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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

9 de Novembro: a queda do Muro de Berlin e uma Alemanha ainda dividida


Queda do Muro: alemães tomam conta da "terra de ninguém"*

Há exatos 23 anos, em 9 de novembro de 1989, caia o muro de Berlin e a Alemanha voltava a ser um só país. Ao menos nas fronteiras e nos papéis. O muro, construído em 1961, separava a Berlin ocidental – uma ilha capitalista no coração da Alemanha comunista (a Deutsche Demokratische Republik, ou simplesmente DDR). Já escrevi sobre a história do muro aqui. Vale dizer que, na época, o que ocorreu não foi uma fusão de dois países e sim a incorporação dos ex-estados comunistas à Alemanha economicamente forte.

O 9 de novembro não é exatamente comemorado pelos alemães e, na maioria das cidades, passa em branco. A celebração da união dos dois países é em 3 de outubro, data da unificação oficial da Alemanha. A queda do muro foi a primeira abertura de fronteiras, permitindo que Ossies (da DDR) e Wessies (da Alemanha capitalista -  BRD, a Bundesrepublik Deutschland) pudessem circular sem mais restrições. Isso porque, o 9 de novembro tem uma mácula: a noite de 9 para 10 de novembro de 1938, ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, ficou conhecida como a “Noite dos Cristais”.

Foi nesta madrugada que a perseguição contra os judeus – que culminaria com o holocausto promovido pelos nazistas – ganhou corpo nas ruas. Sinagogas em todo o país foram incendiadas e estabelecimentos comerciais de judeus foram saqueados. Mais de 100 pessoas morreram nesta noite em que os destinos do país mudaram completamente.

Coincidência ou não, outro 9 de novembro marcou o calendário germânico: desta vez, em 1918, quando caia Wilhem II, o último imperador alemão, rei da Prússia. O período que se seguiu – a chamada República de Weimar – marcou os poucos anos de paz experimentados pelo país entre as duas grandes guerras (Hitler começou a demonstrar sua força já em 1923 e a democracia foi perdendo espaço para um regime totalitarista, consolidado 10 anos depois).

Viradas as páginas cheias de marcas de sangue, a Alemanha é hoje o país mais poderoso da Europa e acolhe, com seu jeito meio carrancudo, milhares de estrangeiros, como eu, que por motivos diversos acabam por chamar a “Vaterland” de casa. No entanto, uma olhada para dentro das fronteiras dessa força europeia não revela exatamente uma unidade.

A diversidade cultural é grande. Norte e Sul são completamente diferentes. Um gosta de Grünkohl, o outro não vive sem Sauerkraut. Mas a diferença é ainda maior entre Leste e Oeste. Embora o fim das fronteiras tenha assegurado a todos o direito de ir e vir, não se pode generalizar gostos ou comportamentos. O Oeste é mais caro, mais desenvolvido. No Leste, os sorrisos brotam mais facilmente.

Tive a oportunidade de viver nos dois lados e ainda em Berlin, onde as diferenças estão até hoje nas fachadas e é fácil saber em qual das duas Berlin se está apenas de olhar em volta. Em Weimar, coração verde do país – e onde o muro parece ter caído muito tempo depois – as marcas da DDR ainda são mais fortes: nos conjuntos habitacionais de paredes muito finas, nas roupas que as senhoras ainda usam para trabalhar em casa, nos produtos de marcas muito específicas no supermercado, nas sinaleiras com o Ampelmännchen mas, especialmente no discurso de quem tem saudades do tempo em que se podia comer em um restaurante por apenas um Marco.

* Foto de Sue Ream, originalmente publicada aqui, licenciada pelas normas do Creative Commons

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