Berlim é um
destino cada vez mais popular entre os brasileiros e muita gente quer saber
como se virar por aqui. Já viajei bastante na vida e entre todas as cidades
grandes que conheci, diria que Berlim oferece o melhor sistema de transporte
coletivo. É possível locomover-se por toda a cidade 24 horas por dia, em todos
os dias da semana, sem muitos segredos. Mas é preciso ficar atento: ao mesmo
tempo em que as opções são muitas, não existe uma regra única sobre como
proceder. Um bilhete errado implica na mesma multa de andar sem a passagem: 60
euros, sem desculpas. Esse post, então, é um manual de como usar o transporte
da cidade, com sugestões das melhores opções de tickets para quem está vindo
passear por aqui e quer economizar.
Dicas importantes
antes de começar: assim que souber onde vai se hospedar, verifique as opções de
transporte em volta, incluindo o nome dos pontos de ônibus e não apenas das
opções sobre trilhos. Faça o download de uma versão off-line do mapa de
transporte de Berlim no celular. Na primeira estação grande que cruzar
(Alexanderplatz, Hauptbahnhof, etc) ou centro de informações turísticas, vá ao
serviço ao cliente e pegue um mapa impresso do transporte da cidade (nem sempre
ele está disponível nas plataformas e, em algumas, foi vandalizado e está
ilegível!). Se tiver acesso à internet durante a viagem, faça o download do
aplicativo da empresa de transportes BVG (disponível também em inglês). Por
fim, saiba que os preços informados aqui são da data da publicação do post e
podem ter sofrido alterações. Todos os preços estão em Euros.
Quem oferece o quê:
Há duas
grandes empresas que operam o transporte de Berlim: a BVG, que é a companhia
municipal de transporte e mantém ônibus (Bus), metrô (U-Bahn), bondes (Straßenbahn)
e balsas (Fährverkehr), e a Deutsche Bahn (DB), que é a empresa federal de trem
e opera os trens rápidos (S-Bahn, que é Schnellbahn) e os trens regionais
intermunicipais (Regio). A cidade é
dividida em três zonas tarifárias: A, B e C. É possível comprar tickets para a
zona AB, ABC ou BC. A maioria dos pontos turísticos está na zona A, mas não existe
ticket individual para ela: então é preciso comprar o AB.
Ticket só vale em um sentido:
Basicamente,
quem vem fazer turismo em Berlim precisa comprar o ticket AB. Cada viagem custa
2,70 e o bilhete vale por 90 minutos em uma única direção. Ou seja, não dá para
ir do ponto X para Y e depois voltar de Y para X mesmo que ainda esteja dentro
do prazo de validade. Isso é sério: não tem desculpa. Você pode ir de X para Y
para Z e para a Cochinchina dentro da zona de validade, desde que não retorne. O
ticket ABC vale 120 minutos. O mesmo ticket, dentro da zona tarifária,
vale para todos os transportes, não importa a combinação: você pode começar a
viagem de balsa, pegar um ônibus, trocar para um bonde, seguir até o metrô e
depois trocar por um S-Bahn. Se estiver indo sempre no mesmo sentido, o bilhete
continua valendo e só e carimbado uma vez.
Onde comprar:
Para usar
trem regional, S-Bahn e Metrô (U-Bahn) é preciso comprar o ticket nas máquinas
das plataformas. Para tickets unitários, a máquina não aceita notas de 20 euros
ou superiores. Para bilhetes mais caros, as notas de 20 são aceitas, mas as de
50 não. As máquinas também aceitam pagamento em cartão de débito (rede Maestro,
etc), mas cartões internacionais geralmente dão problemas. Não conte com eles
como opção e tenha sempre dinheiro trocado junto.
