é quem quer discutir com alemão.

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  6. Alemão nem é teimoso, teimoso mesmo é quem quer discutir com alemão.

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  7. essa mulher é louca!
    ninguém é obrigado a abrir janelas, muito menos por mais de meia hora. (No inverno 10 minutos deveriam ser suficientes). já que tu moras no térreo, o problema deve falta de isolamento na construcäo.
    procura o verbraucherzentrale... eles podem te ajudar.

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  8. olha depois de ler essa história nao tem como nao sentir raiva e a vontade que dá é de ter tido p essa alema "vai tomar no..."

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  9. Impressionante como eles conseguem ganhar a antipatia com tao pouco ... q palhacada !!!!
    #ninguem merece

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  10. Oi Ivana,
    Achei muito deprê a menção que essa senhora fez ao apartamento ser projetado para moradores alemães... Perfeitos são eles. O resto é resto.
    Hunf.
    Mas com sorte a chuva dá trégua e a bola murcha por si só!
    Abs
    Márcia

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