Já estou instalada em Berlin e até já recebi visita. De certa forma, isso significa estar em casa e adiciona mais uma linha ao meu repertório de não saber mais onde é meu lugar. Considerando apenas as primeiras impressões, diria que meu lugar é nesta cidade grande e cinzenta, mas ao mesmo tempo acolhedora. Mas as primeiras impressões são perigosas e esse post é pra falar exatamente disso: das primeiras impressões que tive, mas não aqui e sim quando cheguei no Brasil.
Já falei aqui das diferenças entre um e outro país e as vantagens de cada um deles. Mas preciso adicionar alguns itens que ficaram de fora da lista, esquecidos na época pelos três anos que fiquei longe dos trópicos ou pelo romantismo que nos invade com a distância. Vamos a eles, então. E depois disso, prometo que não falo mais de Brasil e volto a dedicar esse espaço às aventuras pela Nave Mãe.
Em primeiro lugar é preciso que seja dito: o Brasil é um país extremamente barulhento. Nos meus primeiros dias achei que ia ficar maluca e, volta e meia, precisava correr para o quarto, fechar a porta e ficar cinco minutos em silêncio. A regra brasileira é: você chega em casa e liga a televisão, de preferência em um volume ensurdecedor e então começa a conversar com as pessoas que estão em volta em um volume ainda mais alto. Some isso a mães aos berros com crianças, carros buzinando, ônibus com motores a diesel que parecem turbinas de avião e os malditos carros de som com propaganda até mesmo nas ruas mais pacatas e longe do centro da cidade.
Vamos somar a essa lista o problema dos brasileiros com o relógio: alô, pontualidade mandou lembranças! Eu entendo que tem trânsito, que o ônibus não funciona direito... mas eu não entendo você marcar as 10 e a pessoa chegar as 10h45 achando que está tudo perfeitamente em ordem. SMS, telefone? Oi! Ou marca mais tarde de uma vez... Meu tempo vale tanto quanto o seu! E nesse item tem ainda algo pior: a pessoa telefona, marca o compromisso – que pode ser o de ir na sua casa, sair ou uma festa –, confirma e não aparece. Alo???
Tem também quem aparece demais. Aparece sem avisar. E pode me chamar de chata a essa altura do post: se estiver sem paciência, agradeço a leitura até esse ponto e convido para voltar no próximo post, já que vou reclamar mais um pouco por aqui. Neste período de férias eu trabalhei em um jornal de Blumenau, o Santa, como colunista, durante a Oktoberfest (você pode ler as colunas aqui), mas produzia meu material de casa. Assim, mesmo em casa, eu estava trabalhando (como sempre fiz aqui na Alemanha) e, para a grande maioria do mundo, estar em casa é folga: a pessoa chega na sua casa para fazer uma visitinha espontânea e não se dá ao trabalho de perguntar se você pode recebê-la naquele momento. Quer me visitar de surpresa? Hmmmm... tá, ok. Mas liga 10 minutos antes e pergunta se eu tô de saída ou com rolos na cabeça. Juro que vou fazer o possível pra receber quem eu gosto e ainda passar um café fresco pra tomar com o visitante.
E tem a última reclamação. O Brasil é um país caro, caríssimo. Alguém pode me explicar a barbaridade que são os preços de tudo e qualquer coisa nas lojas e no supermercado? Fora as frutas (hmmm, que delícia) e a carne bovina, tudo é muito mais barato na Alemanha, mesmo em tempos de Euro carinho. Produtos da cesta básica, material de limpeza, leite, queijo, enfim... tudo. Fiquei chocada com os preços.
Além disso, paga-se muito caro e a qualidade é pouca. A diferença maior entre qualquer coisa que encontro aqui na Alemanha e no Brasil está na qualidade. E isso vale para bens duráveis ou de consumo. Vale também para os serviços, as obras, a educação. Os dois mundos não são tão diferentes, mas o diabo mora nos detalhes. Não se trata de falar mal do Brasil o post inteiro (tá, eu acho que fiz isso!), mas de mencionar as sutilezas e as lapidadas que fariam dessa terra rica, linda e cheia de alegria um lugar ainda melhor pra se viver.
E que fique claro: estou feliz e empolgada com essa Berlin cheia de encantos, mas já estou morrendo de saudades do Brasil.
Ps.: A foto que ilustra o post foi "emprestada" daqui.
2 comentários:
Pó assinar embaixo?
Quando estive no Brasil, depois de dois anos de ausência, quase fiquei louca com barulhada e preços.
E tem gente que mora pras bandas de cá e acha que ainda o Brasil está barato. Ou é só lá na nossa Santa e Bela Catarina, oder?
Me lembro ter ligado para uma tia perguntando se poderia passar na casa dela dali a meia hora, ela achou TÃO ESTRANHO! Eu também me senti estranho, afinal, a regra é dar uma passadinha de surpresa na casa alheia, rs.
De repente me achei tão chata lá :-(
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