Os tickets
(sejam eles semanais ou diários) devem ser carimbados ainda na plataforma. Não
se pode esquecer o carimbo! Andar com um bilhete sem carimbar é o mesmo que
andar sem bilhete. Atenção: os tickets diários e semanal são carimbados uma
única vez. Você carimba para dar início a validade deles, guarda na carteira e
só mostra se o fiscal pedir. Tickets carimbados mais de uma vez não são
válidos.
Nos bondes
(Straßenbahn), que são os veículos leves sobre trilhos e cobrem boa parte da
área que foi a Berlim Oriental, os tickets são vendidos dentro do transporte.
As máquinas dão troco, mas a maioria só aceita moedas. Nesse caso, você compra
o bilhete e não precisa carimbar. Os motoristas de ônibus também vendem
tickets, mas as opções são limitadas. Os bilhetes comprados diretamente com o
motorista não precisam ser carimbados. O embarque dos ônibus é, por regra,
sempre pela porta da frente (embora muita gente não respeite isso!) e é
obrigação do passageiro, caso já tenha o ticket, mostra-lo ao motorista.
Geralmente o motorista nem olha, mas isso não significa que não exista controle
randômico. Existe sim!
Que bilhete comprar:
A escolha
do melhor bilhete depende de onde a pessoa vai se hospedar, quantas pessoas
estão viajando juntas e quantos dias vão ficar e o que planejam visitar na
cidade. Mas basicamente é assim: existem bilhetes unitários por 2,70; bilhetes
vendidos em quatro unidades (recebe-se os 4 e carimba-se um cada vez que for
utilizar) por 9,00. Há ainda bilhetes válidos para o dia (com direito a
transporte ilimitado, em todas as direções, válido até as 3:00 do dia seguinte)
por 7,00 (unitários) ou por 17,30 (para até 5 pessoas), bilhetes semanais
(30,00), mensais válidos para o dia todo (81,00) e mensais válidos a partir das
10:00 (59,10) durante a semana e durante
o dia todo nos finais de semana e feriados.
Os tickets mensais podem ser comprados valendo para o mês todo conforme
o calendário (mesmo que o mês tenha 31 dias!) ou por 30 dias.
Para uma pessoa: Para quem for ficar até 4 dias na
cidade, o negócio é comprar um ticket diário (Tageskarte) por dia. Para 5 a 7
dias, vale o da semana e por aí vai.
Para duas pessoas: A opção mais barata é comprar os
tickets individuais para cada pessoa.
Para três ou mais pessoas: Caso o grupo tenha certeza de que
vai fazer todos os passeios juntos, vale a pena comprar os bilhetes diários de
grupo. Uma pessoa fica com o bilhete, mostra caso o fiscal pedir e informa quem
está viajando com o tal ticket.
Bilhete de turista vale a pena?
Existem
cartões para turistas válidos por 48h, 72h, 4, 5 ou 6 dias. Esses tickets dão
desconto em algumas das principais atrações de Berlim, mas observando a lista,
minha opinião sincera é de que não vale a pena, já que a maioria das atrações com
desconto são secundarias e o principal de Berlim esta nas ruas ou é de graça.
Eu, particularmente, não compraria, a não ser que estivesse planejando uma maratona de museus e atrações: nesse caso, vale colocar o valor do ingresso de
cada uma na ponta do lápis, o valor com o desconto e ver se a coisa se paga.
Para quem é
estudante e tem carteirinha internacional, o cartão de turista vale menos a
pena ainda. Existe um cartão de museus de Berlim que custa 24 euros e vale para
todos os museus mantidos pelo estado por três dias. Estudante paga 12 euros no
cartão. Então, se somar os 12 euros mais três tickets diários, são 33 euros: o
cartão de “descontos” custa 42 pelo mesmo período e vale apenas para entrar nas
atrações da Ilha dos Museus.
