Quando eu
era criança, adorava ficar colocando bolinhas de algodão na árvore de Natal,
aquele pinheiro que tinha que ser montado no dia 23 pra ainda estar verde no
dia 24, tamanho é o calor que faz em Blumenau nessa época do ano. Mas eu achava
que aquele algodão era igualzinho a neve e, na minha cabeça, com pouco senso
estético, era como ter um Natal branco. Depois de seis anos na Europa, nunca
tive um, embora a previsão do tempo sempre me encha de esperança e salve minha
árvore dos algodõezinhos.
Na Alemanha
descobri um Natal mais parecido com os contos de fada. Os mercados com seu
perfume de amêndoas carameladas e vinho quente temperado. A decoração de
bonecos de neve, renas e quebra-nozes, com uma presença pequena do vermelho
Noel, frequente no Brasil. O frio, o vapor quente que sai da boca, a mão
coberta de luvas para carregar as sacolas com presentes e os ingredientes
enjambrados para fazer uma ceia brasileira no outro lado do oceano.
O Natal na
Alemanha é o Natal que eu sonhava na minha infância e o Natal da minha infância
é o que tem me feito sonhar todos os dias agora. Mesmo que todo o Papai Noel
pareça ridículo quando o termômetro marca 40 graus, sinto falta de ver aqueles
heróis (e heroínas, algumas vezes!) de algodão colado na cara ou usando aquelas
máscaras plásticas de traumatizar qualquer infância, derretendo de calor sob
uma touca vermelha. Ando com saudade de suar para limpar a casa e de passar
horas cozinhando pratos que nada combinam com a temperatura tropical.
Mas o que
eu mais sinto falta, mesmo, são os cheiros. Na semana no Natal, a grama da
minha casa sempre era cortada, um zelo de deixar tudo pronto para receber
visitas, e quando a máquina picava as folhas, o sol cozinhava tudo e subia aquele
cheiro. Melhor que isso, só cheiro de trovoada. Na casa da minha infância – que era lilás! Ah,
quem teve o privilégio de viver em uma casa lilás com verdinho!?!? – o chão era
de madeira e se fecho os olhos, o cheiro de cera cremosa passada a duras penas
pelo assoalho sobe pelas minhas narinas. Se mistura no ar com o cheiro de óleo de
peroba e a cara vermelha da minha mãe, esbaforida, tirando mais uma formada de
bolachas do forno.
Sinto falta
do cheiro da minha cidade, dos pés ganhando calos das sandálias que batem a rua
XV de ponta a ponta em busca dos últimos presentes. Sinto falta dos amigos
secretos, dos tantos encerramentos e festas de fim de ano que se tem: da hidroginástica,
do clube, da confraria, do trabalho, das amigas... Sinto falta até mesmo dos presentes
trocados nesses momentos, que quase sempre eram uma desgraça e rendiam
antipatias até o Carnaval.
Lembro de
uma vez, em um desses amigos tantos, que fui presenteada com um corte de tecido
de viscose estampado, quando tudo o que eu queria era uma imitação de
sandália plástica que custava cinco a menos do que o preço acordado. Vai ver
meu amigo da época suspeitou de um gosto que eu não demoraria a questionar.
E para
piorar essas saudades tantas, esse ano minha árvore jaz em uma caixa, os
enfeites em outra e a chance de eles se encontrarem são as menores do mundo.
Estou me mudando mais uma vez e, de Natal,
só mesmo os mercados da rua, e sua mesmice impessoal: sem uma árvore
montada em casa, a cidade mais parece um showroom de decoração para uma
temporada de festas que esse ano não chegou pra mim.
As saudades
são enormes, tantas que doem. Poucas vezes tive tanta
nostalgia de Natais já idos e nunca antes achei que um Natal suarento tivesse
tanta graça. Trocaria qualquer chocolate suíço por uma sombrinha de chocolate
Saturno, doce e hidrogenado, que minha mãe pendurava na árvore junto com os papais-noéis
e bolas de vidro...
Esse post faz parte do “Coletivo de Natal” do grupo Blogueiros e Blogueiras brasileiros na Alemanha. Para conhecer outros trabalhos sobre a natividade preparados pelos lusófon@s, clique aqui.
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