Na parede da universidade: neonazistas são denunciados publicamente na Alemanha
Embora
algumas pessoas tenham me questionado, não tinha escrito até agora sobre os
achados fascistas do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, porque acho que o que se deve pensar sobre o assunto
é obvio. Já escrevi sobre isso várias vezes aqui no blog: sobre neonazistas nas ruas de Weimar, sobre os rastros do nazismo em Berlim e sobre os sinais para
identificar neonazistas.
Mas essa
notícia de hoje, de que um homem de 93 anos que trabalhou por dois meses como
voluntário em Auschwitz será julgado, ajuda a ilustrar e deixa claro o que a
Alemanha pensa do nazismo: ele não é tolerado. Não importa quanto tempo faz que
a SS marchou pelas ruas da capital alemã, esse é sim um assunto espinhoso no
país e sempre será. Porque o nazismo é uma vergonha que o povo alemão vai
carregar (e tem que!) pra sempre. Não existe nada de bom, nenhum exemplo que
pode ser tirado de um regime que matou 6 milhões de pessoas. A não ser a lição
de que isso nunca pode ser repetir, por nada.
Por isso
qualquer pessoa que simpatiza, mesmo que vagamente com o nazismo, é um idiota.
E quem tem uma piscina com uma suástica no fundo, mesmo que seja para seu uso
privado e “secreto” é um sociopata. Quem defende que a suástica é um símbolo zen,
muito anterior ao nazismo não é ingênuo: ou é burro ou é mal-intencionado. É como
dizer que, no Brasil, uma estrela não representa o PT ou tucano não simboliza o
PSDB porque existem muito antes dos partidos. Quem defende que a privacidade do
cidadão foi violada, devia saber como a Alemanha trata seus fascistas modernos:
com cartazes pelas ruas, expondo suas caras e suas vidas. Porque a comunidade
tem o direito de saber quem são essas pessoas. Mesma razão pela qual o partido NPD
(sabidamente nazi!) existe: para que se possa acompanhar, controlar, coibir e desencorajar
qualquer engajamento popular a causa.
Pra mim, só
existe uma coisa pior que o nazismo: o neonazismo. Porque o nazismo, quando
começou, lá em 1933, até se pode alegar que não tinha intensões claras de matar
(embora eu não compartilhe essa impressão) e que por isso teve tanto
seguidores. O neonazismo não: as pessoas sabem claramente o esgoto moral onde
estão se enfiando e fazem questão de chafurdar na m. Neonazismo não tem
desculpa: é falha de caráter, desvio moral e, sobretudo é crime e assim é tratado
aqui na Alemanha. Se o país que foi responsável – e paga caro por isso até
hoje, financeira e moralmente – combate veementemente sua extrema direita, a
agressão contra estrangeiros, a discriminação e a xenofobia, só lunáticos
pensam que “é um exagero se importar com algo que aconteceu há tanto tempo”.
Minhas idas e vindas aqui na Alemanha me permitiram saber que o sobrenome que
carrego esteve nos dois lados da guerra. Há muitos Ebel na lista de soldados
alemães que serviram o Reich. Há tantos outros na lista de mortos nos campos de
concentração que já visitei (e todo mundo deveria visitar para saber de verdade
o que eram!). Essa dicotomia genética, a cor dos meus olhos e do meu cabelo, no
entanto, nunca foi razão para que eu sequer deitasse um segundo pensamento pela causa
ariana, porque qualquer pessoa com consciência moral o bastante para
diferenciar o certo do errado não pode aceitar nenhuma simpatia por qualquer
palavra nacional socialista. E a piscina com a suástica pode estar cheia de
água, mas não vejo nada além de um tanque de excrementos: igualzinho a quem
concorda que essa é uma ideia aceitável.
2 comentários:
Excelente, Ivana! Perfeito!
6 milhoões apenas de judeus... se somarmos os demais grupos, tais como ciganos, homossexuais, maçons, opositores políticos, etc... a conta sobe assustadoramente.
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