Transporte noturno:
Nos dias de
semana os transportes sobre trilhos encerram a meia-noite e meia e só voltam a
funcionar depois das 4:30. Durante esses horários, a cidade é servida por uma
extensa malha de linhas noturnas de ônibus, identificadas pela letra N e o
número da rota. Esses ônibus seguem uma linha próxima as linhas regulares, mas
atendem mais lugares. Por isso é importante saber também o nome das paradas de
ônibus próximas ao local para onde se quer ir: como o ônibus para mais que os
trens, é possível que exista um ponto na porta de casa. Além disso, as conexões
podem ser um pouco diferentes. Vale a pena pesquisar a melhor opção na página
da BVG.
Os tickets
diários valem até as 3:00 do dia seguinte e isso vale para a hora que você vai
desembarcar e não para a hora que está embarcando no destino inicial: ou seja, o ticket tem que valer durante todo o período que você estará dentro do transporte. Então, caso
já tenha passado das 3:00, é preciso usar um novo bilhete. O esquema é o mesmo:
embarque pela frente, mostrando o ticket ao motorista. Esses ônibus costumam ter
as conexões asseguradas: ou seja, um espera pelo outro para que você não fique
meia-hora plantado no ponto do meio da noite. O transporte é confortável,
climatizado e seguro.
Bilhetes para ir do aeroporto ao Centro
Tegel (TXL): O aeroporto Tegel, que era para ter
sido desativado em 2012 em função do novo aeroporto BER (que não se sabe se um
dia vai ficar mesmo pronto!) funciona ativamente. Fica bem próximo ao centro da
cidade e só é atendido por ônibus. Para usar esses ônibus é preciso comprar o
ticket AB.
Na porta de
saída do aeroporto há um guichê de informação da empresa de ônibus e as filas
são
sempre enormes. Caso você já saiba que bilhete quer comprar, há maquinas do
lado de fora, sem filas. Funcionários da empresa ajudam a comprar o ticket caso
tenha dúvidas. A regra de entrar pela frente nos ônibus e mostrar o ticket ao
motorista vigora nessas linhas, mas 99% das pessoas não segue. Com malas, é
mais cômodo entrar pelas portas central e traseira e ninguém reclama.
Schönefeld (SXF): Fica mais ou menos no fim do mundo.
Bom, não é verdade, exatamente. Fica na zona C e por isso é preciso comprar o ticket
ABC. Muita gente é multada por não ter o ticket da zona C, fique atento. E mais
que isso: não esqueça, em hipótese alguma, de carimbar o ticket antes de entrar
no trem ou no S-Bahn! As máquinas que carimbam ficam nas plataformas. Entrar
sem o ticket carimbado da multa e os fiscais da linha do Schönefeld não são
nada compreensivos com quem não entende o funcionamento dos transportes da
cidade.
Para ir do
aeroporto ao centro, as melhores opções são o trem regional (para pouco e chega
rapidinho) e o S-Bahn. Consulte a tabela de horários para saber qual é a linha
que vai chegar primeiro. Para os dois trens, o ticket é o mesmo ABC. Há ainda
opções de ônibus para o Schönefeld, que podem ser úteis especialmente para quem
precisa se deslocar durante a madrugada. O ticket também é o mesmo: ABC.
Partícula complementar da zona C:
Caso você
tenha comprado o ticket do dia ou da semana para a zona AB e precise ir para
algum lugar fora dessa área, basta comprar um complemento (Anschlussfahrschein)
por 1,60. É preciso carimbar esse complemento antes de entrar no transporte e,
caso o fiscal apareça em algum ponto já fora da zona AB, mostra-se os dois tickets
(o AB e o complemento). O complemento também só vale em uma direção e só vale
acompanhado do ticket principal.
Há dois destinos
turísticos bem comuns na zona C: a cidade de Potsdam, capital do estado de
Brandemburgo, onde fica o famoso castelo Sanssouci e o campo de concentração de
Sachsenhausen. Eu recomendo as duas visitas para quem for ficar mais do que
quatro dias em Berlim. Nos dois casos é preciso ter o ticket ABC ou AB +
complemento do C para chegar lá. Mas atenção: esse ticket não vale para rodar
dentro das cidades (as duas já não são mais Berlim) e é preciso comprar um
ticket local com o motorista de ônibus para chegar até as atrações.
