Se a Alemanha é internacionalmente reconhecida por seu talento em fazer
cerveja, a francônia é o lugar da Alemanha onde se faz isso melhor. A região, que
hoje em dia representa apenas uma identificação cultural, abrange o norte da
Baviera, uma parte de Baden-Wüttemberg e o sul da Turíngia. Neste contexto fica
Bamberg, que visitei há algumas semanas junto com o maridinho Joatan. A
viagem foi para uma conferência do DAAD, mas como a agenda tinha horas livres e
um passeio turístico guiado, deu pra aproveitar bastante.
Na verdade, não costumo fazer muitos textos de cidades que visito: gosto mais de explorar por temas. Mas Bamberg é tão linda que mereceu destaque especial por aqui. Primeiro, é preciso que se entenda um pouco do porquê: o município de 70 mil habitantes passou praticamente incólume pela 2ª Guerra Mundial. Enquanto em cidades como Colônia apenas 10% das paredes permaneceram de pé, Bamberg teve apenas 4% de suas construções destruídas. Com isso, o casario medieval permanece de pé, recriando cenários de cinema em ruelas estreitas, fachadas decoradas e uma tradição cervejeira ímpar.
A mais famosa cerveja da cidade é a Schlenkerla, que dá o nome a especialidade da região: cerveja defumada (ou Rauchbier, se quiser ser entendido na hora de pedir em uma das muitas cervejarias). O gosto – parece cerveja de bacon ou há quem diga que lavaram uma linguiça na cerveja antes de servir – vem de um processo muito peculiar de secagem do malte produzido a partir da cevada. Se comumente os grãos germinados eram secos ao sol, em Bamberg, eram colocados em estufas e secos com a ajuda do fogo e, em contato com a fumaça, adquiriam os sabor distinto. Vale dizer que, se a mais famosa e antiga cerveja defumada de Bamberg é a Schlenkerla, a mais saborosa (embora mais suave) é a que se serve exclusivamente no Spezial Keller, um biergarten no alto de uma das colinas da cidade. Vale o esforço da subida para merecer degustar as canecas pesadas da cerveja.
Mas nem só de cerveja vive Bamberg. A cidade, de fé católica, é uma das
raras cidades fora do Vaticano que tem um Papa enterrado. É o Papa Clemente II
que está lá, dentro da catedral que, este ano, festeja seus mil anos de construção.
Nos arredores, há ainda construções medievais cinematográficas. Literalmente.
Bamberg foi palco da filmagem dos Três Mosqueteiros. Ao fim das contas, faltam adjetivos pra falar (bem) de Bamberg: linda,
limpa, segura, alegre, festiva, mas sobretudo, a mais preservada das cidades
medievais alemãs. Motivos de sobra para uma visita de encher os olhos... e os
copos!