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segunda-feira, 26 de março de 2012

Berlin temática: Nazismo, holocausto e a 2ª Guerra Mundial marcam roteiro pela cidade


Nazismo e holocausto ainda são – e sempre vão ser – um tema espinhoso para a Alemanha e para qualquer alemão. Não é um tema sobre o qual se possa fazer piada: e isso os brasileiros precisam aprender de uma vez por todas. É um daqueles assuntos proibidos em festas, conversas ou qualquer situação, a não ser com quem se tenha muita, muita intimidade mesmo.  E para Berlin, essa regra vale ainda com mais ênfase. Por aqui, as lembranças dos anos em que o terceiro Reich comandou a Alemanha são ainda mais evidentes: seja na arquitetura característica dos anos de Nacional Socialismo ainda presente pelas ruas importantes da cidade, seja pelos memoriais e museus que fazem parte do roteiro obrigatório de quem visita a capital alemã.

Esse post é para falar dessas atrações mas também para fazer um desabafo. Um xingamento, quase. É para todos os “alemães” do Vale do Itajaí (e de outros rincões colonizados no Brasil e no mundo) saberem o quão sem tamanho é o ridículo de achar que ser alemão é ser nazista. E pior: de achar que isso é uma coisa bacana. Quero escrever aqui com todas as letras: quem pensa assim é ignorante, otário, mal informado e sobretudo babaca, muito babaca. Mais ainda quem sai aos quatro ventos propagando um revisionismo que nega o holocausto: esses deveriam ser presos.  O que aconteceu na Alemanha durante a Segunda Guerra mundial foi muito sério e muito grave e as marcas estão em cada um que aqui vive e logo são percebidas por quem adota o país como lar.

Eu só não entendo por que, entre tantas parcerias e “missões” que os nobres políticos catarinenses fazem aqui na Alemanha, nenhuma delas tratou de recursos para um projeto educacional  que levasse informação clara e detalhada sobre os regimes totalitaristas para dentro da sala de aula: eu posso apostar que não faltariam instituições interessadas em apoiar a ideia.

Bom, opiniões à parte, que esse post seja mais do que um guia de turismo: que possa servir para levar informações e inspiração para quem planeja visitar Berlin. Então, sem mais delongas, vamos à lista temática do que há para ver na cidade. Existem outros locais, museus e afins. Essa é uma lista de sugestões entre o que há de mais significativo.

Memorial dos Judeus Mortos na Europa – Vir para Berlin e não visitar o memorial é como ir para Roma e não ver o papa. Os 2711 blocos de pedra, inaugurados em 2004, já configuram uma das mais tradicionais imagens de Berlin. Ficam bem próximos do Brandenburg Tor e podem ser visitados a qualquer hora. O centro de informação, porém, tem horários específicos conforme a época do ano. Trata-se de uma espécie de museu e que a trajetória da perseguição aos judeus é contada em murais e fotos. Depoimentos, fragmentos de cartas e postais e vídeos complementam o espaço, em uma tocante narrativa sobre o terror do holocausto. No fim da visita, é possível consultar a base de dados do memorial em busca de nomes de judeus mortos durante o período da guerra.

Lápides: Memorial aos Judeus relembra os mortos durante a 2ª Guerra Mundial

Cartões e cartas: histórias de despedidas e desespero estão narradas em fragmentos reais

Crueldade: fotos mostram os horrores do período da guerra

Memorial aos Homossexuais – Em frente ao Memorial dos Judeus Mortos na Europa, já dentro do Tiergarten, há mais uma lápide, similar às que formam o complexo que relembra o massacre. Desta vez, trata-se de uma homenagem aos homossexuais, também perseguidos pelo regime nacional socialista. Em uma das pontas da lápide há uma pequena janela de vidro, pela qual fica à mostra um monitor que exibe beijos de casais gays.

