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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Opinião: Uma piscina com uma suástica é uma piscina de dejetos

Na parede da universidade: neonazistas são denunciados publicamente na Alemanha

Embora algumas pessoas tenham me questionado, não tinha escrito até agora sobre os achados fascistas do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, porque acho que o que se deve pensar sobre o assunto é obvio. Já escrevi sobre isso várias vezes aqui no blog: sobre neonazistas nas ruas de Weimar, sobre os rastros do nazismo em Berlim e sobre os sinais para identificar neonazistas.

Mas essa notícia de hoje, de que um homem de 93 anos que trabalhou por dois meses como voluntário em Auschwitz será julgado, ajuda a ilustrar e deixa claro o que a Alemanha pensa do nazismo: ele não é tolerado. Não importa quanto tempo faz que a SS marchou pelas ruas da capital alemã, esse é sim um assunto espinhoso no país e sempre será. Porque o nazismo é uma vergonha que o povo alemão vai carregar (e tem que!) pra sempre. Não existe nada de bom, nenhum exemplo que pode ser tirado de um regime que matou 6 milhões de pessoas. A não ser a lição de que isso nunca pode ser repetir, por nada.

Por isso qualquer pessoa que simpatiza, mesmo que vagamente com o nazismo, é um idiota. E quem tem uma piscina com uma suástica no fundo, mesmo que seja para seu uso privado e “secreto” é um sociopata. Quem defende que a suástica é um símbolo zen, muito anterior ao nazismo não é ingênuo: ou é burro ou é mal-intencionado. É como dizer que, no Brasil, uma estrela não representa o PT ou tucano não simboliza o PSDB porque existem muito antes dos partidos. Quem defende que a privacidade do cidadão foi violada, devia saber como a Alemanha trata seus fascistas modernos: com cartazes pelas ruas, expondo suas caras e suas vidas. Porque a comunidade tem o direito de saber quem são essas pessoas. Mesma razão pela qual o partido NPD (sabidamente nazi!) existe: para que se possa acompanhar, controlar, coibir e desencorajar qualquer engajamento popular a causa.

Pra mim, só existe uma coisa pior que o nazismo: o neonazismo. Porque o nazismo, quando começou, lá em 1933, até se pode alegar que não tinha intensões claras de matar (embora eu não compartilhe essa impressão) e que por isso teve tanto seguidores. O neonazismo não: as pessoas sabem claramente o esgoto moral onde estão se enfiando e fazem questão de chafurdar na m. Neonazismo não tem desculpa: é falha de caráter, desvio moral e, sobretudo é crime e assim é tratado aqui na Alemanha. Se o país que foi responsável – e paga caro por isso até hoje, financeira e moralmente – combate veementemente sua extrema direita, a agressão contra estrangeiros, a discriminação e a xenofobia, só lunáticos pensam que “é um exagero se importar com algo que aconteceu há tanto tempo”.

Minhas idas e vindas aqui na Alemanha me permitiram saber que o sobrenome que carrego esteve nos dois lados da guerra. Há muitos Ebel na lista de soldados alemães que serviram o Reich. Há tantos outros na lista de mortos nos campos de concentração que já visitei (e todo mundo deveria visitar para saber de verdade o que eram!). Essa dicotomia genética, a cor dos meus olhos e do meu cabelo, no entanto, nunca foi razão para que eu sequer deitasse um segundo pensamento pela causa ariana, porque qualquer pessoa com consciência moral o bastante para diferenciar o certo do errado não pode aceitar nenhuma simpatia por qualquer palavra nacional socialista. E a piscina com a suástica pode estar cheia de água, mas não vejo nada além de um tanque de excrementos: igualzinho a quem concorda que essa é uma ideia aceitável. 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Natal na Alemanha: saudades do tempo em que a neve era de algodão e o Papai Noel suava em bicas


Quando eu era criança, adorava ficar colocando bolinhas de algodão na árvore de Natal, aquele pinheiro que tinha que ser montado no dia 23 pra ainda estar verde no dia 24, tamanho é o calor que faz em Blumenau nessa época do ano. Mas eu achava que aquele algodão era igualzinho a neve e, na minha cabeça, com pouco senso estético, era como ter um Natal branco. Depois de seis anos na Europa, nunca tive um, embora a previsão do tempo sempre me encha de esperança e salve minha árvore dos algodõezinhos.  

Na Alemanha descobri um Natal mais parecido com os contos de fada. Os mercados com seu perfume de amêndoas carameladas e vinho quente temperado. A decoração de bonecos de neve, renas e quebra-nozes, com uma presença pequena do vermelho Noel, frequente no Brasil. O frio, o vapor quente que sai da boca, a mão coberta de luvas para carregar as sacolas com presentes e os ingredientes enjambrados para fazer uma ceia brasileira no outro lado do oceano.

