No último final de semana da Oktoberfest eu me senti mais turista do que nunca. Recebi uma amiga da Alemanha por três dias e, com isso, fui experimentar a cidade com os olhos de turista. Isso valendo para tudo: desde os museus às fotos das casinhas na rua XV. Essa experiência merece um post completo e detalhado sobre cada ponto que visitamos, mas vou deixar essas linhas para assim que estiver novamente instalada na Alemanha. Parto em poucos dias e fim de semana já terei trocado o calor cada vez mais forte de Blumenau pelos dias curtos e gelados de Berlin.
Vai ser uma mudança e tanto: acredito que voltar a Alemanha depois de quase dois meses no Brasil deve provocar um novo encantamento, um novo choque, novos pontos de vista. Além disso, mudo de cidade: deixo a simpática Bremen para trás e começo vida nova na fervilhante Berlin, onde tudo começa do zero mais uma vez. Reconhecer a vizinhança, descobrir o melhor Dönner Kebab da cidade e mesmo refazer a rotina. Mas isso me deixa feliz. O maridónnn já me espera por lá e isso torna tudo mais fácil e agradável. É hora de matar as saudades dele, dos amigos, da Alemanha em si... mas de começar a acostumar o coração com as saudades do que fica, mais uma vez, por aqui: a família, os amigos de muitos anos, as ruas de Blumenau, as praias de Floripa, onde me dividi nessas semanas intensas. Vou feliz e triste, mas de certa forma acostumada e sabendo que nunca mais vou ter tudo o que amo em um mesmo lugar.
Mas não queria me despedir de Blumenau sem ao menos um registro, uma homenagem e uma prova do meu amor por essa que, definitivamente, deve ser a cidade mais alemã do mundo ;). Então, nessa minha experiência de turista na própria terra natal, fui ver muitos dos desfiles da Oktoberfest, mas o último, com direito a almofadinha pra sentar na calçada, pipoca e chope distribuído durante o cortejo. Coloco aqui algumas fotos tiradas da beira da rua – não do ângulo das câmeras profissionais dos meus talentosos colegas do Santa e de outros fotógrafos – , mas com os olhos de turista e visitante dessa festa linda e feliz. Só coloco algumas aqui no post: planejo fazer um álbum com as demais, mas é uma forma de dizer: Obrigada, Blumenau, por dias tão alegres!!!
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 10 (final)
Esta é a última coluna publicada no Santa e tem um sabor especial: de satisfação pelo resultado, pelo retorno e de saudade antecipada por essa rotina bacana de escrever para jornal. Fiquei feliz demais com o processo, com o trabalho e com a chance de falar um pouco mais sobre esses dois mundos que agora são minha casa. Espero que os leitores do jornal e desse blog tenham gostado também e convido a todos para acompanharem os próximos passos dessa viagam aqui neste canal!!! Obrigada pela leitura e volte sempre!
Mais e menos
Blumenau encerra sua festa com sentimentos divergentes. Por um lado, respira aliviada o esvaziamento das ruas e a partida de uma horda de foliões movidos a chope. Nesse ínterim até 2012, vêm as promessas e a certeza de que a próxima Oktoberfest será ainda melhor.
E pode ser: se houver mais limpeza nos pavilhões, mais espaço para tendas ao ar livre, mais brinquedos para crianças, mais diversidade nos repertórios de música alemã, mais transporte coletivo nas madrugadas, mais controle na venda de bebidas pra menores, mais opções de comidas típicas nas barraquinhas, mais espaço para as cervejarias locais, mais diversidades nas lojas de souvenires que parecem todas iguais, mais placas de sinalização e mais preparo para receber bem o turista. Melhor se tiver menos filas, menos superlotação, menos exploração no preço dos táxis na madrugada e nos estacionamentos, menos figurantes nos desfiles oficiais, menos sertanejo e funk, menos promessas e mais ações.
Ordnung
A tradução literal de Ordnung é ordem, mas na Alemanha a palavra representa um resumo de como se vive em sociedade. Por lá todas as coisas são feitas de acordo com as regras e por isso funcionam melhor. Isso vale para todos os aspectos da vida diária.
Para cada coisa existe uma norma e cumpri-la integralmente torna a vida mais previsível. A diferença entre o Brasil e a Alemanha não é a ausência do “jeitinho”, mas a convicção de que as regras são feitas para todos e para uma sociedade melhor. E se cada um fizer a sua parte e ajudar a fiscalizar, todos vivem bem.
Mito do Trabalho
Seguir o Ordnung é o que torna a sociedade alemã eficaz. O discurso de que o blumenauense é um povo trabalhador porque herdou isso dos alemães é equivocado. Brasileiros são trabalhadores, muito mais do que a maioria dos povos europeus: aqui se trabalha mais horas, mais horas extras, mais dias e se ganha muito menos por isso. Alemães não são afeitos a tantas horas de expediente, mas as cumprem de forma eficaz.
As férias por lá são maiores também. No geral, dois dias úteis para cada mês trabalhado. E já se pode tirar férias no fim do primeiro mês. Na hora de marcar as datas, feriados e fins de semana são descontados, o que pode garantir até cinco semanas de descanso. Alemães são eficientes na execução de suas tarefas. Mas nem de longe são criativos ou têm o jogo de cintura dos brasileiros.
Espaço coletivo
Depois de um mês em Blumenau, as comparações com a Alemanha são inevitáveis, embora não tenha qualquer conclusão sobre onde é melhor viver. O povo brasileiro é mais alegre, mais espontâneo e isso torna a convivência mais agradável. Alemães são mais reservados. Comida por aqui é muito melhor: frutas em profusão e sabores marcantes. Ainda mais em Blumenau, onde é possível encontrar o melhor dos dois mundos.
No quesito estrutura, o Velho Mundo sai na frente e, além do transporte de qualidade, a sensação de segurança é o que conta mais pontos. Além disso, vive-se melhor com menos dinheiro na maioria das cidades da Alemanha do que no Brasil. Mas há um valor que deveria ser importado por Blumenau o quanto antes: a visão do espaço coletivo. Por aqui, espaços públicos são áreas que não pertencem a ninguém ou que pertencem ao governo, que tem obrigação de cuidar. Por lá, espaço público é entendido como um bem comum, por isso deve ser preservado por todos. Se mudar só isso, a diferença já vai ser grande.
Tchüss
É hora da despedida, de agradecer pela companhia aqui no Oktoberzeitung, nos dias de festa, nos desfiles pela Rua XV. Participei desde a primeira festa, sem falhar uma, por 24 edições (a menina no centro da foto ao lado sou eu aos 9 anos) e só deixei de ir à Vila Germânica nos três anos que fiquei fora. Voltar a Blumenau foi reencontrar minhas raízes. Revi amigos, fiz novos, cantei muito “Ein Prosit”, bebi chope mas, agora, o gosto que fica é de uma saudade antecipada. É hora de voltar para a Alemanha. Convido pra seguir essa aventura entre dois países pelo devoltaanavemae.blogspot.com, ou no Twitter, no @ivanaebel. Danke und auf Wiedersehen!
Diz o ditado:
Alles hat ein Ende, nur die Wurst hat zwei
Tudo tem um fim, só a salsicha tem dois
Para fechar, uma foto pela qual tenho um carinho especial. A menininha ai sou eu, em 1984, na primeira Oktoberfest, desfilando como "dama de companhia" da Rainha Hellen Budag - em uma época em que não haviam as princesas. A foto é do Mario Barbeta e faz parte do acervo do Jornal de Santa Catarina.
Mais e menos
Blumenau encerra sua festa com sentimentos divergentes. Por um lado, respira aliviada o esvaziamento das ruas e a partida de uma horda de foliões movidos a chope. Nesse ínterim até 2012, vêm as promessas e a certeza de que a próxima Oktoberfest será ainda melhor.
E pode ser: se houver mais limpeza nos pavilhões, mais espaço para tendas ao ar livre, mais brinquedos para crianças, mais diversidade nos repertórios de música alemã, mais transporte coletivo nas madrugadas, mais controle na venda de bebidas pra menores, mais opções de comidas típicas nas barraquinhas, mais espaço para as cervejarias locais, mais diversidades nas lojas de souvenires que parecem todas iguais, mais placas de sinalização e mais preparo para receber bem o turista. Melhor se tiver menos filas, menos superlotação, menos exploração no preço dos táxis na madrugada e nos estacionamentos, menos figurantes nos desfiles oficiais, menos sertanejo e funk, menos promessas e mais ações.
Ordnung
A tradução literal de Ordnung é ordem, mas na Alemanha a palavra representa um resumo de como se vive em sociedade. Por lá todas as coisas são feitas de acordo com as regras e por isso funcionam melhor. Isso vale para todos os aspectos da vida diária.
Para cada coisa existe uma norma e cumpri-la integralmente torna a vida mais previsível. A diferença entre o Brasil e a Alemanha não é a ausência do “jeitinho”, mas a convicção de que as regras são feitas para todos e para uma sociedade melhor. E se cada um fizer a sua parte e ajudar a fiscalizar, todos vivem bem.
Mito do Trabalho
Seguir o Ordnung é o que torna a sociedade alemã eficaz. O discurso de que o blumenauense é um povo trabalhador porque herdou isso dos alemães é equivocado. Brasileiros são trabalhadores, muito mais do que a maioria dos povos europeus: aqui se trabalha mais horas, mais horas extras, mais dias e se ganha muito menos por isso. Alemães não são afeitos a tantas horas de expediente, mas as cumprem de forma eficaz.
As férias por lá são maiores também. No geral, dois dias úteis para cada mês trabalhado. E já se pode tirar férias no fim do primeiro mês. Na hora de marcar as datas, feriados e fins de semana são descontados, o que pode garantir até cinco semanas de descanso. Alemães são eficientes na execução de suas tarefas. Mas nem de longe são criativos ou têm o jogo de cintura dos brasileiros.
Espaço coletivo
Depois de um mês em Blumenau, as comparações com a Alemanha são inevitáveis, embora não tenha qualquer conclusão sobre onde é melhor viver. O povo brasileiro é mais alegre, mais espontâneo e isso torna a convivência mais agradável. Alemães são mais reservados. Comida por aqui é muito melhor: frutas em profusão e sabores marcantes. Ainda mais em Blumenau, onde é possível encontrar o melhor dos dois mundos.
No quesito estrutura, o Velho Mundo sai na frente e, além do transporte de qualidade, a sensação de segurança é o que conta mais pontos. Além disso, vive-se melhor com menos dinheiro na maioria das cidades da Alemanha do que no Brasil. Mas há um valor que deveria ser importado por Blumenau o quanto antes: a visão do espaço coletivo. Por aqui, espaços públicos são áreas que não pertencem a ninguém ou que pertencem ao governo, que tem obrigação de cuidar. Por lá, espaço público é entendido como um bem comum, por isso deve ser preservado por todos. Se mudar só isso, a diferença já vai ser grande.