Memória: dentro da estrutura, vídeo mostra beijos de casais gays

Topografia do Terror – Trata-se de um centro de documentação que, em sua área externa, mostra os restos das paredes e os fundamentos do que já foi o quartel-general da SS e da Gestapo, as forças policiais do regime nazista. Um pedaço do muro de Berlin ainda está no local. O espaço tem bastante foco nas ações repressoras coordenadas por Heinrich Himmler, um dos principais personagens da perseguição aos judeus e outras minorias. A história contada no espaço complementa a do Memorial dos Judeus Mortos na Europa: o centro de documentação mostra as engrenagens da máquina de matar construída pelos Nazistas e como ela operava.

Documentação: porões do espaço que já foi sede da SS serve hoje como memorial

Marcante: um trecho do muro foi preservado e pode ser visitado

Bunker de Hitler – Esse não é um ponto turístico e nem poderia ser diferente. Não há espaço na Alemanha para qualquer lugar que possa se tornar ponto de culto para neo-nazis de plantão. O lugar onde ficava a casamata onde Hitler, sua família e outros oficiais do nazismo tiveram seu fim foi inundado, aterrado e hoje abriga um estacionamento. Fica ao lado do Memorial dos Judeus Mortos na Europa (na Gertrud-Kolmar-Str) e apenas uma placa – colocada pelos moradores vizinhos – conta a história do local e mostra a planta dos subterrâneos da fortaleza.

Estacionamento: não há referência ao bunker em guias de turismo sobre Berlin

Campo de Concentração de Sachsenhausen – Esta é, provavelmente, a visita mais triste que se pode fazer em Berlin. O campo de concentração, que fica nos arredores da cidade (cerca de 35 minutos de trem), foi o primeiro a ser construído e passou a funcionar já em 1936, primeiro como prisão e, depois, como local de matança. Cerca de 200 mil pessoas passara por lá. Os galpões onde os judeus eram alojados de maneira sub-humana, os barracões de enfermaria – onde eram conduzidas experiências com os prisioneiros, a área de fuzilamento e os fornos, onde eram queimados os milhares de corpos, ainda estão no local. A dimensão do espaço é superlativa e o horror é ainda maior quando se imagina que Sachsenhausen foi um dos menores campos. Com o fim da guerra, o campo de Sachsenhausen foi tomado pelos russos e transformado em uma prisão militar. A visita leva ao menos três horas (a partir da chegada no campo) e por isso é bom conferir os horários de funcionamento antes de fazer o deslocamento. 

Portões abertos: visitantes ainda encontram o lema "O trabalho liberta"


 Fornos: estruturas eram usadas para cremar os corpos dos judeus mortos a tiros ou gás

Galpões: eram dezenas de galpões imensos, repletos de beliches

Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche  - A igreja, que fica no início da luxuosa avenida Kurfürstendamm é um dos cartões postais da cidade e marco presente da destruição provocada na Segunda Guerra Mundial. Junto a estrutura severamente danificada, foi construída uma nova igreja e um memorial, embora a torre semidestruída tenha sido mantida. Atualmente, a torre passa por uma reforma e está envolta em tapumes: mas ela não será reconstruída. Apenas restaurada para que permaneça da forma como ficou após os bombardeios sofridos em 1943.

Em reforma: tapumes brancos cobrem a torre atingida por bombardeios 

Museu dos Judeus – Aberto em 2001, o museu conta a história de 2000 anos de presença judaica em Berlin. A história é contada de forma a revelar o porquê as perseguições começaram e mostra ainda como viviam essas pessoas antes da guerra. O museu está na lista dos melhores da cidade.

Centro Anne Frank – Embora Anne Frank nunca tenha colocado os pés na cidade, uma exposição contando sua história foi montada em 1994 para marcar os 50 anos da liberação dos prisioneiros do Nacional Socialismo. O material produzido acabou se transformando em uma exibição permanente.

