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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Choque cultural: sono, raiva, angústia fazem parte do processo de adaptação


Adaptação intercultural é assunto de pesquisas bastante sérias. Os processos são tão comuns entre quem decide viver em outro país que podem ser praticamente medidos e existe um gráfico para representar esse processo. É um erro pensar que isso não vai acontecer com você: vai. E dói. Mas dá pra sobreviver. Importante é saber que esse é um processo natural e não se desesperar.

Claro que esse choque não é o mesmo em todos os países. Quanto mais diferente for a cultura originária da cultura da nova casa, maior vai ser o impacto. Vale até observar essa tabela que cria algumas referências para perceber um pouco do que distancia uma cultura da outra e assim prever o choque.

Tipos culturais: o modelo de Lewis, publicada originalmente aqui

Brasil e Alemanha estão em vértices opostos do triângulo, o que deixa claro que as diferenças são marcantes. Mas na chegada a Alemanha tudo parece perfeito. A primeira fase da vida por aqui é de lua-de-mel. Uma mistura da euforia da viagem, uma nova casa, uma nova vida, tudo colabora para criar uma aura mágica. A burocracia toda da chegada – fazer o registro na prefeitura, abrir conta em banco, contratar plano de saúde, fazer a matrícula da faculdade, dar entrada no visto – afetam o bom humor. Mas a aventura de ir ao mercado, de andar por ruas novas, conhecer pessoas supera.

É comum nessa hora nascer uma paixonite pelo novo país e um questionamento da própria cultura. É um período de deslumbramento com o novo. Já vi muito brasileiro recém-chegado com um discurso chato de negação das raízes, mas isso logo passa. Como a maioria chega por aqui para começar as aulas entre setembro e outubro, no chamado semestre de inverno, depois dos primeiros dois meses vem o frio e com ele a escuridão. Esse período de tempo coincide justamente com a queda da curva do choque-cultural e para quem vem do calor, os sentimentos acabam potencializados.

Essa fase tem sintomas de depressão. São aquelas noites em que a saudade aperta e a gente deita no travesseiro se perguntando porque saiu de casa. É comum se sentir bastante sonolento (ainda mais pelas poucas horas de luz), cansado. O esforço mental para viver a vida em um outro idioma é bem maior e até enviar um simples e-mail parece uma tarefa complicada. Conheço gente que entrou em períodos de hibernação, dormindo doze horas por dia e só saindo pra comprar comida. É preciso ficar atento e lutar contra esses sintomas. Claro que a adaptação requer energia extra, mas não vale se trancar em casa e achar que o mundo lá fora vai voltar a ser como na casa da mamãe.

Tempo x satisfação: a adaptação a nova cultura, publicada originalmente aqui

Essa reclusão é mais ou menos o fundo do poço: é quando tudo no novo país irrita e quando tentamos provar (para nós mesmos!) que a nossa cultura originária é melhor. Embora os especialistas digam que faz parte do processo, acho que muita gente reage (eternamente) às diferenças assim: achando que o mundo inteiro tem que se adaptar à forma como está acostumado a fazer.

Dos três aos seis, sete meses de Alemanha é a fase em que nada presta. Nessa hora o importante é evitar a tentação de se juntar com outros estrangeiros para falar mal o tempo todo dos alemães e da Alemanha. A tentação é grande, mas é preciso lembrar que ninguém chegou aqui amarrado: todo mundo veio porque quis e pode voltar se quiser.

Mas passada a inquietação maior – que geralmente coincide com a chegada da Primavera, inicia a outra fase: a dos ajustes culturais. Nessa hora, vale descobrir como fazer feijoada sem importar nenhum ingrediente. Vale adaptar receitas locais a um paladar mais abrasileirado, mas é importante aceitar que o mundo não vai mudar por sua causa.


E por fim, depois dos ajustes, vem a calmaria: a adaptação. Nessa hora – depois de um ano, mais ou menos – as regras do novo país passam a fazer um pouco mais de sentido. O idioma estrangeiro deixa de ser um problema maior e os dias entram em sua rotina: o restaurante favorito, os amigos que ajudaram nas horas duras, o parque florido, os planos para a próxima viagem...

4 comentários:

Mirian Voloski disse...

Muito bom! Mostra quais são as fases pelas quais se passará, e que isso é normal. Com paciência e perseverança, logo a gente acha o jeito de se ajustar às situações. Obrigada pelas dicas preciosas.

Anônimo disse...

Ivana, adoro seu blog, cheio de informações e curiosidades.
Esse post é motivador, pois percebemos que não é somente com nós que isso acontece, mas com a grande maioria dos imigrantes e dá animo para continuar e não desistir.
Obrigada, bjs

Unknown disse...

Ivana, seu blog é muito precioso!
Acabei de tropeçar no seu delicioso post sobre feijoada (Couve de Kohrabi eu já conhecia, o resto é novidade!) e vi que tem post super didático sobre ALDI, com fotos! Vou ler tudo com calma.
Sobre choque cultural: gostei principalmente do seu estilo sóbrio de texto, sem maniqueísmo e achismo, mas com opinião, muito bem temperado..
Vou ler os outros posts!

Abraço aqui de Lüneburgo

Unknown disse...

Parabéns pelo post! Muito útil! Obrigado por compartilhar essas experiências :)

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