Tchüss
É hora da despedida, de agradecer pela companhia aqui no Oktoberzeitung, nos dias de festa, nos desfiles pela Rua XV. Participei desde a primeira festa, sem falhar uma, por 24 edições (a menina no centro da foto ao lado sou eu aos 9 anos) e só deixei de ir à Vila Germânica nos três anos que fiquei fora. Voltar a Blumenau foi reencontrar minhas raízes. Revi amigos, fiz novos, cantei muito “Ein Prosit”, bebi chope mas, agora, o gosto que fica é de uma saudade antecipada. É hora de voltar para a Alemanha. Convido pra seguir essa aventura entre dois países pelo devoltaanavemae.blogspot.com, ou no Twitter, no @ivanaebel. Danke und auf Wiedersehen!
Diz o ditado:
Alles hat ein Ende, nur die Wurst hat zwei
Tudo tem um fim, só a salsicha tem dois
Para fechar, uma foto pela qual tenho um carinho especial. A menininha ai sou eu, em 1984, na primeira Oktoberfest, desfilando como "dama de companhia" da Rainha Hellen Budag - em uma época em que não haviam as princesas. A foto é do Mario Barbeta e faz parte do acervo do Jornal de Santa Catarina.
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 9
E afinal, o que é salsicha alemã? Confere a coluna de número 9, publicada aqui pelo Santa e fique sabendo um pouco mais sobre essa especialidade germânica!
Salsicha alemã
Menus e propagandas de restaurantes blumenauenses convidam à degustação de uma das mais tradicionais iguarias típicas: salsicha alemã. Mas escolher o prato é quase dar um tiro no escuro, considerando que existem cerca de 1500 tipos de salsicha oficialmente fabricadas na Alemanha.
A tal da salsicha alemã é, na maioria das vezes, a Weißwurst – uma salsicha branca, típica da Baviera que, por lá, é servida com mostarda doce e acompanha os tradicionais pretzel (Brezel, em alemão)...
...Por falar em pretzel, eles são fáceis de fazer em casa. É só fazer uma massa tradicional de pão, deixar crescer e, na sequência, esticar porções como cobras, que serão enroladas na tradicional forma do pretzel, com aquele nó no meio.
Para dar a cor característica, os pretzels são deixados de molho por cinco minutos em uma solução de dois copos de água para uma colher rasa de bicarbonato de sódio. Ao saírem do molho, recebem sal grosso, um corte na parte de baixo (que vai se abrir ao assar) e são levados ao forno em 200°C até ficarem com a cor desejada.
A favorita de Berlim
Se a Weißwurst faz a fama da Baviera, a fervilhante capital alemã prefere outro sabor e se rende à popular Currywurst. Para o preparo podem ser usadas salsichas levemente defumadas ou cozidas, sempre servidas com um molho à base de catchup e curry.
A iguaria é tão popular que ganhou até um museu na cidade: o Currywurst Museum Berlin (www.currywurstmuseum.de ), que conta a história do prato e ainda tem uma lanchonete onde o visitante pode provar as variações da receita. Tradicionais também são os pequenos pratos brancos de papel, de forma retangular, onde a salsicha é servida.
Da para preparar uma versão simples em casa. Basta cozinhar uma salsicha de boa qualidade, cortar em rodelas e dar uma fritadinha. Então, é só colocar em um prato, acrescentar catchup (ou molho de tomate com temperos de sua preferência) por cima e polvilhar com pó de curry. Pode-se saborear pura, mas se a intenção for seguir a tradição berlinense, batatas fritas ou pãozinho francês funcionam como acompanhamento.
Roteiro de sabor
De Norte a Sul da Alemanha é impossível provar todas as salsichas. Bratwurst é o nome genérico dado para as salsichas assadas ou fritas. Kochwust são as pré-cozidas e Rohwurst as cruas, curadas ou defumadas.
No Norte, não deixe de provar a Pinkel, feita com uma pasta de cereais e servida com couve amarga (Grünkohl). A Nürnberger Rostbratwurst vem da região da Francônia e tem de 7 a 9 centímetros de muito tempero e sabor.
No Sul, além da Weißwurst, há uma especialidade austríaca: a Berner Würstel, pequena, com uma mistura de queijo na massa e envolta em uma fina camada de Speck, um presunto cru levemente defumado. Impossível resistir.
Assunto sério
Blumenauense fala muito do orgulho que sente em preservar a cultura alemã e isso é uma demonstração simpática de apreço. Mas não é raro encontrar comentários mais exacerbados sobre o se sentir alemão ou mesmo preconceituosos.
Na Alemanha, nazismo é crime e o país até hoje se envergonha profundamente de sua história fascista. A menção ao tema é o suficiente para por amizades em risco. E pior, fazer piada de nazismo e chamar alemão de Hitler são ofensas sérias.
Alemão de Blumenau (e do Vale) é o que pode haver de mais brasileiro: é mistura de culturas. Na Alemanha, vai logo perceber que é mais um estrangeiro em adaptação, com a vantagem de comer chucrute desde criança!
Passaporte
Descendentes de alemães, dentro de uma série de regras, claro, têm direito ao passaporte bordô. Estrangeiros que residam legalmente no país há oito anos também podem requerer sua cidadania e, neste caso, precisam provar que estão integrados à cultura local. Além de comprovar conhecimentos do idioma, quem pede a cidadania precisa passar em uma prova de conhecimentos gerais sobre a Alemanha, incluindo história, geografia, legislação e cultura geral. Para conquistar a cidadania, o candidato a alemão precisa acertar 17 perguntas de 33, em uma hora de teste. São escolhidas entre 300 pré-selecionadas.
Diz o ditado:
Das Glück ist keine Dauerwurst, von der man täglich eine Scheibe herunterschneiden kann
A felicidade não é uma salsicha de onde se pode cortar todos os dias uma fatia
Espia só o museu da Currywurst em Berlim (foto de divulgação enviada pelo assessoria do museu):
Salsicha alemã
Menus e propagandas de restaurantes blumenauenses convidam à degustação de uma das mais tradicionais iguarias típicas: salsicha alemã. Mas escolher o prato é quase dar um tiro no escuro, considerando que existem cerca de 1500 tipos de salsicha oficialmente fabricadas na Alemanha.
A tal da salsicha alemã é, na maioria das vezes, a Weißwurst – uma salsicha branca, típica da Baviera que, por lá, é servida com mostarda doce e acompanha os tradicionais pretzel (Brezel, em alemão)...
...Por falar em pretzel, eles são fáceis de fazer em casa. É só fazer uma massa tradicional de pão, deixar crescer e, na sequência, esticar porções como cobras, que serão enroladas na tradicional forma do pretzel, com aquele nó no meio.
Para dar a cor característica, os pretzels são deixados de molho por cinco minutos em uma solução de dois copos de água para uma colher rasa de bicarbonato de sódio. Ao saírem do molho, recebem sal grosso, um corte na parte de baixo (que vai se abrir ao assar) e são levados ao forno em 200°C até ficarem com a cor desejada.
A favorita de Berlim
Se a Weißwurst faz a fama da Baviera, a fervilhante capital alemã prefere outro sabor e se rende à popular Currywurst. Para o preparo podem ser usadas salsichas levemente defumadas ou cozidas, sempre servidas com um molho à base de catchup e curry.
A iguaria é tão popular que ganhou até um museu na cidade: o Currywurst Museum Berlin (www.currywurstmuseum.de ), que conta a história do prato e ainda tem uma lanchonete onde o visitante pode provar as variações da receita. Tradicionais também são os pequenos pratos brancos de papel, de forma retangular, onde a salsicha é servida.
Da para preparar uma versão simples em casa. Basta cozinhar uma salsicha de boa qualidade, cortar em rodelas e dar uma fritadinha. Então, é só colocar em um prato, acrescentar catchup (ou molho de tomate com temperos de sua preferência) por cima e polvilhar com pó de curry. Pode-se saborear pura, mas se a intenção for seguir a tradição berlinense, batatas fritas ou pãozinho francês funcionam como acompanhamento.
Roteiro de sabor
De Norte a Sul da Alemanha é impossível provar todas as salsichas. Bratwurst é o nome genérico dado para as salsichas assadas ou fritas. Kochwust são as pré-cozidas e Rohwurst as cruas, curadas ou defumadas.
No Norte, não deixe de provar a Pinkel, feita com uma pasta de cereais e servida com couve amarga (Grünkohl). A Nürnberger Rostbratwurst vem da região da Francônia e tem de 7 a 9 centímetros de muito tempero e sabor.
No Sul, além da Weißwurst, há uma especialidade austríaca: a Berner Würstel, pequena, com uma mistura de queijo na massa e envolta em uma fina camada de Speck, um presunto cru levemente defumado. Impossível resistir.
Assunto sério
Blumenauense fala muito do orgulho que sente em preservar a cultura alemã e isso é uma demonstração simpática de apreço. Mas não é raro encontrar comentários mais exacerbados sobre o se sentir alemão ou mesmo preconceituosos.
Na Alemanha, nazismo é crime e o país até hoje se envergonha profundamente de sua história fascista. A menção ao tema é o suficiente para por amizades em risco. E pior, fazer piada de nazismo e chamar alemão de Hitler são ofensas sérias.
Alemão de Blumenau (e do Vale) é o que pode haver de mais brasileiro: é mistura de culturas. Na Alemanha, vai logo perceber que é mais um estrangeiro em adaptação, com a vantagem de comer chucrute desde criança!
Passaporte
Descendentes de alemães, dentro de uma série de regras, claro, têm direito ao passaporte bordô. Estrangeiros que residam legalmente no país há oito anos também podem requerer sua cidadania e, neste caso, precisam provar que estão integrados à cultura local. Além de comprovar conhecimentos do idioma, quem pede a cidadania precisa passar em uma prova de conhecimentos gerais sobre a Alemanha, incluindo história, geografia, legislação e cultura geral. Para conquistar a cidadania, o candidato a alemão precisa acertar 17 perguntas de 33, em uma hora de teste. São escolhidas entre 300 pré-selecionadas.
Diz o ditado:
Das Glück ist keine Dauerwurst, von der man täglich eine Scheibe herunterschneiden kann
A felicidade não é uma salsicha de onde se pode cortar todos os dias uma fatia
Espia só o museu da Currywurst em Berlim (foto de divulgação enviada pelo assessoria do museu):
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Conexão Alemanha - Coluna 8
Então está ai a coluna número 8, publicada originalmente neste link e também na edição impressa do Santa, claro!
Melhor amigo
O melhor amigo de qualquer alemão é o seu cachorro. Não tente explicar que no Brasil é comum haver animais usados como guardas, que dormem fora de casa: é algo que não vai acontecer na Alemanha. Primeiro pelo rigor do inverno, claro. Depois pelo status que os cãezinhos têm. Por lá, não existem animais de rua. Para ter o seu companheiro, é preciso pagar um imposto anual – que pode variar de R$ 150 a R$ 400 dependendo do Estado. Além disso, em muitas cidades, já há leis que obrigam o cachorro a passar por uma escola – a Hundschule – para andar com o dono em espaços públicos. Nesses locais, se o cachorro morder alguém ou for flagrado sem a documentação em dia, as multas podem ser bem salgadas.