Bicicleta paga passagem:
Caso você
esteja passeando de bicicleta e resolva levar a magrela dentro do trem para
percorrer uma distância maior, saiba que ela paga uma passagem extra. Você precisa
ter o seu ticket como as regras já explicadas e ainda comprar uma passagem para
a bicicleta. O bilhete unitário, também válido somente em uma direção (Einzelfahrschein
Fahrrad), custa 1,90. Para carregar a bicicleta no trem o dia todo, de forma
ilimitada, são 4,80. Esses tickets da bicicleta também precisam ser carimbados.
Há vagões para bicicletas nos trens e espaço para elas em muitos ônibus.
Ônibus turístico drop-on
drop-off vale a pena?
Há duas
linhas de ônibus em Berlim que percorrem praticamente o mesmo trajeto do ônibus
turístico: a 100 e a 200. Eu, particularmente, detesto esses ônibus turísticos em
qualquer lugar do planeta e em uma cidade com a malha de transporte tão boa
como Berlim, acho um desperdício de dinheiro. Só recomendo caso alguém tenha dificuldade
de locomoção ou muita preguiça de explorar.
O que pode e o que não pode
Sem ticket: Não pense em bancar o espertinho e
andar sem bilhete porque o controle é apenas randômico. Se um amigo veio, não
comprou bilhete e nada aconteceu, ele não foi experto: foi mau caráter. O
sistema de transporte funciona com o controle randômico porque as pessoas sabem
que tem um papel a cumprir. Se você não vê quase ninguém comprando bilhetes,
não é porque estão viajando sem: a maioria dos moradores de Berlim tem tickets
mensais ou mesmo anuais, ou seja, nem passam perto das máquinas de venda.
Bebidas alcóolicas: Nos transportes operados pela BVG é
proibido beber. Nos S-Bahn e trens regionais, não. Ninguém respeita isso, mas
se bater a fiscalização, pode render multa.
Comida: Comer nos transportes também não pode,
mas essa é mais uma daquelas regras que berlinense nenhum respeita. No entanto,
há poucos dias, um motorista expulsou um passageiro que estava comendo um
Dönner Kebab e a coisa virou caso de polícia.
Idosos: Os trens e ônibus têm bancos
especiais para idosos e a boa educação recomenda oferecer lugar aos mais
velhos. No entanto, na Alemanha não existe preço diferenciado ou tarifa livre para os mais velhos.
Outros espaços: Há ainda espaço para bicicletas, cadeirantes
e carrinhos de bebê, com bancos retráteis. Obviamente é preciso liberar essas
áreas sempre que necessário.
Passe de estudante: Estudantes universitários aqui pagam
um ticket semestral direto na universidade e por isso não há desconto de
passagens para quem é estudante e está apenas de visita. A carteirinha internacional
não é válida para comprar tickets de transporte com desconto, mas vale para
museus e muitas atrações.
Segurança e riscos:
O
transporte de Berlim é relativamente seguro, mas como em toda a cidade grande,
existem problemas. Nas madrugadas, evite vagões muito vazios. Há casos (raros,
mas existem) de violência randômica: grupos escolhem uma vítima aleatória e
atacam. O problema mais comum são batedores de carteira e ladrões de celular.
Há muitos casos em que a pessoa está usando o celular distraída, sentada perto
da porta e que o bandido aproveita os últimos segundos em que as portas estão
abertas para roubar o celular e sair correndo pela estação. Nas estações, evite
ainda subir escadas rolantes com objetos de valor na mochila. Ah, e por fim,
nunca compre tickets de terceiros nas plataformas: há uma grande chance de
serem falsos. No mais, aproveite Berlim!!!