Casa da Conferência de Wannsee – Um importante capítulo na história da Segunda Guerra Mundial foi escrito em  20 de janeiro de 1942, quando os mais graduados oficiais nazistas se reuniram em uma casa no bairro balneário de Wannsee, em Berlin, para dar encaminhamento ao que ficou conhecido como “a solução final” para os judeus. Neste encontro, a Conferência de Wannsee, não houve discussão sob se as vidas seriam preservadas ou como os prisioneiros seriam tratados: essa já era uma decisão tomada e o foco do encontro era em como exterminar aqueles que os nazistas consideravam uma sub-raça (Untermensch). A casa onde foi feita esta reunião foi transformada em um memorial e pode ser visitada gratuitamente.

Mansão: casa onde foi realizada a Conferência de Wannsee virou um memorial*


Arquitetura nazista – Passear por Berlin é, cruzar, em suas esquinas, com prédios que remontam ao III Reich, construídos em um estilo particular: inspirados no classicismo Romano, porém com linhas sóbrias e retas, muitas vezes chamado de “Severe deco”. Uma vez percebida a identidade das fachadas, fica fácil reconhecer as estruturas e duas das mais representativas construções são, sem dúvida, o prédio do Ministério Federal das Finanças (durante o III Reich, era o Reichsluftfahrtministerium - Ministério da Aeronáutica) e o Estádio Olímpico de Berlin. Em outros, as fachadas ainda trazem suásticas dissimuladas em arabescos decorativos ou, por vezes, a águia que carregava o símbolo nazista não foi apagada, como na fachada do ministério das finanças do bairro de Charlottenburg.

Ministério das finanças: arquitetura sóbria remonta ao regime fascista alemão

Charlottenburg: a águia nazista não foi apagada da fachada do ministério das finanças

Estádio Olímpico: linhas retas e concreto marcam o estilo da obra inaugurada em 1936

* Foto de Clemensfranz, publicada originalmente aqui, licenciada conforme o Creative Commons

Dica de viagem e cultura: as cinco melhores salsichas da Alemanha que você precisa provar


Delíciosas e variadas: Knacker (à frente) e Bratwurst (ao fundo) estão entre as mais populares

Eu nasci em Blumenau (SC) e, por isso, salsicha alemã sempre fez parte do cardápio da família. E pra mim, salsicha alemã significava, invariavelmente, uma combinação colorida: uma vermelha de doer os olhos e uma branca, ambas cozidas. Precisei vir na Alemanha pra aprender que o país tem mais de 1500 tipos de salsichas conhecidas. Esse número, por si só, já é o bastante para refutar qualquer argumento: não existe um tipo de salsicha que possa ser chamada de “alemã”.  Seria como chamar um único prato de “comida brasileira”.

Reclamações a parte, enquanto os restaurantes do Vale do Itajaí não repensam a nomenclatura, fica uma explicação curtinha. A tal da salsicha branca alemã é nada menos que uma Weisswurst, típica da Baviera e estados vizinhos. E a vermelha, bom... essa eu sugeriria chamar de Blumenauer, já que nunca vi nada parecido por aqui.

Mas para quem está de viagem marcada para a Alemanha e tem a sorte de poder provar as salsichas em sua matriz, não há desespero: não precisa transformar as férias em um rodízio de embutidos e enjoar para o resto da vida. A diversidade é tanta que, confesso, em três anos e meio aqui, não consegui provar um quinto delas.  Mesmo assim, já experimentei muito mais salsicha que achei que pudesse existir: desde a Blütwurst da Bavária (feita de sangue e que pode ser servida sem defumar, como se fosse um molho à bolonhesa), à Pinkel (com cereais, servida tradicionalmente com couve amarga, no Norte da Alemanha).

Antes da lista, vale acrescentar um pouco de teoria. Sim: tem disso na hora de fazer salsicha. E por aqui, elas são classificadas basicamente em três grupos: Rohwurst , Brühwurst e Kochwurst. Rohwurst são as salsichas feitas com ingredientes crus e que são vendidas dessa maneira ou passam por um processo de secagem por fumaça (são defumadas). Brühwurst são aquelas em que a carne e os outros ingredientes são processados em pedaços tão pequenos até formarem um patê em que não da pra perceber os ingredientes de forma individual. As salsichas de cachorro-quente se encaixam nessa categoria. Por fim, há ainda a categoria da Kochwurst, que são feitas com ingredientes previamente cozidos.