O Natal na Alemanha é o Natal que eu sonhava na minha infância e o Natal da minha infância é o que tem me feito sonhar todos os dias agora. Mesmo que todo o Papai Noel pareça ridículo quando o termômetro marca 40 graus, sinto falta de ver aqueles heróis (e heroínas, algumas vezes!) de algodão colado na cara ou usando aquelas máscaras plásticas de traumatizar qualquer infância, derretendo de calor sob uma touca vermelha. Ando com saudade de suar para limpar a casa e de passar horas cozinhando pratos que nada combinam com a temperatura tropical.


Mas o que eu mais sinto falta, mesmo, são os cheiros. Na semana no Natal, a grama da minha casa sempre era cortada, um zelo de deixar tudo pronto para receber visitas, e quando a máquina picava as folhas, o sol cozinhava tudo e subia aquele cheiro. Melhor que isso, só cheiro de trovoada.  Na casa da minha infância – que era lilás! Ah, quem teve o privilégio de viver em uma casa lilás com verdinho!?!? – o chão era de madeira e se fecho os olhos, o cheiro de cera cremosa passada a duras penas pelo assoalho sobe pelas minhas narinas. Se mistura no ar com o cheiro de óleo de peroba e a cara vermelha da minha mãe, esbaforida, tirando mais uma formada de bolachas do forno.

Sinto falta do cheiro da minha cidade, dos pés ganhando calos das sandálias que batem a rua XV de ponta a ponta em busca dos últimos presentes. Sinto falta dos amigos secretos, dos tantos encerramentos e festas de fim de ano que se tem: da hidroginástica, do clube, da confraria, do trabalho, das amigas... Sinto falta até mesmo dos presentes trocados nesses momentos, que quase sempre eram uma desgraça e rendiam antipatias até o Carnaval.

Lembro de uma vez, em um desses amigos tantos, que fui presenteada com um corte de tecido de viscose estampado, quando tudo o que eu queria era uma imitação de sandália plástica que custava cinco a menos do que o preço acordado. Vai ver meu amigo da época suspeitou de um gosto que eu não demoraria a questionar.

E para piorar essas saudades tantas, esse ano minha árvore jaz em uma caixa, os enfeites em outra e a chance de eles se encontrarem são as menores do mundo. Estou me mudando mais uma vez e, de Natal,  só mesmo os mercados da rua, e sua mesmice impessoal: sem uma árvore montada em casa, a cidade mais parece um showroom de decoração para uma temporada de festas que esse ano não chegou pra mim.

As saudades são enormes, tantas que doem. Poucas vezes tive tanta nostalgia de Natais já idos e nunca antes achei que um Natal suarento tivesse tanta graça. Trocaria qualquer chocolate suíço por uma sombrinha de chocolate Saturno, doce e hidrogenado, que minha mãe pendurava na árvore junto com os papais-noéis e bolas de vidro...



Esse post faz parte do “Coletivo de Natal” do grupo Blogueiros e Blogueiras brasileiros na Alemanha. Para conhecer outros trabalhos sobre a natividade preparados pelos lusófon@s, clique aqui.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Alemanha em detalhes: uma visita detalhada aos mercados de Natal, os tradicionais Weihnachtsmarkt


Há quem diga que mercado de Natal é assim: quem viu um, viu todos. É evidente que há muitas coisas em comum entre eles: são 4,5 mil mercados espalhados por toda a Alemanha e que recebem anualmente 180 milhões de pessoas, movimentando cerca de 1,9 bilhões de Euros. Um baita negócio!

Cada mercado tem suas peculiaridades, claro. O primeiro teria sido o de Dresdem, que completa 580 anos de atividades em 2014. Alguns mercados – ou parte deles – tentam manter costumes medievais: serve bebidas em canecas de barro e seus vendedores se vestem com roupas tradicionais. 

Mas alguns itens são obrigatórios em todos os Weihnachtsmarkt da Alemanha: vinho quente, amêndoas caramelas, Lebkuchen e barracas de artesanato ou produtos decorativos. Montados em uma praça com uma grande árvore de Natal ao centro, alguns mercados são mais charmosos que os outros, mas em todos é preciso beber algo quente para escapar do frio. 

Quer saber o que se encontra de Norte a Sul, de Berlim às pequenas cidades? É só conferir as imagens abaixo, feitas em diferentes cidades da Alemanha. É mais ou menos como visitar todos os mercados em quatro fotos e sem nem gelar as mãos!