Vaivém
Os cães andam de trem, de ônibus, de bicicleta. Frequentam restaurantes, bancos e outros serviços públicos. Via de regra, são aceitos em todos os lugares, a não ser que haja uma placa explicando que não podem entrar. Supermercados são espaços vetados aos amigos de quatro patas e onde os cães esperam do lado de fora, juntos, sem brigas.
Algumas vezes há pequenos cercados com água e ração oferecidos como cortesia. Se os cães refletem o comportamento dos donos, isso explicaria em grande parte o fato de não se ouvir qualquer latido pelas cidades. Mas nem pense em chamar, acariciar ou fazer gracinhas para os cães alheios. Além do animal dificilmente dar atenção a estranhos, alemães não gostam desse tipo de intimidade com os seus bichinhos.
Vai um remedinho ai?
Passear pelas ruas do Centro de Blumenau é sempre uma experiência renovada. Se olhar for voltado para as lojas, fica difícil de ignorar a quantidade de farmácias. É um exagero. É chocante até.
E essa proliferação desmedida de pontos de venda de remédio reflete, certamente, a abundância de clientela e o uso desmedido dos produtos. Na Alemanha as coisas são diferentes. A lista de remédios vendidos sem receita é pequena e constam analgésicos, pomadas para batidas, antiácidos e alguns xaropes para tosse e antialérgicos leves, por exemplo.
Três escolas
O sistema de ensino alemão é motivo para discussões ferrenhas. De acordo com a Unesco, não se trata do melhor do mundo: ocupa a 13ª posição – um sétimo lugar na Europa –, mas está bem acima da vergonhosa 88ª colocação do Brasil, em um ranking divulgado em março. O que difere mesmo é a separação feita logo após o fim do quarto ano, de acordo com o rendimento escolar das crianças.
Os melhores alunos vão para o Gynamsium, onde são preparados para o Abitur, uma prova cuja nota é usada para a seleção nas universidades. A decisão de onde estudar é feita pela escola e a pressão da família é grande nos estudantes dos primeiros anos para assegurar um futuro promissor. Em qualquer uma das Gesamtschule, como são chamadas as escolas, o primeiro dia de aula é sinônimo de festa: as crianças ganham sacolas em forma de cones com doces e presentes, a tradicional Schultüte.
Público, mas pago!
E quem pensa que o sistema de saúde pública da Alemanha é perfeito, certamente não vive por lá. Não se trata de comparar com a realidade brasileira – que tem muita coisa para melhorar, mas também merece elogios em alguns aspectos.
O fato é que não existe saúde pública gratuita em terras germânicas. O governo é o maior provedor ainda, mas vende os serviços de planos de saúde como qualquer outra empresa privada. E o preço é salgado. Para estudantes, em torno de R$ 175. Para quem passou dos 30 anos, as taxas ficam em torno de R$ 350 por mês.
Os planos de saúde do governo subsidiam o preço de uma série de remédios. Para quem precisa ir à farmácia com receita médica de um plano privado, os valores chegam a cinco vezes mais pelo mesmo produto e nem sempre são reembolsados. Quem quer fazer turismo na Alemanha deve lembrar de ter um seguro de saúde, obrigatório para a estada no país.
Diz o ditado:
Mit jeder neu gelernten Sprache, erwirbt man eine neue Seele
Com cada nova língua aprendida, se ganha uma nova alma
Para ilustrar, da só uma espiada nos cachorrinhos esperando por seus donos do lado de fora do supermercado!
Melhor amigo
O melhor amigo de qualquer alemão é o seu cachorro. Não tente explicar que no Brasil é comum haver animais usados como guardas, que dormem fora de casa: é algo que não vai acontecer na Alemanha. Primeiro pelo rigor do inverno, claro. Depois pelo status que os cãezinhos têm. Por lá, não existem animais de rua. Para ter o seu companheiro, é preciso pagar um imposto anual – que pode variar de R$ 150 a R$ 400 dependendo do Estado. Além disso, em muitas cidades, já há leis que obrigam o cachorro a passar por uma escola – a Hundschule – para andar com o dono em espaços públicos. Nesses locais, se o cachorro morder alguém ou for flagrado sem a documentação em dia, as multas podem ser bem salgadas.
Vaivém
Os cães andam de trem, de ônibus, de bicicleta. Frequentam restaurantes, bancos e outros serviços públicos. Via de regra, são aceitos em todos os lugares, a não ser que haja uma placa explicando que não podem entrar. Supermercados são espaços vetados aos amigos de quatro patas e onde os cães esperam do lado de fora, juntos, sem brigas.
Algumas vezes há pequenos cercados com água e ração oferecidos como cortesia. Se os cães refletem o comportamento dos donos, isso explicaria em grande parte o fato de não se ouvir qualquer latido pelas cidades. Mas nem pense em chamar, acariciar ou fazer gracinhas para os cães alheios. Além do animal dificilmente dar atenção a estranhos, alemães não gostam desse tipo de intimidade com os seus bichinhos.
Vai um remedinho ai?
Passear pelas ruas do Centro de Blumenau é sempre uma experiência renovada. Se olhar for voltado para as lojas, fica difícil de ignorar a quantidade de farmácias. É um exagero. É chocante até.
E essa proliferação desmedida de pontos de venda de remédio reflete, certamente, a abundância de clientela e o uso desmedido dos produtos. Na Alemanha as coisas são diferentes. A lista de remédios vendidos sem receita é pequena e constam analgésicos, pomadas para batidas, antiácidos e alguns xaropes para tosse e antialérgicos leves, por exemplo.
Três escolas
O sistema de ensino alemão é motivo para discussões ferrenhas. De acordo com a Unesco, não se trata do melhor do mundo: ocupa a 13ª posição – um sétimo lugar na Europa –, mas está bem acima da vergonhosa 88ª colocação do Brasil, em um ranking divulgado em março. O que difere mesmo é a separação feita logo após o fim do quarto ano, de acordo com o rendimento escolar das crianças.
Os melhores alunos vão para o Gynamsium, onde são preparados para o Abitur, uma prova cuja nota é usada para a seleção nas universidades. A decisão de onde estudar é feita pela escola e a pressão da família é grande nos estudantes dos primeiros anos para assegurar um futuro promissor. Em qualquer uma das Gesamtschule, como são chamadas as escolas, o primeiro dia de aula é sinônimo de festa: as crianças ganham sacolas em forma de cones com doces e presentes, a tradicional Schultüte.
Público, mas pago!
E quem pensa que o sistema de saúde pública da Alemanha é perfeito, certamente não vive por lá. Não se trata de comparar com a realidade brasileira – que tem muita coisa para melhorar, mas também merece elogios em alguns aspectos.
O fato é que não existe saúde pública gratuita em terras germânicas. O governo é o maior provedor ainda, mas vende os serviços de planos de saúde como qualquer outra empresa privada. E o preço é salgado. Para estudantes, em torno de R$ 175. Para quem passou dos 30 anos, as taxas ficam em torno de R$ 350 por mês.
Os planos de saúde do governo subsidiam o preço de uma série de remédios. Para quem precisa ir à farmácia com receita médica de um plano privado, os valores chegam a cinco vezes mais pelo mesmo produto e nem sempre são reembolsados. Quem quer fazer turismo na Alemanha deve lembrar de ter um seguro de saúde, obrigatório para a estada no país.
Diz o ditado:
Mit jeder neu gelernten Sprache, erwirbt man eine neue Seele
Com cada nova língua aprendida, se ganha uma nova alma
Para ilustrar, da só uma espiada nos cachorrinhos esperando por seus donos do lado de fora do supermercado!
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quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Um bate papo sobre a Alemanha
Na semana passada participei de uma twittcam com o também jornalista Francisco Fresard, o Pancho, sobre Oktoberfest, Alemanha, tradições e tudo o mais. Foi uma conversa bem informal, direto da redação do Jornal de Santa Catarina, que tem publicado minha coluna Conexão Alemanha a cada edição do Oktoberzeitung. A experiência de escrever esse material para o jornal tem sido muito bacana – você pode conferir todas aqui no blog com a tag Conexão Alemanha.
Essa cam mostra um pouco do espírito de tudo isso: um tom leve e descontraído para falar das germanidades e das tradições bem blumenauenses. Por isso achei bacana deixar o material aqui no blog. O papo tem pouco mais de uma hora de duração e fala de assuntos tão diversos quanto futebol, cachorros ou salsichas. Fique à vontade para espiar!!!
Essa cam mostra um pouco do espírito de tudo isso: um tom leve e descontraído para falar das germanidades e das tradições bem blumenauenses. Por isso achei bacana deixar o material aqui no blog. O papo tem pouco mais de uma hora de duração e fala de assuntos tão diversos quanto futebol, cachorros ou salsichas. Fique à vontade para espiar!!!
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 7
Então, pra quem chegou agora, ta ai a sétima coluna publicada pelo Santa:
Repertório alemão
Adiscussão sobre o repertório da Oktoberfest deve ter nascido junto com a festa. Há quem defenda ritmos exclusivamente alemães. Outros aceitam uma versão “Polka” de sucessos nacionais e internacionais. O que parece estar fora da pauta é discussão em torno da diversidade do repertório. Quem percorre os pavilhões pode acreditar que só existem três músicas na Alemanha: Rosamunde, Ein Prosit e Zigge-Zagge Hoi, Hoi, Hoi, do Kristall Quintett.
O problema não está em restringir os ritmos: o que falta para deixar a festa animada é pesquisa e um novo repertório. Quer tocar rock, funk, rap? É só tocar em alemão e juntar nuances da Alemanha moderna às marchinhas e outros ritmos alpinos. É possível dar toques mais irreverentes sem deixar de lado a tradição: existem centenas (milhares!) de outras canções típicas.
Além disso, por que não os sucessos atuais? Das Geht Ab pode ser uma opção. Mais um? A canção Satellite, da cantora Lena, vencedora do Eurovision de 2010.
Gosto musical
Assim como o Brasil dança ao som das festas bregas ou músicas com mais de 20 anos, por lá o estilo também faz sucesso e, ao lado de canções românticas e hits de outras épocas. Mas há coisas impossíveis de explicar. Uma delas é a paixão alemã pelo ator David Hasselhoff – o salva-vidas fortão do extinto seriado SOS Malibu –, que na Alemanha fez sucesso como cantor no final dos anos 80. O hit Looking for Freedom é considerado um dos hinos da queda do Muro de Berlim e empata em popularidade com o bizarro Hooked on a Feeling (vale procurar o clip na internet e ter uns minutos de puro riso).
Seleção
Uma coisa difícil de entender é narrador de futebol na TV alemã: não pelo idioma em si. Difícil é entender o que eles passam fazendo a maior parte do jogo, já que o silêncio impera por longos intervalos e até um espirro tem mais força que o grito de go. A parte cômica (ou trágica) fica por conta dos jogos do Brasil que são televisionados por lá.
Primeiro, que para os alemães, Seleção é o nome do time do Brasil: na verdade, eles falam algo do tipo “Zêlêzáo”. Neste caso, a recíproca é verdadeira: já vi muito jornalista brasileiro chamando o time alemão de “Mannschaft”.