No meio de tantas, selecionei cinco que arriscaria chamar de essenciais. Cinco sabores distintos, de cinco regiões diferentes para ter uma ideia clara – e deliciosa – da diversidade na produção de embutidos na Alemanha. Anota a lista ai, então, e bom apetite.

Thüringer Rostbratwurst  - Bratwurst é uma das salsichas mais comuns da Alemanha e a Thüringer Rostbratwurst é uma delas. A salsicha tem denominação de origem controlada, ou seja, somente a Bratwurst feita no estado alemão da Turíngia (Thüringer) - que é onde pra onde eu vou me mudar em julho! - e  com uma receita específica pode receber este nome. O que elas tem de especial? São mais temperadas e mais suculentas que as outras do mesmo tipo. Deliciosas! São geralmente servidas como a maioria das salsichas aqui na Alemanha: a Wurst enorme em um pão bem pequenininho. Complete a iguaria com mostarda e não esqueça de lamber os dedos no final.

Saborosa: a tradicional Bratwurst ganhou novos temperos na Turíngia

Berliner Currywurst: Já falei bastante sobre essa iguaria que virou o prato mais típico da capital alemã nesse post aqui. Para resumir, trata-se de uma bratwurst assada e cortada em rodelas, servida com catchup temperado e curry. Não da pra visitar Berlin sem provar uma dessas, de preferência no tradicionalíssimo Curry 36.  Tem até um museu só pra falar da Currywurst: é assunto sério para os alemães.

Berlinense: a salsicha típica da capital alemã ganhou até um museu

Nüremberger Bratwurst: mais uma daquelas com denominação de origem controlada. Ou seja, tem que ser feita em Nürnberg pra ter esse nome. A Nüremberger é uma Bratwurst pequena, entre 7 e 9 centímetros, fina e temperada com bastante manjericão. É, sem dúvida, uma das mais populares no país e, apesar de ser produzida apenas na Baviera vende na Alemanha inteira e foi parar até no  McDonald's. Isso mesmo: em uma promoção temporária, apareceu uma opção de lanche com três salsichas Nürnberger dentro do pão: der Nürnburger.

McDonald´s: a salsicha de Nüremberg virou o Nürnburger**

Weisswurst : É aquela que o Brasil – ou ao menos o Vale do Itajaí – decidiu chamar de salsicha alemã. Popular na Baviera, é pouco consumida nas demais regiões da Alemanha. A Weisswurst é preparada cozida e servida, geralmente, no café da manhã, acompanhada de Bretzel. Originalmente era feita com carne de vitela e toucinho de porco, mas atualmente a maioria delas é feita apenas de porco. Deve ser servida inteira, bem quente e, na hora de comer, é preciso tirar a pele com a boca ou com os talheres.  Combina deliciosamente com mostarda doce.

Do Sul: a Weisswurst é a queridinha da Baviera***

Bremer Knacker : Essa não é tão famosa por este nome, mas é certamente uma das mais gostosas. Trata-se, na verdade da Bockwurst (que também é vendida no Brasil). O nome Knacker dela vem de uma característica da própria salsicha: a pele que envolve é um pouco mais rígida que o enchimento e, uma vez grelhada, fica levemente crocante ao morder. Lembra, de longe, o tipo de salsicha que se usa no cachorro-quente no Brasil, mas é muito, muito, infinitamente melhor. Além disso, é mais longa e mais grossa, temperada com alho e servida com mostarda amarela em um pão que mal da pra pegar a dita. E a melhor – no melhor esquema de coxinha de rodoviária – fica na Hauptbahnhof de Bremen, próximo a saída dos fundos, exatamente em frente da padaria do Werder Bremen. Não tem como errar. E... na hora de fazer esse post foi que eu me dei conta que, depois de três anos morando em Bremen e tendo comido incontáveis vezes a tal salsicha, eu nunca fiz foto nenhuma dela. Então, a foto que ilustra é de uma propaganda publicada em um site de posto de gasolina. Fazer o quê? 