Uma visão geral:


Barraquinhas de enfeites:


As bebidas quentes:


Doces do advento:


E pra quem ficou querendo mais, basta acessar a página do blog no Facebook. Por lá você encontra links para albuns de fotos com muito mais detalhes dessa época maravilhosa do ano. É só curtir!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Inverno na Alemanha: sete dicas para turistas ou quem está chegando para enfrentar o frio pela primeira vez


Dias curtos, calçadas lamacentas com neve derretendo e areia grossa usada para evitar escorregões. Vento, termômetros abaixo de zero e nariz vermelho. O inverno na Alemanha pode não ser a época do ano mais convidativa, mas com roupas adequadas é possível aproveitar muito. Já falei um pouco da importância de usar as roupas certas para o frio alemão, já reclamei da neve e também escrevi especialmente para turistas que planejam conhecer a Alemanha no inverno. Mas as dicas que vem agora valem para todos: visitantes ou para quem está chegando para morar aqui. Não basta apenas um bom casaco para encarar o frio. É preciso tomar alguns cuidados para não transformar a temporada de neve em um pesadelo para o corpo.

Tome banhos curtos e não muito quentes – A tentação de deixar a água bem quente correr a vontade pelo corpo é grande. Diferente dos dias gelados do Sul do Brasil, onde os chuveiros elétricos transformam a hora do banho em um tormento, por aqui a água corre quente e em abundância no banheiro aquecido. Mas a água da Alemanha é “pesada”, contém uma quantidade de minerais muito grande – especialmente calcário – e resseca a pele rapidamente. No terceiro ou quarto banho por aqui já começam a aparecer descamações e pequenas rachaduras até. Por isso, quanto mais rápido for o banho e menos quente, menos a pele é agredida. Prefira sabonetes líquidos que ressecam menos.

Use hidratante oleoso pelo corpo todo – Mesmo quem tem a pele oleosa vai notar rapidamente a diferença e precisa se proteger. Uso aqui na Alemanha cremes que sequer vendem no Brasil, tamanha a oleosidade da sua fórmula e só assim para evitar maiores problemas. Dois ou três dias de banho quente sem usar hidratante depois podem ser bem danosos: erupções cutâneas como brotoejas podem aparecer, coceiras e ardor também. É importante tomar cuidado.

Invista em uma boa luva – As luvas de lã que são vendidas no Brasil ou que se encontra em qualquer lojinha de 1 Euro, pouco ou nada adiantam. Vale a pena investir em uma luva de couro ou mesmo em uma de esqui, forrada e impermeável. Aliás, se não tiver uma assim, tentar fazer um boneco de neve pode ser uma brincadeira bem dolorosa. A neve queima os dedos e as luvas vão ficar molhadas, piorando ainda mais a situação. Na hora de comprar um casaco, observe ainda se os bolsos são forrados, o que vai ser bem útil durante as caminhadas para ver a cidade.

Compre palminhas de lã – Calçados de sola fina deixam o frio subir e pés gelados trazem muito desconforto. Por isso, quando for comprar botas, prefira aquelas com solado de borracha grosso, com boas travas para não escorregar na neve. Além disso, compre um número que não fique tão justo e acrescente uma palmilha de lã (custam 1 ou 2 euros em lojas de produtos Made in China ou lojas de cosméticos com o Rossmann ou a DM). Elas geralmente são de tamanho único e vem com marcas para recortar conforme o tamanho do pé. Não esqueça que os sapatos na Alemanha têm uma numeração diferente: quem calça 36 no Brasil, vai usar 38 aqui. Isso vale para mulheres e homens.

Carregue uma meia seca na bolsa – Mesmo sapatos impermeáveis não garantem pés secos o dia todo. O próprio suor do corpo pode se condensar no sapato, especialmente nas pontas e deixar os dedos bem gelados. Por isso, carregue sempre um par de meias secas na bolsa e, se os pés gelarem, pare em um lugar quente e, quando tiver a oportunidade, coloque meias secas. Além da sensação desagradável, os pés frios podem ser um convite para um resfriado.

Não desespere se o nariz sangrar – O aquecimento resseca o ar dos ambientes e uma boa dica é manter umidificadores no quarto. Nem sempre os hotéis têm isso e é normal as pessoas terem pequenos sangramentos nasais nessa época do ano. Isso porque o ar seco provoca pequenas rachaduras dentro do nariz, que sangram. Para evitar – e aliviar! – essa situação a medida é bem simples. Passe em uma loja de cosméticos como Rossmann, DM, Müller e outras do tipo e, na estante dos medicamentos, junto aos sprays para o nariz, compre um tubinho de Nasen Heilsalbe. É uma pomada que vem em um tubo pequeno, a base de dexpanthenol, que protege a cavidade nasal do ressecamento.

Não tente ser o valentão e aguentar o frio – Sempre que sentir frio, busque abrigo. Lojas, mercados, cafés e mesmo o transporte público são aquecidos. Faça uma pausa a cada hora ou mesmo em intervalos menores: se aqueça e beba algo quente para só então retomar a aventura. Não tente ser “forte” em um dia gelado e insistir em andar na rua se não estiver agasalhado apropriadamente. Um dia de “coragem” pode significar o fim das férias, com vários dias de cama e de molho para se recuperar.



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