National Elf pode, mas Mannschaft quer dizer apenas “equipe” e pode ser qualquer uma, até mesmo fora de campo. Os narradores alemães também gostam de brincar com as palavras estrangeiras e, entre os comentários, volta e meia sai algo do tipo “jogo bonito”, com todo o sotaque que se possa colocar. Se bem que ultimamente os alemães têm feito mais bonito que os brasileiros...
Conceitos intangíveis
Faltar água e faltar luz são outras duas coisas que não fazem parte do dia a dia alemão. Ou ainda o conselho, a um alemão que planejava visitar algumas capitais turísticas brasileiras, de usar um tênis menos chamativo e evitar expor câmeras fotográficas caras em determinados espaços ou horários. “Porque alguém iria querer roubar meu tênis?” São os detalhes – nem sempre tão pequenos – que tornam diferente viver aqui ou lá.
Paladar brasileiro
Quem muda de país sempre fica com aquela nostalgia da comidinha de casa. Na Alemanha isso não chega a ser um problema. Os ingredientes mais exóticos aos olhos germânicos podem ser encontrados nos mercados maiores ou casas especializadas em produtos brasileiros e portugueses. Tem feijão, farinha, polvilho, leite condensado, aipim, azeite de dendê e até rapadura. O nosso paladar, no entanto, causa um certo estranhamento. Feijoada é considerada diferente. Pão de queijo ganha elogios. Mas tente oferecer espetinhos de coração de galinha e prepare-se para ver a expressão pouco receptiva a essa iguaria tão brasileira. Nem o brigadeiro recebe aprovação: é muito doce para o paladar de lá.
Diz o ditado:
Morgen, morgen, nur nicht heute, sagen alle faulen Leute.
Amanhã, amanhã, só hoje não, dizem todas as pessoas preguiçosas.
Só pra ilustrar esse post, roubei uma fotinho por ai (clicando na foto vc chega ao site onde ela foi originalmente publicada): de encher os olhos e dar água na boca...
Repertório alemão
Adiscussão sobre o repertório da Oktoberfest deve ter nascido junto com a festa. Há quem defenda ritmos exclusivamente alemães. Outros aceitam uma versão “Polka” de sucessos nacionais e internacionais. O que parece estar fora da pauta é discussão em torno da diversidade do repertório. Quem percorre os pavilhões pode acreditar que só existem três músicas na Alemanha: Rosamunde, Ein Prosit e Zigge-Zagge Hoi, Hoi, Hoi, do Kristall Quintett.
O problema não está em restringir os ritmos: o que falta para deixar a festa animada é pesquisa e um novo repertório. Quer tocar rock, funk, rap? É só tocar em alemão e juntar nuances da Alemanha moderna às marchinhas e outros ritmos alpinos. É possível dar toques mais irreverentes sem deixar de lado a tradição: existem centenas (milhares!) de outras canções típicas.
Além disso, por que não os sucessos atuais? Das Geht Ab pode ser uma opção. Mais um? A canção Satellite, da cantora Lena, vencedora do Eurovision de 2010.
Gosto musical
Assim como o Brasil dança ao som das festas bregas ou músicas com mais de 20 anos, por lá o estilo também faz sucesso e, ao lado de canções românticas e hits de outras épocas. Mas há coisas impossíveis de explicar. Uma delas é a paixão alemã pelo ator David Hasselhoff – o salva-vidas fortão do extinto seriado SOS Malibu –, que na Alemanha fez sucesso como cantor no final dos anos 80. O hit Looking for Freedom é considerado um dos hinos da queda do Muro de Berlim e empata em popularidade com o bizarro Hooked on a Feeling (vale procurar o clip na internet e ter uns minutos de puro riso).
Seleção
Uma coisa difícil de entender é narrador de futebol na TV alemã: não pelo idioma em si. Difícil é entender o que eles passam fazendo a maior parte do jogo, já que o silêncio impera por longos intervalos e até um espirro tem mais força que o grito de go. A parte cômica (ou trágica) fica por conta dos jogos do Brasil que são televisionados por lá.
Primeiro, que para os alemães, Seleção é o nome do time do Brasil: na verdade, eles falam algo do tipo “Zêlêzáo”. Neste caso, a recíproca é verdadeira: já vi muito jornalista brasileiro chamando o time alemão de “Mannschaft”.
National Elf pode, mas Mannschaft quer dizer apenas “equipe” e pode ser qualquer uma, até mesmo fora de campo. Os narradores alemães também gostam de brincar com as palavras estrangeiras e, entre os comentários, volta e meia sai algo do tipo “jogo bonito”, com todo o sotaque que se possa colocar. Se bem que ultimamente os alemães têm feito mais bonito que os brasileiros...
Conceitos intangíveis
Faltar água e faltar luz são outras duas coisas que não fazem parte do dia a dia alemão. Ou ainda o conselho, a um alemão que planejava visitar algumas capitais turísticas brasileiras, de usar um tênis menos chamativo e evitar expor câmeras fotográficas caras em determinados espaços ou horários. “Porque alguém iria querer roubar meu tênis?” São os detalhes – nem sempre tão pequenos – que tornam diferente viver aqui ou lá.
Paladar brasileiro
Quem muda de país sempre fica com aquela nostalgia da comidinha de casa. Na Alemanha isso não chega a ser um problema. Os ingredientes mais exóticos aos olhos germânicos podem ser encontrados nos mercados maiores ou casas especializadas em produtos brasileiros e portugueses. Tem feijão, farinha, polvilho, leite condensado, aipim, azeite de dendê e até rapadura. O nosso paladar, no entanto, causa um certo estranhamento. Feijoada é considerada diferente. Pão de queijo ganha elogios. Mas tente oferecer espetinhos de coração de galinha e prepare-se para ver a expressão pouco receptiva a essa iguaria tão brasileira. Nem o brigadeiro recebe aprovação: é muito doce para o paladar de lá.
Diz o ditado:
Morgen, morgen, nur nicht heute, sagen alle faulen Leute.
Amanhã, amanhã, só hoje não, dizem todas as pessoas preguiçosas.
Só pra ilustrar esse post, roubei uma fotinho por ai (clicando na foto vc chega ao site onde ela foi originalmente publicada): de encher os olhos e dar água na boca...
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Conexão Alemanha - Coluna 6
Essa é a coluna de número 6, publicada pelo Santa aqui. As fotos que ilustram são do túmulo original do Dr. Blumenau, na Alemanha, como explica a primeira notinha :)
O homem de dois túmulos
Todos os anos, no dia 2 de setembro, coroas de flores são depositadas no Mausoléu Dr. Blumenau, na Rua XV de Novembro, para homenagear o fundador da cidade. Na Alemanha, Hermann Bruno Otto Blumenau também é lembrado, mas de forma muito mais singela. No cemitério central de Braunschweig, cidade onde ele morreu em 1899, aos 79 anos, Hermann Blumenau, colonizador, é citado como personalidade...
...Na sepultura original – os restos mortais transferidos para Blumenau em 1974 – há apenas mato e abandono. É possível ler, em uma cruz de cimento a informação “fundador da colônia Blumenau no Sul do Brasil”, além dos nomes de Bertha e Christine Blumenau, esposa e filha respectivamente. Nem de longe remete ao zelo e as honrarias que o colonizador recebe por aqui.
Onde fica Blumenau
Blumenau é um nome germânico, sem dúvida. O bastante para deixar os alemães confusos. Em três anos, conheci apenas um que já tinha ouvido falar na cidade. Uma vez, a funcionária do escritório de registros da cidade (Standesamt) insistiu por longos minutos que era a prefeitura de Blumenau que deveria me fornecer um documento de trabalho que eu estava buscando. Depois de eu argumentar se não seria o consulado ou a embaixada alemã é que a situação foi resolvida: ela não havia se dado conta que Blumenau fica no Brasil...
Direto dos anos 1980
Uma diferença grande entre o Brasil e a Alemanha está na relação das pessoas com o próprio corpo. E isso vale para a moda, beleza e outros hábitos. A moda alemã parou nos anos 80. A regra é estar confortável. A relação com a nudez também é diferente. Há muitos espaços para os praticantes de FKK (Freikörperkultur, a cultura do corpo livre), desde praias, parques, saunas e até repúblicas para quem quer viver em casa peladão. O topless impera nas praias e, na hora de trocar de roupa, as pessoas não se acanham em despir-se e vestir-se em espaços comuns, sem constrangimento (na foto abaixo, uma alemã refresca-se em uma praça de Munique).
Sinfonia
Essa relação dos alemães com seus corpos aponta outras diferenças culturais. Uma delas diz respeito aos ruídos corporais. Não se trata de peidar na frente de todo mundo – embora se isso acontecer, ninguém vai comentar o ocorrido. Mas sim de uma sinfonia de narizes. Por aqui, é comum ver gente fungando. Por lá, trata-se de um hábito muito feio e significa que o “fungador” em questão não limpa seu nariz direito. Alemães têm sempre muitos lenços de papel no bolso. Assoar o nariz em alto e bom tom é tão normal quanto um espirro. E pode ir se acostumando: acontece mesmo na mesa do restaurante e de forma nada discreta.
Desfile
Em Blumenau, é preciso dizer que o desfile da Oktober é lindo, organizado e alegre. Mas algumas coisas poderiam ser ainda melhores. A música sertaneja, funk e afins em um volume desconfortavelmente alto nas trilhas sonoras dos carros e “engenhocapeias” não fazem o menor sentido. Na Alemanha, em alguns desfiles, as alegorias são animadas por bandas da moda. Mas no caso, ninguém está tentando reconstruir a cultura alemã.
Diz o ditado:
Der Gesunde weiß nicht, wie reich er ist.O saudável não sabe o quão rico ele é.
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 5
Mais uma coluna Conexão Alemanha. Essa foi publicada hoje no Santa bem aqui, mas também ganhou destaque na capa do jornal. Chique né! :)
Sabores da Alemanha
Salsichas com chucrute e marreco recheado podem ser as principais referências da culinária alemã apresentada durante a Oktoberfest em Blumenau. Mas no dia a dia da Alemanha, as refeições têm outros protagonistas: batata e porco. É claro que a culinária do país não se resume a esses dois ingredientes, mas a criatividade alemã em criar pratos utilizando esses dois itens como base principal merece elogios: batatas cozidas, assadas, salada de batatas, croquetes, fritas ou salteadas. Porco frito, defumado, grelhado, moído e até mesmo cru. Isso mesmo: as receitas de Hackepeter (também conhecida por Mett) são feitas com carne de porco crua, moída fininha, temperada com cebola, sal e pimenta. Há quem acrescente ainda mostarda, alcaparras, cebolinha verde, salsinha e até aliche. É servida com pão preto ou com o tradicional pãozinho e vendidas até mesmo nas cantinas das universidades. No Brasil a iguaria é também chamada de bife tartar, com variações nos temperos, mas preparada com carne bovina crua.