Knacker ou Bockwurst: a pele mais dura deixa a salsicha "crocante"****

* Foto de Thomas Kees, publicada originalmente aqui, licenciada conforme o Creative Commons
** Foto extraída do site do McDonald´s, publicada originalmente aqui.
*** Foto de Rainer Zenz, publicada originalmente aqui, licenciada conforme o Creative Commons.
****Foto de uma propaganda de posto de gasolina originalmente publicada aqui.

terça-feira, 20 de março de 2012

Brigadeiro na Alemanha: a pegadinha da Rumkugel e porque os alemães não gostam do nosso doce


Eu já escrevi sobre a relação não muito amorosa dos alemães com brigadeiro em uma das colunas Conexão Alemanha (que você pode ler aqui), mas hoje acabei entendendo mais profundamente o porquê de eles não serem tão fãs dessa iguaria que nós, brasileiros, julgamos impossível não amar. A história é bem pessoal e começa assim. Eu, no auge da TPM, fui no supermercado (Rewe) comprar produtos de limpeza para dar conta de organizar o apartamento que estamos entregando (sim, estou mais uma vez de mudança, mas conto isso em outro post mais pra frente).  Então, um item da minha lista eram nozes (uma dica maluca e simples para cobrir marcas e arranhões em móveis e no chão! Rá – como diria a Bruna).

Entro então, bem feliz, no corredor das guloseimas: porque pela lógica alemã, as nozes não ficam com as amêndoas ou macadâmias ao lado dos bolos. Elas ficam junto com os amendoins fritos e bilisquetes diversos no meio dos salgadinhos: o corredor maldito. E lá, com uma plaquinha vermelha retumbante, anunciando a oferta, estava a caixinha abaixo:

Rumkugel: parece brigadeiro, mas não tem nada a ver... :(

Eu já tinha visto mil vezes as tais Rumkugeln (bolas de rum) no mercado – com confeitos de chocolate ou mesmo coloridos – e nunca tinha dado bola. Mas hoje, eu olhei para o pacote e só consegui enxergar brigadeiros. Peguei a caixa e corri para o caixa. Esqueci até de comprar leite e queijo. Então, como criança pequena , abri o tal do pacote ainda no caminho de casa e enfiei a bolinha de chocolate na boca...

...Que vontade de cuspir tudo! Não que as bolinhas sejam necessariamente ruins: mas também não chamaria de boas.  A textura até lembra brigadeiro, mas o sabor predominante é mesmo o de rum e açúcar: pouco se percebe do chocolate. Mas a decepção maior é justamente esperar um sabor e sentir outro. E foi nesse momento que entendi os alemães. Todas as vezes em que fiz brigadeiro para algum grupo de Fritz e Fridas (embora esses sejam nomes não muito comuns aqui!), me perguntaram se os docinhos eram Rumkugeln. Expliquei que não e descrevi a receita dos nossos tradicionais brigadeiros. A reação à prova foi quase sempre a mesma: diferente, muito doce. Claro, como eu, eles foram enganados pelos olhos: esperavam sentir um gosto parecido ao de Rumkugel e se deparam com uma mistura bemmm achocolatada e açucarada.

