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domingo, 22 de maio de 2011

Cidadania: Meu primeiro voto na Alemanha


Já faz umas quatro semanas que eu recebi, em casa, uma carta da prefeitura de Bremen e, para minha surpresa, quando vi o conteúdo, tratava-se de uma espécie de título de eleitor, convidando para participar das eleições municipais de hoje, dia 22 de maio. Então, debaixo de uma chuvinha chata, lá fui eu exercer a cidadania. Confesso que fiquei feliz com a possibilidade, não tanto por escolher os rumos da cidade – que eu nem conheço a política profundamente – mas por me sentir parte dela, incluída nas rotinas mais básicas do cidadão. Vale dizer que votar aqui é realmente um convite, já que se trata de um direito e não uma obrigação.

Desde o convite, então, passei a prestar mais atenção à campanha: algumas placas nos postes, cartazes pelas ruas e três “santinhos” na minha caixa de correio: isso mesmo, três (um pessoal e dois institucionais do partido). Por aqui o voto é por listas e você tem duas, enormes para escolher seus candidatos. Uma geral, com candidatos de toda a cidade e outra local, com os candidatos do bairro em que você vota, assegurando assim a representatividade para o parlamento. Depois de formada a bancada, é ela que elege o seu presidente, que acumula o cargo de “primeiro ministro de estado” e prefeito, já que Bremen é uma cidade-estado.

A campanha política aqui tem um tom muito diferente do Brasil. Ninguém comenta seu voto – mesmo entre amigos muito próximos – e a discussão é poucas vezes pessoal: não se fala de candidato A ou B, mas de partidos e ideias. Para ajudar os indecisos, a própria cidade oferece um serviço bem curioso: o Wahl-o-mat. Trata-se de um questionário (tipo teste de revista) em que o eleitor responde perguntas (on-line) selecionando a opção que mais se encaixa com seu ponto de vista. São 38 perguntas sobre temas tão diversos quanto energia, trânsito e educação.

Quer um exemplo? Uma das perguntas é: Você acha que Bremen e Bremerhaven devem adotar apenas matrizes energéticas renováveis? (Concordo, neutro, não concordo). Ou outra: a cidade deve abolir o limite de velocidade nas autopistas que cortam o estado? (Concordo, neutro, não concordo). E por ai vai. O sistema combina suas respostas com as propostas de cada partido e como resultado, aparece o partido que tem ideias mais semelhantes as suas. Achei o Wahl-o-mat incrível e acho que deveria ter um assim no Brasil, mesmo fora de eleições – só por curiosidade mesmo, já que são raras as pessoas que saberiam falar de qualquer partido com base em suas políticas e ideais. O Brasil precisa muito crescer nesse aspecto: política precisa ser um e embate de posturas e ideias e não um duelo financeiro e de influências.

Mas tem outro lado em que a Alemanha precisa crescer e nesse caso o Brasil é imbatível: o sistema de votação eletrônica. Por aqui a coisa é um pesadelo. A prefeitura mandou pra minha casa um modelo de cédula, para que eu chegasse ao dia familiarizada com o processo: dois livretos A4, um com 16 páginas e outro com 24 páginas. Multiplique isso por 490 mil – o número aproximado dos eleitores do estado Bremen – e por dois: já que essas cédulas foram o exemplo e, no dia, novas cédulas iguais estão disponíveis: 19.600.000 páginas impressas de modelo e o mesmo tanto para a eleição.

O processo de votar, em si, é simples: cada eleitor tem direito a cinco votos em cada um dos caderninhos: o geral e o local. Você pode dar um voto para cada candidato, todos para o mesmo, votar em uma só legenda ou espalhar seus votos pelas listas. Cheguei lá com meu título (o tal do cartão que recebi pelo correio) e sequer pediram minha identidade. No jardim de infância a lado de casa – que a própria prefeitura designou como meu loca de votação – havia duas sessões, cada uma com três cabines de votação. Fiquei surpresa com a quantidade de idosos – e quando alguém idoso chama a atenção por aqui é porque está muito perto (para mais ou para menos) dos 100 anos: afinal esse é um país de idosos.

Esperei uns 10 minutos pela minha vez, já que algumas pessoas parecem ter deixado para conferir a nominata pela primeira vez na hora de marcar os votos. Eu já havia me decidido: nos dois casos, votei na legenda que representava mais claramente as minhas ideias, já que não conheço os nomes e os valores individuais de cada candidato. Coloquei minhas cédulas em uma urna gigantesca e, na saída, fui abordada por um jornalista da ZDF. Perguntou se eu concordava em preencher um questionário informando o meu voto na lista geral e alguns dados estatísticos: faixa etária, profissão, etc. Preenchi a planilha e sai. As informações são para a famosa pesquisa "boca-de-urna", que vai ser liberada hoje a noite.

No caminho, não vi um único panfleto eleitoral. Não vi um único cabo eleitoral ou qualquer demonstração de apoio a partido ou candidato: nenhum adesivo, nenhuma sujeira pelo chão. Nada. Voltei pra casa pensando nas diferenças e, na verdade, nesse aspecto, fico novamente com a Alemanha: um embate de ideias e ideais, não a forrar o chão e entupir bueiros de papelada. De qualquer forma, eles terão muita papelada para lidar nos próximos dias: as outras 19.600.000 páginas precisam ser conferidas. Primeiro, para saber se o cidadão não votou mais do que cinco vezes – o que anula a cédula. Depois, para saber em que partido ou pessoa esses cinco votos foram dados. Com isso, não creio que o resultado saia tão cedo.

Mas o resultado, afinal, pouco importa no cenário político alemão, já que Bremen é o menor estado do país e tem apenas 1, 1% dos eleitores. Importa para mim que participei pela primeira vez do processo. E, antes que alguém me pergunte se eu votei porque sou alemã, respondo a pergunta. Não, não sou alemã, mas sou cidadã de um outro país membro da união europeia. Mas em Bremen, todos os alemães ou membros da união europeia, com mais de 16 anos (no restante do país a idade é 18 anos) e que residam legalmente na cidade por mais de três meses têm direito ao voto. Me senti incluída e satisfeita, embora tenha ficado com uma pergunta ainda por responder. Nas eleições do parlamento geral, minha cédula de votação era verde enquanto a da maioria (alemã, pressuponho) era branca. Das duas uma: ou trata-se de uma estatística para saber quantos são os estrangeiros votando ou de uma forma de separar a papelada na hora da contagem... Honestamente, prefiro acreditar na primeira opção! :)

Para saber mais sobre a eleição em Bremen, clique aqui ou aqui (sites em alemão). Se preferir, pode conferir o vídeo institucional explicando o sistema de votos que está ai embaixo (que veio do site www.5stimmen.de). Apesar de o vídeo também estar em alemão, a linguagem é bem simples e fica fácil entender.

Um comentário:

Mikelli disse...

que legal!! ate hj nao me naturalizei mas espero entregar o pedido esse ano. =) realmente a cedula parece ser bem complicada mas ainda prefiro a versao papel do que a versao eletronica no brasil, onde eu nao sei se o voto foi realmente contabilizado, ou pra onde foi ou se eles registram mesmo quem votou em quem. é tudo muito dubioso, apesar de ser pratico. bjs!

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