Joelho de porco
E o tradicional Eisbein – também chamado de Schweinshaxe ou Haxe, com variações de grafia conforme a região – pode ser encontrado em toda a Alemanha em diferentes versões, mas, como prato típico, remete principalmente aos estados da Baviera e Baden-Württemberg, além de apreciado na Suíça e na Áustria. O corte preparado é o joelho de porco, mas a tradução revela o que se especula ser a origem do nome do prato. Eis é gelo e Bein, perna. Perna de gelo, literalmente, pode estar ligado ao uso dos ossos das pernas de porco para a fabricação dos primeiros patins de gelo.
Döner Kebab
Os turcos são os estrangeiros mais representativos na Alemanha e somam cerca de 2,7 milhões entre os 80 milhões de habitantes do país. Uma das influências mais marcantes dos turcos está na comida de rua: pizzas, falafel e o mais famoso de todos, o Döner Kebab. O sanduíche é servido em pão redondo (ou em finas massas de pão sírio). Trata-se de um espeto de carne (de carneiro ou de frango, mais comumente) assado e fatiado em lascas finas.
Frutas vermelhas
Na primavera também a Alemanha se enche de sabores e as barraquinhas de aspargos logo incluem um novo produto na sua lista: morangos produzidos no país. Com eles chegam ainda as cerejas, mirtilos, amoras silvestres e framboesas. Na temporada, os mercados reforçam seus estoques de açúcar variados e próprios para a fabricação de geleias. Em ruelas de áreas rurais, os produtores montam barraquinhas para vender as compotas e doces produzidos em casa. O curioso é encontrar muitas delas sem qualquer vendedor. O preço está estampado nos vidros e uma caixinha serve para coletar o dinheiro.
Aspargos
A tradição culinária alemã tem elementos bem sazonais e a chegada da primavera, depois de longos meses de escuridão e temperaturas abaixo de zero, é percebida não apenas pelas flores: é a época dos aspargos. Comer aspargos – os brancos, preferencialmente – é uma verdadeira instituição alemã e barraquinhas são montadas em todas as cidades para comercializar o produto direto das fazendas. Nas regiões mais agrícolas é possível encontrar propriedades rurais que montam restaurantes familiares apenas para servir pratos a base de aspargos.
Marzipã
Os chocolates suíços e belgas podem ser os mais famosos do mundo, mas os alemães não ficam atrás. Além disso, se tem uma coisa em que a Alemanha vence qualquer concorrente é no preparo do Marzipã. A pasta de amêndoas cozidas é uma tradição e a pequena cidade de Lübeck, no Norte do país, é conhecida por seu preparo. De lá saem os melhores marzipãs do mundo. A pasta é usada para rechear bombons de chocolate amargo, mas também no preparo de doces (como o Stollen, espécie de panetone da Alemanha), bolos, biscoitos e mesmo servida pura, moldada nas mais diferentes formas. Na mais tradicional das lojas de marzipã da cidade, a Niederegger, foi construído um museu do marzipã, onde estátuas em tamanho natural feitas de pasta de amêndoa são expostas.
Diz o ditado:
Fresser und Säufer verstehen nichts vom Essen und Trinken
Glutões e beberrões não entendem nada de comida e bebida.
E fica ai uma foto do museu do Marzipã em Lübeck:
Sabores da Alemanha
Salsichas com chucrute e marreco recheado podem ser as principais referências da culinária alemã apresentada durante a Oktoberfest em Blumenau. Mas no dia a dia da Alemanha, as refeições têm outros protagonistas: batata e porco. É claro que a culinária do país não se resume a esses dois ingredientes, mas a criatividade alemã em criar pratos utilizando esses dois itens como base principal merece elogios: batatas cozidas, assadas, salada de batatas, croquetes, fritas ou salteadas. Porco frito, defumado, grelhado, moído e até mesmo cru. Isso mesmo: as receitas de Hackepeter (também conhecida por Mett) são feitas com carne de porco crua, moída fininha, temperada com cebola, sal e pimenta. Há quem acrescente ainda mostarda, alcaparras, cebolinha verde, salsinha e até aliche. É servida com pão preto ou com o tradicional pãozinho e vendidas até mesmo nas cantinas das universidades. No Brasil a iguaria é também chamada de bife tartar, com variações nos temperos, mas preparada com carne bovina crua.
Joelho de porco
E o tradicional Eisbein – também chamado de Schweinshaxe ou Haxe, com variações de grafia conforme a região – pode ser encontrado em toda a Alemanha em diferentes versões, mas, como prato típico, remete principalmente aos estados da Baviera e Baden-Württemberg, além de apreciado na Suíça e na Áustria. O corte preparado é o joelho de porco, mas a tradução revela o que se especula ser a origem do nome do prato. Eis é gelo e Bein, perna. Perna de gelo, literalmente, pode estar ligado ao uso dos ossos das pernas de porco para a fabricação dos primeiros patins de gelo.
Döner Kebab
Os turcos são os estrangeiros mais representativos na Alemanha e somam cerca de 2,7 milhões entre os 80 milhões de habitantes do país. Uma das influências mais marcantes dos turcos está na comida de rua: pizzas, falafel e o mais famoso de todos, o Döner Kebab. O sanduíche é servido em pão redondo (ou em finas massas de pão sírio). Trata-se de um espeto de carne (de carneiro ou de frango, mais comumente) assado e fatiado em lascas finas.
Frutas vermelhas
Na primavera também a Alemanha se enche de sabores e as barraquinhas de aspargos logo incluem um novo produto na sua lista: morangos produzidos no país. Com eles chegam ainda as cerejas, mirtilos, amoras silvestres e framboesas. Na temporada, os mercados reforçam seus estoques de açúcar variados e próprios para a fabricação de geleias. Em ruelas de áreas rurais, os produtores montam barraquinhas para vender as compotas e doces produzidos em casa. O curioso é encontrar muitas delas sem qualquer vendedor. O preço está estampado nos vidros e uma caixinha serve para coletar o dinheiro.
Aspargos
A tradição culinária alemã tem elementos bem sazonais e a chegada da primavera, depois de longos meses de escuridão e temperaturas abaixo de zero, é percebida não apenas pelas flores: é a época dos aspargos. Comer aspargos – os brancos, preferencialmente – é uma verdadeira instituição alemã e barraquinhas são montadas em todas as cidades para comercializar o produto direto das fazendas. Nas regiões mais agrícolas é possível encontrar propriedades rurais que montam restaurantes familiares apenas para servir pratos a base de aspargos.
Marzipã
Os chocolates suíços e belgas podem ser os mais famosos do mundo, mas os alemães não ficam atrás. Além disso, se tem uma coisa em que a Alemanha vence qualquer concorrente é no preparo do Marzipã. A pasta de amêndoas cozidas é uma tradição e a pequena cidade de Lübeck, no Norte do país, é conhecida por seu preparo. De lá saem os melhores marzipãs do mundo. A pasta é usada para rechear bombons de chocolate amargo, mas também no preparo de doces (como o Stollen, espécie de panetone da Alemanha), bolos, biscoitos e mesmo servida pura, moldada nas mais diferentes formas. Na mais tradicional das lojas de marzipã da cidade, a Niederegger, foi construído um museu do marzipã, onde estátuas em tamanho natural feitas de pasta de amêndoa são expostas.
Diz o ditado:
Fresser und Säufer verstehen nichts vom Essen und Trinken
Glutões e beberrões não entendem nada de comida e bebida.
E fica ai uma foto do museu do Marzipã em Lübeck:
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quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 4
E a quarta coluna saiu na edição impressa do Santa, que fica toda disponível aqui, e também no blog Esquenta da Oktober.
Bicicleta
A bicicleta é parte importante do dia-a-dia dos alemães. Crianças, jovens, adultos de todas as profissões, pais rebocando carrinhos de bebês e mesmo pessoas muito idosas não abrem mão desse meio de transporte, nem mesmo sob os dias mais rigorosos de inverno. Há ciclovias em quase todas as cidades, bem sinalizadas e espaço para guardar as bicicletas nos arredores das estações de trem. E como por aqui, na Oktoberfest, os alemães não abrem mão de decorar suas “magrelas”: na chegada da primavera, elas ganham flores nos guidões, cestinhos e mesmo entre as rodas. E se for passear pela Alemanha, fique atento: as faixas vermelhas nas calçadas são exclusividade delas e quem invade leva uma buzinada! Além disso, para pedalar é preciso usar o lado correto da via, ter buzina, luzes e freios em ordem. Para a falta de cada equipamento a multa começa em 10 euros (quase 25 Reais).
Ir e vir
Blumenau enxerga a Alemanha como espelho e, seja pela preservação da tradição dos colonizadores – ou copiando elementos mais recentes da cultura do Velho Mundo – emula a arquitetura, a gastronomia, a dança e tantos outros elementos de lá. Mas deveria copiar mais e não se manter apenas no aspecto cultural: pensar de um jeito um pouco mais alemão na hora de ir e vir traria uma sensível mudança na qualidade de vida de toda a cidade. Uma pesquisa recente, publicada pela Escola Superior de Economia em Bergisch Gladbach mostra que os carros estão perdendo importância para os alemães.
Símbolo de status
Enxergar o carro como um símbolo de status era um comportamento comum entre os anos 60 e 80 na Alemanha. Atualmente, o número de jovens que faz a carteira de motorista e que planeja comprar um veículo cai significativamente: entre 30 e 40% dos jovens alemães que vivem em centros urbanos não tem qualquer intenção de possuir um automóvel. Essa transformação não está unicamente relacionada à eficiência do transporte coletivo. Claro que isso conta muito, mas são outros objetos de desejo – muito mais inofensivos! – que estão em evidência: celulares inteligentes e computadores tablet. Ter um carro não faz o alemão se sentir melhor, mais importante que o vizinho ou mais bonito. Enquanto isso, Blumenau se torna intransitável e difícil de viver...
Pra onde eu vou?
Há mais cultura alemã a ser assimilada por Blumenau. Coisas simples e sem uma demanda elevada de investimentos públicos, até mesmo para melhorar o transporte. Na Alemanha, as empresas locais oferecem um planejador de viagens em seu sites, mas há ainda um de abrangência nacional: www.fahrplaner.de. É só incluir o endereço de e o de chegada: em um clique a informação das linhas necessárias, horários e melhores conexões está disponível (incluindo um mapa com o percurso do endereço citado até o ponto de ônibus). Já nas estações, a informação está disponível em cartazes que seguem o tradicional modelo de mapa de metrô mesmo em cidades que são servidas apenas por ônibus.
Tem ônibus?
Horário de ônibus é fundamental: ninguém gosta de esperar. Estimar o horário em que o ônibus costuma alcançar cada um dos pontos não parece ser uma tarefa tão hercúlea. Saber exatamente a que horas vai chegar o próximo transporte é algo que estimula o uso dos coletivos. Na Alemanha isso tem importância dupla. Quando os placares eletrônicos informam qualquer atraso – mesmo que seja de 1 minuto – a agitação começa na plataforma e o condutor do trem vai enfrentar caras azedas na chegada: alemães são extremamente pontuais . Essa pontualidade dos transportes também é importantíssima no inverno: com temperaturas muitos graus abaixo de zero, ninguém aguenta ficar esperando por muito tempo sem congelar.