Mas antes que alguém se desespere e pense que não existe brigadeiro na Alemanha, pode respirar aliviado. Não tem pronto, mas da pra fazer em casa sem problemas. Leite condensado igualzinho ao do Brasil vende em qualquer mercado maior – não os discounters como Lidl, Aldi, Penny. Mercados asiáticos e russos também vendem: custa, em média, 1,50 a latinha (A Mel explica tudinho nesse post aqui). Mas preste atenção: se chama Gezuckerte Kondensmilch. Se estiver escrito apenas Kondensmilch (embora seja uma latinha do mesmo tamanho) se trata apenas de leite evaporado para por no café.  As forminhas é mais fácil de achar perto da Páscoa e do Natal, já que são usadas para acomodar os Pralinen (bombons). Procure por Papier Pralinenförmchen. Eu, particularmente, trago do Brasil ou encomendo dos amigos: as tupiniquins são baratas, leves, lindas e bem mais coloridas.

Ps.: A Mel, que mencionei ai em cima, comentou comigo no Facebook que  passou pela mesma decepção quando era menininha. Ela contou a história dela nesse post aqui. Ta vendo como essas bolinhas malditas enganam? :( 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pepinos Spreewald e a ostalgie: produtos que são a marca registrada da DDR


Existe um termo curioso que aprendi quando cheguei aqui na Alemanha, mas que em 3 anos e meio ainda não tinha feito muito sentido pra mim: Ostalgie, que é um neologismo que mistura nostalgia e “Ost”, de Ostdeutschland, a antiga Alemanha comunista. O termo se refere a costumes, modo de viver, mas também a produtos que as pessoas consumiam naquela época em que o pais eram dois. E mesmo passados 21 anos da reunificação (3 de outubro de 1990), há quem ainda prefira ter nos armários de casa os produtos que eram vendidos nos mercados controlados pelo governo nos tempos de comunismo. Existem lojas especializadas só em produtos da época.

Ostalgie: brinquedos, utensílios e outros ítens de um mercado da DDR

No ano passado eu participei de um sorteio no Blog da Mel (que eu recomendo demais!!) e ganhei um kit muito bacana de produtos da antiga DDR que acompanhava o livro “ParaísoSem Bananas”, da  historiadora e escritora Neusa Arnold-Cortez (tá tudo contadinho nesse post aqui). Agora, morando em Berlin, essa coisa toda das duas Alemanhas é muito mais presente e mesmo nos supermercados se nota a diferença: as prateleiras têm muitas coisas que nunca via em Bremen. Recentemente, quando estive em Leipzig, percebi ainda mais itens dessa lista. Mostardas Bautzner de todos os sabores, o mesmo com o Russisch Brott, um doce bemmmm doce que fica no meio termo entre biscoito e suspiro, vendido em forma de letrinhas.

Damenkittel: modelito das donas de casa da Alemanha comunista*

Em uma loja popular da Alemanha (a Woolworth, mas pode chamar de Wooly) vi até mesmo uns vestidos coloridos e de um material duvidável  que custei a entender: em uma visita ao Museu da DDR descobri que eram, na verdade, uma espécie de guarda-pó, peça central do vestuário feminino para o trabalho doméstico oferecidos pelas lojas estatais chamado Damenkittel.  Fiquei com vontade de comprar um só pelo valor histórico da peça, mas com essa vida de mambembe, não sei se vale ficar arrastando mais um pedaço de pano mundo a fora.

Spreewald: para quem viveu na DDR, gostinho de saudade

Mas tem outro item que se enquadra na ostalgie que eu acabei comprando. Na verdade, esse post era só pra falar disso e acabei esticando a conversa, como sempre. :) Trata-se do pepino em conserva Spreewald, que levam o nome da região onde são produzidos. Eles ficaram famosos com o sucesso do filme Adeus Lenin (Goodbye Lenin!, de 2003).  Em uma cena bem clássica (no vídeo abaixo, a partir de 42 segundos),  o personagem Alexander'Alex' Kerner  (interpretado por DanielBrühl), vai ao supermercado em busca do tal pepino, o favorito de sua mãe doente. Sem encontrar, acaba buscando alternativas para repor a iguaria e não permitir que sua mãe perceba que o muro caiu.



