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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sobre comida de passarinho e costumes: alguém já pensou isso antes



Quando a gente muda de país, o choque cultural é inevitável e leva um tempo até entender como tudo funciona. Se você for pra Portugal, vai sentir o choque, mesmo que a língua seja a mesma e que os costumes, muitas vezes, sejam similares ao Brasil: vai se dar conta, em um primeiro momento, das diferenças, para depois perceber as semelhanças e descobrir que por lá também se vende coxinha em qualquer padaria da esquina. Na Alemanha essa sensação de desassossego é maior, mais intensa eu diria e, mesmo pra quem come chucrute desde criancinha, o choque cultural é grande. E o que todo esse bla-bla-blá tem a ver com comida de passarinho? Eu já explico.

Quando vim pra cá com o meu marido (que na época era namorado), ele já havia morado por três anos na Alemanha e me veio com uma frase de efeito: “Aqui na Alemanha, você não precisa pensar. Alguém já pensou por você.” Na hora eu achei uma bobagem, mas descobri em pouco tempo que ele tinha toda a razão. O país inteiro é organizado de um jeito para que você não precise pensar em como fazer ou qual a melhor maneira. É só ler o manual, seguir a risca e tudo vai dar certo. Como prepara a salsicha X, Y ou Z: faz como manda a embalagem. Pão pré-cozido, deixa quanto tempo no forno? Faz exatamente igual a figurinha que funciona. E isso serve pra tudo: pra transporte, plano de saúde, pra burocracias da prefeitura, pra conta no banco, pra comida de passarinho. Viu? Cheguei ao ponto!

Eu não sou bióloga – e menos ainda “passarinhóloga” – mas não é difícil perceber que, no outono, as aves escapam da Alemanha em debandada em busca de lugares mais quentes. Como eu não posso fazer isso todos os anos, me contento com os poucos passarinhos corajosos que sobram por aqui e é costume alemão alimentar os tais bichinhos. Acho que a coisa toda é um mea-culpa! “Derrubamos as suas árvores, colhemos as suas frutas, mas agora oferecemos comidinha”. Isso é especulação minha: no geral, a Alemanha é um país bem verde!!!

Meisenknödel: comida pronta para pássaros selvagens

Assim, nessa época do ano, os supermercados ficam abarrotados de comidinhas prontas para passarinhos selvagens. Como essas bolotas feias ai da foto de cima, que se chamam Meisenknödel. O rótulo diz: Alimento complementar para pássaros selvagens: aveia, trigo, cereais, girassol, gordura e óleo de soja. A maçaroca é dura e vem dentro dessas redinhas plásticas que permitem que os passarinhos comam por entre os espaços. Uma caixinha com seis bolotas custa entre 70 centavos e 1 euro. Baratinho mesmo! Não é raro encontrar essas redinhas penduradas pelas árvores pela cidade. Além disso, é costume dar restos de pão (desde que tenha mais de uma semana, para que o fermento não esteja mais ativo). E este ano eu resolvi entrar na modinha.

Alimento para pássaros: seis bolinhas por um euro ou menos

Estamos morando agora em Berlin, já contei isso por aqui. O apartamento é no térreo e tem um terracinho particular. As paredes da casa que dão para o jardim são todas de vidro: janelões imensos, que servem também como porta para o terraço. E é por lá que eu ponho a comidinha. Improvisei um galho para pendurar as bolotas e jogo o pãozinho no chão mesmo. Assim, bye-bye solidão (o marido passa quase o dia todo fora de casa!): tenho a visita constante dos passarinhos, que ficam de estripulia no terraço. Brincam, comem e me fazem companhia. Tudo isso por 75 centavos!

Ps.: Esse post vai especialmente pra Luciane Bemfica, amiga de muitos anos, especial e amada... Afinal, "a gente se paga", pra sempre :)

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