Diz o ditado
"Fahre wie der Teufel, und du wirst ihn bald treffen."
“Dirija como o diabo e em breve te encontrarás com ele.”
E a fotinho abaixo foi em um dia de muita neve em Bremen, nos arredores do Jardim Botânico:
Bicicleta
A bicicleta é parte importante do dia-a-dia dos alemães. Crianças, jovens, adultos de todas as profissões, pais rebocando carrinhos de bebês e mesmo pessoas muito idosas não abrem mão desse meio de transporte, nem mesmo sob os dias mais rigorosos de inverno. Há ciclovias em quase todas as cidades, bem sinalizadas e espaço para guardar as bicicletas nos arredores das estações de trem. E como por aqui, na Oktoberfest, os alemães não abrem mão de decorar suas “magrelas”: na chegada da primavera, elas ganham flores nos guidões, cestinhos e mesmo entre as rodas. E se for passear pela Alemanha, fique atento: as faixas vermelhas nas calçadas são exclusividade delas e quem invade leva uma buzinada! Além disso, para pedalar é preciso usar o lado correto da via, ter buzina, luzes e freios em ordem. Para a falta de cada equipamento a multa começa em 10 euros (quase 25 Reais).
Ir e vir
Blumenau enxerga a Alemanha como espelho e, seja pela preservação da tradição dos colonizadores – ou copiando elementos mais recentes da cultura do Velho Mundo – emula a arquitetura, a gastronomia, a dança e tantos outros elementos de lá. Mas deveria copiar mais e não se manter apenas no aspecto cultural: pensar de um jeito um pouco mais alemão na hora de ir e vir traria uma sensível mudança na qualidade de vida de toda a cidade. Uma pesquisa recente, publicada pela Escola Superior de Economia em Bergisch Gladbach mostra que os carros estão perdendo importância para os alemães.
Símbolo de status
Enxergar o carro como um símbolo de status era um comportamento comum entre os anos 60 e 80 na Alemanha. Atualmente, o número de jovens que faz a carteira de motorista e que planeja comprar um veículo cai significativamente: entre 30 e 40% dos jovens alemães que vivem em centros urbanos não tem qualquer intenção de possuir um automóvel. Essa transformação não está unicamente relacionada à eficiência do transporte coletivo. Claro que isso conta muito, mas são outros objetos de desejo – muito mais inofensivos! – que estão em evidência: celulares inteligentes e computadores tablet. Ter um carro não faz o alemão se sentir melhor, mais importante que o vizinho ou mais bonito. Enquanto isso, Blumenau se torna intransitável e difícil de viver...
Pra onde eu vou?
Há mais cultura alemã a ser assimilada por Blumenau. Coisas simples e sem uma demanda elevada de investimentos públicos, até mesmo para melhorar o transporte. Na Alemanha, as empresas locais oferecem um planejador de viagens em seu sites, mas há ainda um de abrangência nacional: www.fahrplaner.de. É só incluir o endereço de e o de chegada: em um clique a informação das linhas necessárias, horários e melhores conexões está disponível (incluindo um mapa com o percurso do endereço citado até o ponto de ônibus). Já nas estações, a informação está disponível em cartazes que seguem o tradicional modelo de mapa de metrô mesmo em cidades que são servidas apenas por ônibus.
Tem ônibus?
Horário de ônibus é fundamental: ninguém gosta de esperar. Estimar o horário em que o ônibus costuma alcançar cada um dos pontos não parece ser uma tarefa tão hercúlea. Saber exatamente a que horas vai chegar o próximo transporte é algo que estimula o uso dos coletivos. Na Alemanha isso tem importância dupla. Quando os placares eletrônicos informam qualquer atraso – mesmo que seja de 1 minuto – a agitação começa na plataforma e o condutor do trem vai enfrentar caras azedas na chegada: alemães são extremamente pontuais . Essa pontualidade dos transportes também é importantíssima no inverno: com temperaturas muitos graus abaixo de zero, ninguém aguenta ficar esperando por muito tempo sem congelar.
Diz o ditado
"Fahre wie der Teufel, und du wirst ihn bald treffen."
“Dirija como o diabo e em breve te encontrarás com ele.”
E a fotinho abaixo foi em um dia de muita neve em Bremen, nos arredores do Jardim Botânico:
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Conexão Alemanha - Coluna 3
A terceira coluna saiu no dia 10/10/11 e ta aqui:
A mais antiga
A Oktoberfest de Munique (ao lado) começou a ser celebrada em 1810. Este ano, na 178ª edição, recebeu quase 7 milhões de visitantes e encerrou no dia 3. É a maior festa popular da Alemanha, mas não a mais antiga. No outro extremo do país, em Bremen, outubro também tem festa desde o ano de 1035 e, em 2011, a Freimarkt – que começa dia 14 e vai até o dia 30 – chega à 976ª edição. A festa é considerada a Oktoberfest do Norte, ocupando uma área de mais de 100 mil metros quadrados e 350 atrações. A Freimarkt começou com a abertura do comércio para mercadores de outras localidades: um dia ao ano, todos tinham o direito de vender seus produtos sem impostos. Em volta da feira, barracas comercializavam comida e bebida, rodeadas por tendas de jogos, shows de bizarrices e atrações de mundos distantes.
A festa do Norte
A Freimarkt pode ser mais modesta que a Oktoberfest de Munique, mas não menos charmosa. A entrada é gratuita. As edições modernas têm pouco a ver com o passado mercantil e se parecem muito mais com os festejos do Sul: desfiles pela cidade, ruelas de barraquinhas, parque de diversões e tendas gigantes com música ao vivo. Se em Munique há os pesados canecos, que vazios chegam a 1,2 quilo, em Bremen a cerveja é servida em copos de meio litro, bem mais leves, deixando a festa parecida com a blumenauense. O site é www.freimarkt.de.
Segunda maior Oktoberfest
Que a Oktoberfest de Munique é o maior festival de cerveja e tradições alemãs do mundo, não restam dúvidas. Mas e a segunda maior? No site oficial da Oktoberfest Blumenau (www.oktoberfestblumenau.com.br), a página de abertura informa que se trata da “Maior festa alemã das Américas” e a expectativa é de receber 600 mil foliões em 18 dias. Mas não é a única na briga pelo posto. As cidades irmãs de Kitchener-Waterloo, no Canadá, estão neste momento celebrando a 43ª edição da Oktoberfest e recebem, anualmente, entre 700 mil a 1 milhão de visitantes.
Reciclável
Pagar o Pfand é parte da cultura alemã. Ele aparece também na hora de comprar cerveja no supermercado. As plaquinhas mostram sempre dois valores: o da cerveja e o preço do recipiente e dos engradados. São registrados separadamente e, quando os cascos são devolvidos – em máquinas que escaneiam as garrafas e identificam o formato – um cupom é emitido e pode ser trocado por dinheiro no caixa ou usado para pagar as compras. Cada garrafa (vazia!) de cerveja custa R$ 0,20 e para as embalagens plásticas e latinhas, a taxa é de R$ 0,62.
Lá e cá
Comparar um pouco das duas Oktoberfest que brigam pela vice-liderança – a de Blumenau e a canadense – parece inevitável: por aqui, a beleza germânica é representada pela rainha e princesas. Por lá, é eleita a Miss Oktoberfest. Nas ruas de Blumenau, o Vovô Chopão é ícone da festa. Os canadenses se divertem com a aparição do Onkel Hans. Este ano, a festa canadense vai até o dia 15.
Chope salgado
Por um litro de cerveja na Oktoberfest de Munique, os foliões pagaram, este ano, cerca de 9 euros (em torno de R$ 22,50). Na hora de pedir o caneco, é preciso dispor de mais dinheiro para pagar um depósito, uma espécie de caução do recipiente (Pfand). O valor varia de 10 a 20 Euros. O sistema de depósito funciona não só para a Oktober, mas para outras festas, além de Biergartens, e até mesmo para as canecas onde é servido o vinho quente (Glüwein, uma espécie de quentão). Para recuperar o dinheiro, é só devolver o copo.
Diz o ditado:
Zeit macht aus einem Gerstenkorn eine Kanne Bier
O tempo faz do grão de cevada um jarro de cerveja
E para ilustrar, vai ai uma fotim da Freimarkt em Bremen:
A mais antiga
A Oktoberfest de Munique (ao lado) começou a ser celebrada em 1810. Este ano, na 178ª edição, recebeu quase 7 milhões de visitantes e encerrou no dia 3. É a maior festa popular da Alemanha, mas não a mais antiga. No outro extremo do país, em Bremen, outubro também tem festa desde o ano de 1035 e, em 2011, a Freimarkt – que começa dia 14 e vai até o dia 30 – chega à 976ª edição. A festa é considerada a Oktoberfest do Norte, ocupando uma área de mais de 100 mil metros quadrados e 350 atrações. A Freimarkt começou com a abertura do comércio para mercadores de outras localidades: um dia ao ano, todos tinham o direito de vender seus produtos sem impostos. Em volta da feira, barracas comercializavam comida e bebida, rodeadas por tendas de jogos, shows de bizarrices e atrações de mundos distantes.
A festa do Norte
A Freimarkt pode ser mais modesta que a Oktoberfest de Munique, mas não menos charmosa. A entrada é gratuita. As edições modernas têm pouco a ver com o passado mercantil e se parecem muito mais com os festejos do Sul: desfiles pela cidade, ruelas de barraquinhas, parque de diversões e tendas gigantes com música ao vivo. Se em Munique há os pesados canecos, que vazios chegam a 1,2 quilo, em Bremen a cerveja é servida em copos de meio litro, bem mais leves, deixando a festa parecida com a blumenauense. O site é www.freimarkt.de.
Segunda maior Oktoberfest
Que a Oktoberfest de Munique é o maior festival de cerveja e tradições alemãs do mundo, não restam dúvidas. Mas e a segunda maior? No site oficial da Oktoberfest Blumenau (www.oktoberfestblumenau.com.br), a página de abertura informa que se trata da “Maior festa alemã das Américas” e a expectativa é de receber 600 mil foliões em 18 dias. Mas não é a única na briga pelo posto. As cidades irmãs de Kitchener-Waterloo, no Canadá, estão neste momento celebrando a 43ª edição da Oktoberfest e recebem, anualmente, entre 700 mil a 1 milhão de visitantes.
Reciclável
Pagar o Pfand é parte da cultura alemã. Ele aparece também na hora de comprar cerveja no supermercado. As plaquinhas mostram sempre dois valores: o da cerveja e o preço do recipiente e dos engradados. São registrados separadamente e, quando os cascos são devolvidos – em máquinas que escaneiam as garrafas e identificam o formato – um cupom é emitido e pode ser trocado por dinheiro no caixa ou usado para pagar as compras. Cada garrafa (vazia!) de cerveja custa R$ 0,20 e para as embalagens plásticas e latinhas, a taxa é de R$ 0,62.