Bom, já formam spoilers o bastante pra um post só. Quem não viu o filme, precisa resolver isso o quanto antes. Pra quem já viu, vale dizer que a mãe da história, ChristianeKerner (interpretada por Katrin Saß) tinha razão em ser fã dos pepinos: suaves e ao mesmo tempo levemente picantes, entraram na lista dos meus favoritos. Por hora, tem sabor de Alemanha. Mas creio que um dia, quando estiver de volta ao Brasil, também vão ter para mim um gostinho de saudade.

*A foto foi tirada de um anuncio no e-bay, que você encontra nesse link.

domingo, 11 de março de 2012

Spätzle: Receita típica rápida com sabor de tradição alemã



Não seria exagero afirmar que, depois de porco com batata, o Spätzle é uma das comidas mais populares da Alemanha, especialmente no Sul. É também muito apreciada na Áustria, Suíça e mesmo no Norte da Itália. Essa massa – que fica em um meio termo entre nhoque e macarrão – é saborosa e fácil de preparar.  Pode ser servida com Goulasch (carne de panela ensopada) ou em sua versão mais tradicional: com queijo, simplesmente.  Trata-se de um prato que sempre preparo quando recebo visitinhas do Brasil: tem sabor de Alemanha mas, ao mesmo tempo, não se trata de algo pesado. Também é uma opção saborosa para receber amigos vegetarianos.  

Na verdade, eu fiquei me perguntando como não publiquei um post sobre Spätzle até agora. A foto ai de cima foi minha irmã quem fez: foi uma janta com vários pratos com mini porções de comida alemã que preparei quando ela veio me visitar há poucos dias. Esse aí da foto servi acompanhado de linguiça Cabanossi fritinha: é igualzinha a calabresa que vende no Brasil. Também acompanharam pepinos emconserva e molho de raiz forte (Meerrettich)

Enfim, são várias as formas de preparar esse prato e existem vários assessórios pra isso: mas é possível fazer a receita em casa sem nenhum apetrecho especial: basta uma tábua de cortar carne e uma faca grande (as facas de pão são boas para isso). Um espremedor de batatas também pode ser útil. Mas a receitinha que posto aqui hoje é a mais simples. Então anote tudo ai.

Ingredientes para a massa:

1 ovo por pessoa
Trigo que baste
2 colheres de leite para cada ovo
Sal a gosto

Preparo da massa:

Misture o ovo com o trigo até obter uma consistência um pouco mais dura que uma massa de bolo. Pelo vídeo é possível ver qual. Coloque sal a gosto na massa (ou na água, se preferir). Use o leite para ajustar a textura. Coloque água em uma panela e deixe ferver. Acrescente sal.  Coloque duas ou três colheres bem cheias da massa em uma tábua de cortar carne (quanto mais lisa, melhor). Molhe uma espátula ou uma faca grande (como de pão, por exemplo) na água quente e, com o lado inverso ao corte, vá separando pequenas porções da massa e colocando na água. Deixe cozinhar até que o Spätzle suba à superfície e então, tire da água e reserve em um escorredor. Faça pouco de cada vez e vá sempre tirando da água. Fica mais fácil de trabalhar.

Pra provar que a coisa não é complicada, não sou eu fazendo no vídeo ai não: é minha irmã (Danke por servir de “modelo”, Rafa!!) que tinha acabado de aprender a receita.



Käsespätzle:

O jeito mais tradicional de servir é com queijo: basta misturar queijo (qualquer tipo que não libere água) e pronto. Eu gosto de refogar uma cebola (na manteiga ou no óleo de oliva), um dente de alho cortadinho e acrescentar à mistura. Fica um gostinho especial.

Na internet existem várias outras opções: com a massa mais fina, mais grossa. Não há receita certa ou errada: cada um tem seu jeito de fazer, como o dessa Oma aqui de algum lugar no Sul. A massa que ela prepara é um pouco mais dura, mas o motivo de eu ter publicado o vídeo é outro: fiquei tonta só de olhar a velocidade com que ela trabalha (a partir dos 47 segundos). Quem sabe um dia eu chego lá!


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