Lá e cá
Comparar um pouco das duas Oktoberfest que brigam pela vice-liderança – a de Blumenau e a canadense – parece inevitável: por aqui, a beleza germânica é representada pela rainha e princesas. Por lá, é eleita a Miss Oktoberfest. Nas ruas de Blumenau, o Vovô Chopão é ícone da festa. Os canadenses se divertem com a aparição do Onkel Hans. Este ano, a festa canadense vai até o dia 15.
Chope salgado
Por um litro de cerveja na Oktoberfest de Munique, os foliões pagaram, este ano, cerca de 9 euros (em torno de R$ 22,50). Na hora de pedir o caneco, é preciso dispor de mais dinheiro para pagar um depósito, uma espécie de caução do recipiente (Pfand). O valor varia de 10 a 20 Euros. O sistema de depósito funciona não só para a Oktober, mas para outras festas, além de Biergartens, e até mesmo para as canecas onde é servido o vinho quente (Glüwein, uma espécie de quentão). Para recuperar o dinheiro, é só devolver o copo.
Diz o ditado:
Zeit macht aus einem Gerstenkorn eine Kanne Bier
O tempo faz do grão de cevada um jarro de cerveja
E para ilustrar, vai ai uma fotim da Freimarkt em Bremen:
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domingo, 9 de outubro de 2011
Conexão Alemanha - Coluna 2
Sigo aqui com a publicação da coluna que estou escrevendo para o suplemento Oktoberzeitung, publicado durante a Oktoberfest de Blumenau, no Jornal de Santa Catarina. Esta é a segunda, que foi publicada originalmente aqui:
Puxando a alegria
Engenhocas, carroças, charretes e carros alegóricos à parte, os desfiles da Oktoberfest de Blumenau também contam com a presença de outro veículo: o Bollerwagen. O pequeno carrinho de madeira é geralmente usado para puxar crianças, flores e, por que não, cerveja! Mas esse discreto elemento da festa é também uma das mais fortes conexões com a cultura germânica. Na Alemanha, além do uso no campo ou nas escolas – para levar grupos de crianças para passeios na vizinhança – o Bollerwagen está no centro de festejos tão diversos quanto o Dia dos Pais, o Carnaval ou o Passeio da Couve.
Um dia para os homens
Dia dos Pais na Alemanha é feriado, mas não por causa deles. A data é celebrada 40 dias após a Páscoa, junto com as comemorações da Ascenção do Senhor (em alemão, Christi Himmelfahrt). Neste dia, filhos e esposas ficam em casa, enquanto os homens enchem o Bollerwagen de cerveja, licores e um destilado à base de centeio chamado Korn. Em grupo, partem para um passeio pelos parques. A bebedeira neste dia é certa: a polícia alemã registra, anualmente, um número elevado de ocorrências como acidentes e brigas.
30 anos
Completar 30 anos é um momento marcante para os alemães, especialmente para aqueles que ainda não casaram. Homens e mulheres celebram cada um com seu grupo de amigos, em torno do Bollerwagen. As mulheres organizam fantasias e pintam a dona da festa para um desfile pelas ruas da cidade e estações de trem. Já os homens têm a missão de conseguir um beijo de uma virgem que o liberte do castigo.
Chucrute X Couve amarga
Chucrute (Sauerkraut, na grafia original alemã) é quase uma exclusividade da culinária do Sul do país e a rivalidade entre os dois extremos do país é grande. Para saborear a iguaria, grupos de amigos organizam a Grünkohlfahrt – algo como O Passeio da Couve – e aí o Bollerwagen entra na história mais uma vez. Decorado com balões e folhas de couve, carrega bebidas fortes para aquecer o grupo durante a caminhada – geralmente sobre a neve – até um restaurante. E o passeio segue seus rituais: todos os anos o grupo escolhe o rei e a rainha da couve, que são os responsáveis pelo passeio no ano seguinte.
Carnaval
Oktoberfest é o carnaval alemão de Blumenau. Mas na Alemanha o carnaval também tem samba. Bom, ao menos o que por lá é considerado samba. Colônia oferece a festa mais famosa do país, com direito a desfile de alegorias. Em outras cidades, os foliões fazem o próprio desfile. Precisa dizer como? Lá vem o Bollerwagen outra vez, cheio de bebidas, ajudando a manter a temperatura nos gélidos dias de festa.
Créu alemão
Vale dizer que alemão gosta de música brasileira, mas tem uma, em especial, que toca em 10 entre 10 rádios praticamente todos os dias há mais de 20 anos. É Chorando se Foi, também conhecida como Lambada, gravada em 1989 pelo grupo francês Kaoma, da vocalista Loalwa Braz. Mas a coisa fica ainda mais complicada. Não se espante se ligar o rádio e ouvir Créu e tenha uma resposta pronta para explicar para as fãs alemãs quem é a Mulher Melancia. Sim: a Mulher Melancia tem fãs na Alemanha...
Diz o ditado:
Betrunkene und Kinder sagen die Wahrheit.
Bêbados e crianças dizem a verdade.
Para ilustrar, o prato de Grühnkol, que eu mesma preparei :)
Puxando a alegria
Engenhocas, carroças, charretes e carros alegóricos à parte, os desfiles da Oktoberfest de Blumenau também contam com a presença de outro veículo: o Bollerwagen. O pequeno carrinho de madeira é geralmente usado para puxar crianças, flores e, por que não, cerveja! Mas esse discreto elemento da festa é também uma das mais fortes conexões com a cultura germânica. Na Alemanha, além do uso no campo ou nas escolas – para levar grupos de crianças para passeios na vizinhança – o Bollerwagen está no centro de festejos tão diversos quanto o Dia dos Pais, o Carnaval ou o Passeio da Couve.
Um dia para os homens
Dia dos Pais na Alemanha é feriado, mas não por causa deles. A data é celebrada 40 dias após a Páscoa, junto com as comemorações da Ascenção do Senhor (em alemão, Christi Himmelfahrt). Neste dia, filhos e esposas ficam em casa, enquanto os homens enchem o Bollerwagen de cerveja, licores e um destilado à base de centeio chamado Korn. Em grupo, partem para um passeio pelos parques. A bebedeira neste dia é certa: a polícia alemã registra, anualmente, um número elevado de ocorrências como acidentes e brigas.
30 anos
Completar 30 anos é um momento marcante para os alemães, especialmente para aqueles que ainda não casaram. Homens e mulheres celebram cada um com seu grupo de amigos, em torno do Bollerwagen. As mulheres organizam fantasias e pintam a dona da festa para um desfile pelas ruas da cidade e estações de trem. Já os homens têm a missão de conseguir um beijo de uma virgem que o liberte do castigo.
Chucrute X Couve amarga
Chucrute (Sauerkraut, na grafia original alemã) é quase uma exclusividade da culinária do Sul do país e a rivalidade entre os dois extremos do país é grande. Para saborear a iguaria, grupos de amigos organizam a Grünkohlfahrt – algo como O Passeio da Couve – e aí o Bollerwagen entra na história mais uma vez. Decorado com balões e folhas de couve, carrega bebidas fortes para aquecer o grupo durante a caminhada – geralmente sobre a neve – até um restaurante. E o passeio segue seus rituais: todos os anos o grupo escolhe o rei e a rainha da couve, que são os responsáveis pelo passeio no ano seguinte.
Carnaval
Oktoberfest é o carnaval alemão de Blumenau. Mas na Alemanha o carnaval também tem samba. Bom, ao menos o que por lá é considerado samba. Colônia oferece a festa mais famosa do país, com direito a desfile de alegorias. Em outras cidades, os foliões fazem o próprio desfile. Precisa dizer como? Lá vem o Bollerwagen outra vez, cheio de bebidas, ajudando a manter a temperatura nos gélidos dias de festa.
Créu alemão
Vale dizer que alemão gosta de música brasileira, mas tem uma, em especial, que toca em 10 entre 10 rádios praticamente todos os dias há mais de 20 anos. É Chorando se Foi, também conhecida como Lambada, gravada em 1989 pelo grupo francês Kaoma, da vocalista Loalwa Braz. Mas a coisa fica ainda mais complicada. Não se espante se ligar o rádio e ouvir Créu e tenha uma resposta pronta para explicar para as fãs alemãs quem é a Mulher Melancia. Sim: a Mulher Melancia tem fãs na Alemanha...
Diz o ditado:
Betrunkene und Kinder sagen die Wahrheit.
Bêbados e crianças dizem a verdade.
Para ilustrar, o prato de Grühnkol, que eu mesma preparei :)
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Conexão Alemanha - Coluna 1
Como falei, estou escrevendo uma coluna para o suplemento Oktoberzeitung, publicado durante a Oktoberfest de Blumenau, no Jornal de Santa Catarina. Vou publicar as colunas por aqui. Esta é a primeira. O texto original esta aqui e você também pode espiar a edição impressa (a coluna está na página 7) em um aplicativo flash aqui.
Ai vai:
Herzlich willkommen!
Blumenau é a cidade mais alemã do mundo, costumo dizer, em tom de brincadeira, para os amigos com quem convivo na Alemanha há três anos. A cidade é uma espécie de releitura do que existe no Velho Mundo. O enxaimel raras vezes é autêntico, as salsichas “alemãs” são exclusividade regional e as tiaras de flores uma interpretação bem própria do que se encontra na Alemanha: e isso faz de Blumenau e de todo o Vale um lugar tão especial. E esse espaço vai falar exatamente sobre essas “germanidades” – preservadas, copiadas ou criadas e um pouco do que existe por lá, onde Blumenau teve suas origens, e onde vivo agora.
Essa coluna nasce de uma combinação feliz: uma escapada das terras alemãs agendada cuidadosamente para outubro, a oportunidade de voltar à redação do Santa, onde escrevi as primeiras linhas como jornalista há 17 anos a vontade de falar um pouco mais dessa relação entre Blumenau e da Alemanha, minhas duas casas, e dividir isso por aqui.
Combustível da festa
A palavra chope, embora tenha ares de importada, só existe no Brasil. Na Alemanha, a Oktoberfest é movida a cerveja e tem até uma receita especial. Trata-se de um tipo de Lager chamado Märzenbier, em uma referência ao mês de março, época em que os últimos blocos de gelo estavam disponíveis para assegurar o tradicional processo de fabricação da bebida. A cerveja era estocada em cavernas, junto com blocos de gelo, para completar seu processo de fermentação. Trata-se de um tipo de cerveja tradicionalmente produzido na região da Francônia, na Bavária e até mesmo na Áustria. Oficialmente, porém, apenas a bebida produzida nos arredores de Munique pode levar o título de Oktoberfestbier.
Ein Prosit
Para os alemães, brindar é quase tão importante quanto a qualidade da cerveja. E na hora do brinde, não vale apenas tocar os copos: é preciso percorrer e cruzar o olhar com cada membro do grupo. O costume é antigo e remonta a diferentes culturas. Inicialmente, representava uma saudação aos deuses como gratidão pela bebida. Já na conflituosa Idade Média, onde envenenamentos eram artifício de conspirações, o brinde assegurava que o líquido de um copo entrasse em contato com o outro, em um gesto que traduzia confiança. Embora a razão do brinde tenha mudado, os canecos reforçados usados na Alemanha não fazem feio na hora do tim-tim: de vidro reforçado, sobrevivem às saudações mais entusiasmadas…
Cerveja quente
E tem o mito de que alemão toma cerveja quente. “Jein”, por assim dizer: Ja (sim) e Nein (não). É verdade que em boa parte do ano os termômetros não passam mesmo dos 5°C, especialmente à noite. Só isso já justificaria beber em temperatura ambiente! Mas de um modo geral, as cervejas são servidas entre zero e 6°C, dependendo do tipo, como forma de acentuar seu sabor. Ainda assim, não vai ser difícil encontrar jovens empolgados saindo do supermercado com uma caixa de cerveja e abrindo a primeira logo ainda na porta.
Água no chope
Água não, mas refrigerante sim! Na Alemanha não é raro ver alguém bebendo uma mistura de cerveja e refrigerante de limão. No norte do país, o drink é chamado de Alster ou Alsterwasser – água do Alster, literalmente, em uma referência ao rio que corta a cidade de Hamburgo. Em direção ao sul, o drink muda de nome, mas não de composição: Radler. Várias marcas já vendem a bebida pronta, engarrafada e a popularidade é grande entre as mulheres. Mas é fácil fazer em casa: basta misturar 60% de cerveja com 40% de refrigerante.
Quem pode beber?
Maioridade na Alemanha é só aos 18, mas com 16 já se pode comprar e beber cervejas. Para os vinhos e destilados – e pasme, isso inclui bombons de licor! – só apresentando a identidade para comprovar que já passou dos 18.
Diz o ditado:
“Wasser trinkt der Vierbeiner, der Mensch, der findet Bier feiner!”
Os quadrúpedes bebem água, pessoas preferem cerveja!
Ai vai:
Herzlich willkommen!
Blumenau é a cidade mais alemã do mundo, costumo dizer, em tom de brincadeira, para os amigos com quem convivo na Alemanha há três anos. A cidade é uma espécie de releitura do que existe no Velho Mundo. O enxaimel raras vezes é autêntico, as salsichas “alemãs” são exclusividade regional e as tiaras de flores uma interpretação bem própria do que se encontra na Alemanha: e isso faz de Blumenau e de todo o Vale um lugar tão especial. E esse espaço vai falar exatamente sobre essas “germanidades” – preservadas, copiadas ou criadas e um pouco do que existe por lá, onde Blumenau teve suas origens, e onde vivo agora.
Essa coluna nasce de uma combinação feliz: uma escapada das terras alemãs agendada cuidadosamente para outubro, a oportunidade de voltar à redação do Santa, onde escrevi as primeiras linhas como jornalista há 17 anos a vontade de falar um pouco mais dessa relação entre Blumenau e da Alemanha, minhas duas casas, e dividir isso por aqui.
Combustível da festa
A palavra chope, embora tenha ares de importada, só existe no Brasil. Na Alemanha, a Oktoberfest é movida a cerveja e tem até uma receita especial. Trata-se de um tipo de Lager chamado Märzenbier, em uma referência ao mês de março, época em que os últimos blocos de gelo estavam disponíveis para assegurar o tradicional processo de fabricação da bebida. A cerveja era estocada em cavernas, junto com blocos de gelo, para completar seu processo de fermentação. Trata-se de um tipo de cerveja tradicionalmente produzido na região da Francônia, na Bavária e até mesmo na Áustria. Oficialmente, porém, apenas a bebida produzida nos arredores de Munique pode levar o título de Oktoberfestbier.
Ein Prosit
Para os alemães, brindar é quase tão importante quanto a qualidade da cerveja. E na hora do brinde, não vale apenas tocar os copos: é preciso percorrer e cruzar o olhar com cada membro do grupo. O costume é antigo e remonta a diferentes culturas. Inicialmente, representava uma saudação aos deuses como gratidão pela bebida. Já na conflituosa Idade Média, onde envenenamentos eram artifício de conspirações, o brinde assegurava que o líquido de um copo entrasse em contato com o outro, em um gesto que traduzia confiança. Embora a razão do brinde tenha mudado, os canecos reforçados usados na Alemanha não fazem feio na hora do tim-tim: de vidro reforçado, sobrevivem às saudações mais entusiasmadas…
Cerveja quente
E tem o mito de que alemão toma cerveja quente. “Jein”, por assim dizer: Ja (sim) e Nein (não). É verdade que em boa parte do ano os termômetros não passam mesmo dos 5°C, especialmente à noite. Só isso já justificaria beber em temperatura ambiente! Mas de um modo geral, as cervejas são servidas entre zero e 6°C, dependendo do tipo, como forma de acentuar seu sabor. Ainda assim, não vai ser difícil encontrar jovens empolgados saindo do supermercado com uma caixa de cerveja e abrindo a primeira logo ainda na porta.
Água no chope
Água não, mas refrigerante sim! Na Alemanha não é raro ver alguém bebendo uma mistura de cerveja e refrigerante de limão. No norte do país, o drink é chamado de Alster ou Alsterwasser – água do Alster, literalmente, em uma referência ao rio que corta a cidade de Hamburgo. Em direção ao sul, o drink muda de nome, mas não de composição: Radler. Várias marcas já vendem a bebida pronta, engarrafada e a popularidade é grande entre as mulheres. Mas é fácil fazer em casa: basta misturar 60% de cerveja com 40% de refrigerante.
Quem pode beber?
Maioridade na Alemanha é só aos 18, mas com 16 já se pode comprar e beber cervejas. Para os vinhos e destilados – e pasme, isso inclui bombons de licor! – só apresentando a identidade para comprovar que já passou dos 18.
Diz o ditado:
“Wasser trinkt der Vierbeiner, der Mensch, der findet Bier feiner!”
Os quadrúpedes bebem água, pessoas preferem cerveja!
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sábado, 8 de outubro de 2011
A estranha sensação de não pertencer a lugar algum
O Blog parece largado às traças, mas em pensamento, tenho produzido muita coisa pra cá. Só faltou tempo pra escrever. Estou de férias, no Brasil, desde o começo de setembro. O primeiro mês foi em Florianópolis, com a família do maridão. Agora que ele voltou pra Alemanha, to em Blumenau, na casa da minha mãe... Além disso, fechamos nosso apartamento em Bremen, encaixotamos a vida, jogamos os móveis fora (não dava pra levar...) e vamos começar uma nova etapa em Berlin.
Devia estar me sentindo em casa aqui – e é claro que me sinto à vontade na casa da minha mãe -, mas o sentimento não é tão simples assim. Estou experimentando uma sensação de deslocamento e de não pertencer a lugar algum. Nunca morei nesta casa (apesar de o endereço ser o mesmo, minha mãe se mudou para uma casa nova e melhor nestes anos que estive fora): não sei onde ficam as coisas, não sei bem as regras, não lembro onde ascender as luzes.
Por outro lado, estou perto dela, de primos que amo tanto como se fossem meus irmãos, de tias que sinto falta, amigos e vizinhos. Fiz coisas que há anos não fazia e me senti feliz demais por isso: acompanhei uma visita do governador (mesmo que o dono da faixa tenha mudado!), comi jabuticaba do pé, vi o sol se por na praia, enjoei de tanto comer ostras, tenho a minha velha gata Cleópatra para esmagar na hora do café. Mas estou longe do meu marido e isso deixa tudo meio incompleto. De certa forma, estou vivendo um “parênteses” na minha vida: um tempo em que não pertenço a lugar algum, que não tenho uma casa pra chamar de minha...
Mas entenda isso como tristeza. Na verdade, os parênteses tem sido muito produtivos! Voltei a trabalhar no jornal, o Santa, onde comecei minha carreira de jornalista em 1994... O clima de redação, horários de fechamento, separar fotos, escrever, escrever... ai! Me apaixonei pelo jornalismo outra vez como há muito não acontecia. E isso tem sido muito bom! Ganhei – pela primeira vez na vida – uma coluna só minha! Se chama Conexão Alemanha e sai no suplemento Oktoberzeitung, que fala das festas de outubro no Vale do Itajaí.
Vou colocar as colunas aqui no blog, afinal, elas seguem um pouco a linha do que escrevo por aqui... e assim divido com mais gente esse trabalho que está me deixando tão feliz!
E para ilustrar o post, fica uma foto da abertura da Oktoberfest de Blumenau, com a cerimônia de sangria do primeiro barril de chope feita pelo Governador Raimundo Colombo e pelo prefeito João Paulo Kleinubing. Vale dizer que ganhei o caneco do vice-prefeito Rufinus Seibt (que aparece bem na esquerda da foto), amigo querido e de longa data ;) e bebi do primeiro chope servido na festa :)
Devia estar me sentindo em casa aqui – e é claro que me sinto à vontade na casa da minha mãe -, mas o sentimento não é tão simples assim. Estou experimentando uma sensação de deslocamento e de não pertencer a lugar algum. Nunca morei nesta casa (apesar de o endereço ser o mesmo, minha mãe se mudou para uma casa nova e melhor nestes anos que estive fora): não sei onde ficam as coisas, não sei bem as regras, não lembro onde ascender as luzes.
Por outro lado, estou perto dela, de primos que amo tanto como se fossem meus irmãos, de tias que sinto falta, amigos e vizinhos. Fiz coisas que há anos não fazia e me senti feliz demais por isso: acompanhei uma visita do governador (mesmo que o dono da faixa tenha mudado!), comi jabuticaba do pé, vi o sol se por na praia, enjoei de tanto comer ostras, tenho a minha velha gata Cleópatra para esmagar na hora do café. Mas estou longe do meu marido e isso deixa tudo meio incompleto. De certa forma, estou vivendo um “parênteses” na minha vida: um tempo em que não pertenço a lugar algum, que não tenho uma casa pra chamar de minha...
Mas entenda isso como tristeza. Na verdade, os parênteses tem sido muito produtivos! Voltei a trabalhar no jornal, o Santa, onde comecei minha carreira de jornalista em 1994... O clima de redação, horários de fechamento, separar fotos, escrever, escrever... ai! Me apaixonei pelo jornalismo outra vez como há muito não acontecia. E isso tem sido muito bom! Ganhei – pela primeira vez na vida – uma coluna só minha! Se chama Conexão Alemanha e sai no suplemento Oktoberzeitung, que fala das festas de outubro no Vale do Itajaí.
Vou colocar as colunas aqui no blog, afinal, elas seguem um pouco a linha do que escrevo por aqui... e assim divido com mais gente esse trabalho que está me deixando tão feliz!
E para ilustrar o post, fica uma foto da abertura da Oktoberfest de Blumenau, com a cerimônia de sangria do primeiro barril de chope feita pelo Governador Raimundo Colombo e pelo prefeito João Paulo Kleinubing. Vale dizer que ganhei o caneco do vice-prefeito Rufinus Seibt (que aparece bem na esquerda da foto), amigo querido e de longa data ;) e bebi do primeiro chope servido na festa :)
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